PRÁTICAS EDUCATIVAS NA INFÂNCIA DO MST
Por: Everton Alex • 17/5/2015 • Artigo • 4.079 Palavras (17 Páginas) • 160 Visualizações
PRÁTICAS EDUCATIVAS NA INFÂNCIA DO MST (por extenso)
Resumo
O presente artigo busca apresentar resultados de um exercício de pesquisa no âmbito da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica III, que tem a ênfase em Movimentos Sociais. O objetivo geral deste exercício de pesquisa foi estudar a dimensão educativa dos Movimentos Sociais, enquanto organizações que formam/constroem novos sujeitos, a partir da educação infantil. Como objetivo específico buscamos compreender as práticas educativas utilizadas pelos Movimentos Sociais na Educação Infantil. A metodologia de coleta de dados no campo teve por base a observação participante com uma estadia de 40 (quarenta) horas de cada estudante envolvido, na perspectiva de conhecer e se aproximar da questão da educação dentro dos movimentos sociais do campo. O método de pesquisa utilizado foi o Método do caso Alargado de Boaventura de Sousa Santos. As nossas conclusões apontam para a escola itinerante, as cirandas e as místicas como práticas e pedagogias fundamentais da educação.
Palavras-chave: Infância. Práticas Educativas. Movimentos Sociais. Educação no Campo.
INTRODUÇÃO
Quando se fala em educação infantil, automaticamente somos remetidos a pensar acerca da infância. Observando o nosso cenário educativo contemporâneo, parece-nos imprescindível considerar que a infância das crianças do campo em muito se diferencia da infância nas áreas urbanas. Agregando à infância do campo, a luta pela terra, a defesa de suas idéias e a busca de seus direitos como direitos de todos, desdobram-se aos nossos olhos, as particularidades da formação política e pedagógica que as crianças pertencentes aos Movimentos Sociais recebem. Uma formação singular, que devido o seu valor político e ideológico provoca inúmeros questionamentos por sujeitos não-integrantes de Movimentos Sociais e, sobretudo, indiferentes às suas causas de luta.
Trata-se de uma educação que reconhece na infância seres autônomos, capazes de torná-los agentes responsáveis pelas mudanças que a sociedade necessita para atingir a justiça social, que desde muito cedo insere nos crianças-educandas princípios esclarecedores da necessidade da luta e conquista de uma educação situada dentro dos seus espaços de luta. Onde os educadores sejam militantes, preocupados com a transformação e promoção da cidadania de seus alunos. Uma escola que vise fugir aos currículos e programas educacionais tradicionais que os expulsam do sistema educativo público por não contextualizar-se com as realidades e trajetórias políticas de seus sujeitos. Uma formação que almeje formar indivíduos conscientes da perturbadora desigualdade social que assola impiedosamente o nosso país.
Diante do exposto, este artigo resultado de um exercício de pesquisa realizado no âmbito da graduação pretende oferecer reflexões para a seguinte pergunta: “Quais as principais práticas orientadoras da Educação Infantil dentro dos Movimentos Sociais na atualidade”?
1. A ESCOLA E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NOS MOVIMENTOS SOCIAIS – REFLEXÕES TEÓRICAS
A educação nos Movimentos Sociais necessita ser pensada como uma educação diferenciada e específica. Uma educação que forneça, sobretudo, amplo sentido no processo de formação humana, construindo “referências culturais e políticas para a intervenção das pessoas e dos sujeitos sociais na realidade, visando a uma humanidade mais plena e feliz” (KOLLING et all, 1996, p. 24).
A escola sob a ótica dos Movimentos Sociais necessita ser uma instituição educativa preocupada tanto com a formação humana, acordando com MAKARENKO (2002)
Os objetivos do nosso trabalho devem ser expressos através das qualidades reais das pessoas educadas sob nossa orientação pedagógica. Cada pessoa por nós educada constitui o resultado da nossa produção pedagógica (p. 271).
Certos processos educativos jamais poderão realizar-se dentro de uma escola, pois ultrapassam os limites do espaço físico destinado as salas de aula:
Educação não é sinônimo de escola. Ela é muito mais ampla porque diz respeito à complexidade do processo de formação humana, que tem nas práticas sociais o principal ambiente dos aprendizados de ser humano (MST, BOLETIM DA EDUCAÇÃO, 2004, p. 26).
A escola que comporta a educação dos Movimentos Sociais é aquela em que “o conteúdo básico da aprendizagem é a compreensão, interpretação, explicação e projeção da transformação da existência no sentido de torná-la cada vez mais humana” (FREIRE apud SOUZA, 2004, p. 17), que não finda em si mesma, por assumir o vínculo com o movimento educativo da vida, em movimento. Não estamos querendo dizer com isso, que existe um modelo próprio, pronto e imutável de escola dentro dos Movimentos Sociais. nos referimos bem mais a um
Jeito de ser escola, uma postura diante da tarefa de educar, um processo pedagógico onde todos realmente têm o que aprender e o eu ensinar, sempre e o tempo todo... Uma escola em movimento, movimento próprio da formação humana, e próprio dos sujeitos sociais e humanos que a fazem (MST, BOLETIM DA EDUCAÇÃO, 2001, P. 06).
A escola proposta pelos Movimentos Sociais pensa a escola como lugar de formação e transformação humana, os valores, que são princípios e convicções de vida, movedores de nossas práticas, nossas vidas, nosso ser humano e reprodutores nas pessoas, da necessidade de viver pela causa da liberdade e da justiça, nas escolas dos Movimentos Sociais, passam a ter lugar central, em consenso com SOUZA (2004) quando este afirma que:
Toda a finalidade acadêmica de quaisquer processos educativos é a interpretação, compreensão, explicação e expressão (artística, matemática e verbal) da realidade pessoal, social e da natureza de que o ser humano necessita no seu processo de humanização (p. 17).
Nestas, valores e educação são indissociáveis, os sentimentos cultivam os valores. A sensibilidade diante das causas do ser humano já é em si, um valor e um aprendizado que humaniza, bem como a formação de relações afetivas saudáveis entre as pessoas. Os Movimentos Sociais esperam que as práticas educativas desenvolvidas em suas escolas
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