Os Tópicos Específicos da Área Organizacional
Por: Valeria Val • 6/5/2018 • Artigo • 3.862 Palavras (16 Páginas) • 160 Visualizações
Programa de Formação em Análise Transacional - Área Organizacional
AT 202 Cascavel 2015-2017 Coord: Andréa Lindner e Laucemir Silveira
Tópicos Específicos da Área Organizacional
Estudo Comparativo da Análise Transacional com outras teorias
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Valeria Przybyszewski
RELACIONAMENTO ENTRE PROFESSOR E ALUNO
Agosto / 2016
Introdução
O presente paper tem o objetivo de mostrar como o relacionamento entre professor e aluno pode se beneficiar com a teoria da Análise Transacional em um link com a Pedagogia Sistêmica embasada no Pensamento Sistêmico de Bert Hellinger e aplicada pela primeira vez por Marianne Franke, pedagoga alemã e terapeuta de Contelações Familiares com seus alunos em uma escola na Alemanha. Se pensarmos o que levamos para a escola no nosso primeiro dia de aula hoje com a maturidade adquirida após o estudo da AT diríamos que levamos muitas coisas: levamos a história de muitas gerações, alegria, orgulho, expectativas, vontade de aprender, insegurança e apreensões. Levamos ainda os sonhos de nossos pais e também suas inseguranças e ainda nossos estados de Ego, nosso Script e nossas Emoções.
O PENSAMENTO SISTÊMICO SEGUNDO BERT HELLINGER
Segundo Marianne Franke (2014, p.20) em seu livro “Você é um de Nós” a Pedagogia Sistêmica defende a ideia de que quando o(a) professor(a) olha nos olhos dos pais, com respeito e reverência a tudo que pertence àquela família e diz, conectada com seu coração: “Fiquem tranquilos, cuidarei do seu bem mais precioso! Obrigada por confiar em mim!” Os pais encontram uma aliada, um aliado, alguém em quem eles podem confiar. A criança se sente amada, aceita, com sua auto-estima elevada, com seu estoque de Carícias preenchido e assim ela poderá aprender. Trazendo esta ideia aos olhos da Análise Transacional (AT) o professor se coloca em uma posição OK/OK ou +/+ com relação aos pais, estando em equilíbrio.
Marianne Franke coloca que Bert Hellinger é um Pedagogo, Teólogo, 90 anos, alemão, ex-prisioneiro e fugitivo de um campo de concentração na Alemanha, que após a guerra tornou-se padre e foi missionário na África do Sul, é um estudioso das relações humanas. Uma das coisas que o impressionou ao conviver com os Zulus é a forma em que um Zulu cumprimenta o outro. Eles param um na frente do outro, se olham por algum tempo e dizem um para o outro: “Eu vejo você!”.
Isso tocou Hellinger profundamente. Eles realmente se viam e cada um reconhecia no outro sua história, sua família, seus medos, seus anseios e suas alegrias. Um, de fato, existia para o outro. Um olhava através dos olhos do outro. Assim sendo, se sentiam pertencentes àquela tribo, àquele lugar e isso trazia paz nas relações. Muito diferente da realidade vivenciada por ele na Alemanha.
Hellinger deparou-se com um fenômeno que foi primeiro apresentado pela psicoterapeuta americana Virginia Satir nos anos 70, que trabalhava com o seu método das “Esculturas Familiares”. Neste trabalho uma pessoa estranha, convocada a representar um membro da família, apresenta sentimentos tal qual a pessoa a qual representa, reproduzindo muito comumente, sintomas físicos, mesmo sem saber nada a respeito dela. Esse fenômeno, já havia sido descrito anteriormente por Levy Moreno, criador do psicodrama. Algumas hipóteses têm sido levantadas também utilizando-se da teoria de evolução dos "Campos Morfogenéticos", formulada pelo biólogo britânico Rupert Sheldrake e apoiando-se em conceitos da Física Quântica. De acordo com Silvio Hendges em seu artigo “A Teoria dos Campos Mórficos do Biólogo Rupert Sheldrake” os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam informações, não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade depois de ter sido criado. Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de organização inerente.
O Pensamento Sistêmico de Hellinger é também respaldado por estudos mais recentes de Psicogenealogia e Epigenética. Epigenética, segundo Marcelo Fantappié (2013) em artigo publicado na revista Carbono #3, é definida como modificações do genoma que são herdadas pelas próximas gerações, mas que não alteram a sequência do DNA. Por muitos anos, considerou-se que os genes eram os únicos responsáveis por passar as características biológicas de uma geração à outra. Entretanto, esse conceito tem mudado e hoje os cientistas sabem que variações não-genéticas (ou epigenéticas) adquiridas durante a vida de um organismo podem frequentemente serem passadas aos seus descendentes. Já a Psicogenealogia segundo Ana Garlet (2016) é o estudo da árvore genealógica que vai muito além do registro de datas e nomes. Ela olha para além do genograma, ou seja, trabalha com os vínculos, laços, dificuldades, eventos importantes, traumas e segredos que estão envolvidos na história de cada ser humano. A autora Anne Ancelin Schutzenberger costuma dizer que somos menos livres do que pensamos, pois, de alguma forma somos marcados de forma definitiva pela história do grupo familiar ao qual pertencemos. (http://psicogenealogia.com.br/ acesso em 08/08/2016)
Hellinger adquiriu experiência e, baseado ainda na técnica descrita por Eric Berne e aprimorada por Fanita English de “Análise de Script”, descobriu que muitos problemas, dificuldades e mesmo doenças de seus clientes estavam ligadas a destinos de membros anteriores de seu grupo familiar.
Bert Hellinger relata que os pensamentos e ações das pessoas estão vinculadas a um campo e este determina as percepções da realidade. Neste campo há certa liberdade de ação, mas não é possível abandoná-lo e é baseado neste pensamento que a Pedagogia Sistêmica parte do pressuposto que se temos 20 estudantes em uma sala de aula na verdade temos 60 pessoas para nos relacionar, pois cada um traz consigo seu pai e sua mãe. (FRANK, p.22) Comparando com a AT e falando em estado de Ego Pai, o qual sabemos que é também desenvolvido a partir das Transações e experiências vividas com nossas próprias figuras parentais, podemos estabelecer um ponto em comum entre as duas teorias.
Olinda Guedes (2015) em seu livro “O que traz quem levamos para a Escola” faz o seguinte questionamento: E nós, enquanto educadores, educadoras, realmente vemos os nossos alunos? Damos um lugar no coração a tudo que a criança traz em sua mochila e em seu coração? Temos um lugar de amor para nossa própria história, para nossos, para suas dores e suas alegrias?
Os Três Princípios do Pensamento Sistêmico de Hellinger
- Pertencimento
Guedes e Franke afirmam que segundo Bert Hellinger nada pode ser excluído e este é o primeiro Princípio do Pensamento Sistêmico: o Pertencimento. Segundo Franke só podemos nos empoderar da função de professor(a) quando damos um lugar no coração aos nossos pais, quando dizemos sim à nossa história e a aceitamos do jeito que é. Só assim podemos aceitar e amar as crianças depois de aceitarmos a nossa realidade do jeito que ela é. É preciso ver a realidade tal qual ela se apresenta, porque tudo está ligado a um contexto mais amplo, que vai além da nossa percepção; e tudo é movido por algo maior e está a serviço da vida. Este princípio diz respeito à inclusão, ao direito de pertencer e as dinâmicas consequentes da vivência ou da violação deste princípio. O pertencimento será vivenciado na forma de paz ou haverá conflito para que o mesmo não seja esquecido. Neste sentido o professor precisa estar em ressonância com seus estudantes. Se o estudante percebe que o professor o aceita e o inclui no sistema escolar, aceitando sua família tal como ela é, aceitando e honrando seus pais tal como eles são, sem julgamentos o aprendizado acontece.
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