PROJETO MULTIDISCIPLINAR
Por: Duda2003 • 1/5/2015 • Trabalho acadêmico • 5.772 Palavras (24 Páginas) • 242 Visualizações
Aula-tema 3: Currículo integrado
Vimos até agora a necessidade de transformar a escola, de aprender a relacionar conhecimentos e de interpretar e solucionar problemas reais. O que veremos nesta aula-tema é a proposta de um currículo integrado como meio de atender a essas necessidades, reorganizando os conhecimentos da escola.
As informações sobre esse tema encontram-se no Capítulo II – "A transdisciplinaridade como marco para a organização de um currículo integrado", nas páginas 50 a 60 do livro-texto.
Diferentes propostas de reorganização do currículo escolar foram feitas ao longo dos anos como tentativa de superar os limites do currículo disciplinar. O currículo integrado é uma dessas propostas. O que é comum a todas elas é a aproximação da aprendizagem a situações de vida real, que auxilia os alunos na resolução de problemas por meio dos conhecimentos aprendidos e favorece que eles continuem a aprender por toda a vida.
Um currículo integrado, como proposto por Hernández (1998)[1], permite aos alunos organizar os conhecimentos produzidos por disciplinas específicas e os saberes de fora da escola – como o senso comum –, favorecendo a aprendizagem de estratégias de busca, interpretação e representação de informações. Essa aprendizagem permite ao aluno compreender a realidade em um sentido mais amplo.
No entanto, Hernández se preocupa em dizer que um currículo integrado não costuma ser aceito pelos educadores que acreditam na maior eficiência do currículo disciplinar.
Aqueles que são contra o currículo integrado, de abordagem transdisciplinar, afirmam, entre outros fatores, que o conhecimento fica desordenado, uma vez que não são seguidas as linhas de pesquisa ou de produção de conhecimentos disciplinares.
Em resposta a essa e outras críticas, Hernández apresenta argumentos a favor do currículo integrado, afirmando que ele contribui para o ensino e a aprendizagem por estimular o envolvimento de alunos e professores, evitar a repetição de temas e favorecer o intercâmbio entre docentes.
Hernández não descarta os argumentos dos defensores do currículo disciplinar, apesar de se posicionar claramente a favor do currículo integrado. No entanto, é claro para o autor que o que deveria servir como critério de decisão por um currículo integrado ou um currículo disciplinar é sua adequação à realidade, isto é, a capacidade de restabelecer o significado do saber escolar.
Segundo o autor, a solução de problemas da vida real exige dos alunos a capacidade de transcender os limites de diferentes disciplinas e de organizá-los de acordo com a realidade que se apresenta; assim eles aprenderiam mais sobre o mundo e sobre si mesmos. Para Hernández, essa é a razão pela qual os currículos integrados são capazes de melhorar a escolarização.
Portanto, o que se assume como principal função de um currículo integrado é favorecer a capacidade de interpretar os conhecimentos que se encontram nas experiências substantivas de aprendizagem. Com esse enfoque, a interpretação passa a ser um dos principais objetivos de ensino e a pesquisa, um dos principais caminhos para ensinar.
Assim, os alunos partem da realidade, entram em contato com diferentes produtos culturais – uma obra de arte ou um texto científico –, pesquisam as origens desses produtos, propõem interpretações e formulam novas perguntas a ser pesquisadas para se aproximar de uma solução para a realidade estudada.
No ensino com currículo integrado não há, portanto, uma sequência de conhecimentos, conteúdos ou formas de organizar os conhecimentos preestabelecidos. A aula é um "lugar" em que se constroem discursos e interpretações da realidade; e a realidade é complexa, formada por múltiplas interações entre contextos sociais e culturais, interesses, personalidades e experiências de vida.
A organização do currículo integrado, baseada na noção de rede e de ideias-chave, ultrapassam os limites de uma disciplina. Os temas são escolhidos a partir de conhecimentos disciplinares diversos reunidos em ideias-chave. Essas ideias-chave se transformam em temas-problema a ser pesquisados e, a partir daí, os alunos construiriam uma rede de conexões e relações entre elas.
Com todos esses aspectos, é possível verificar que para a execução de um currículo integrado é necessário compartilhar o pressuposto de transdisciplinaridade, e, portanto, enfrentar muitas resistências do sistema escolar.
As duas Web Aulas desta aula-tema, as leituras e atividades indicadas poderão ajudá-lo a aprofundar a noção de currículo integrado e sua relação com a transdisciplinaridade.
Bom trabalho!
Conceitos Fundamentais
Currículo disciplinar
Organização de conteúdos e conhecimentos vinculados a disciplinas acadêmicas. Esse formato é tradicionalmente utilizado desde a elaboração de currículos escolares até a construção de livros-texto e organização de universidades. Currículos separados em áreas do saber, tais como Biologia, Matemática, Física etc., com aulas específicas para a transmissão desses conteúdos são prioritariamente disciplinares.
Currículo integrado
Proposta de organização com base na ideia de integração de conhecimentos disciplinares e não disciplinares levando-se em conta temas-problema, o que prioriza a relação da aprendizagem com a realidade (com o mundo "fora" da escola). A construção de um currículo integrado parte da noção de transdisciplinaridade e procura atender às necessidades de mudança apresentadas pelas transformações da realidade, que exigem a capacidade de aprender por toda a vida (mesmo fora da escola) e de compreender as situações sociais.
Compreender
Compreender está intimamente relacionado a "dar sentido". Para compreender, em sentido mais amplo, é necessário saber buscar, ordenar, relacionar, explicar, generalizar, aplicar o conhecimento à realidade, estabelecer analogias e representar essas informações de um novo modo.
Interpretar
Interpretar, conforme o sentido empregado por Hernández, é uma habilidade básica em um currículo integrado, é o que permite a compreensão. Interpretar é possível (e necessário) sempre que se está diante de diferentes versões de um fenômeno humano. Ao interpretar um fenômeno, buscam-se conhecer suas origens e determinações dentro de uma perspectiva cultural.
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