PSICANÁLISE DE CRIANÇAS: HISTÓRICO E REFLEXÕES ATUAIS
Por: Beatriz Basso • 5/9/2021 • Trabalho acadêmico • 4.930 Palavras (20 Páginas) • 165 Visualizações
Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera
São Paulo, v. 5, p. 1-8, jan/jun. 2013
PSICANÁLISE DE CRIANÇAS: HISTÓRICO E REFLEXÕES ATUAIS
Maíra Bonafé Sei , Maria Fernanda Vasques Cintra¹
Universidade Estadual de Londrina – UEL
Rodovia Celso Garcia Cid – BR 445 km 380 – Campus Universitário - Londrina/PR mairabonafe@gmail.com
Resumo
O presente artigo almeja apresentar um histórico da Psicanálise de Crianças, com foco em autores clássicos da psicanálise inglesa e argentina. Trata-se de um estudo teórico que buscou revisitar a literatura básica sobre o tema, de maneira a apontar especificidades desta técnica e tecer reflexões sobre esta prática na atualidade. Espera-se, com este estudo, contribuir para o aprimoramento de profissionais que atuam em psicoterapia de crianças a partir do referencial psicanalítico.
Palavras-chaves: Psicanálise, Criança, Brincar.
Abstract
This paper aims to present a history of Child Psychoanalysis, with a focus on classical authors of psychoanalysis English and Argentine. This is a theoretical study that sought to revisit the basic literature on the subject, so the point of this specific technique and weaving thoughts on this practice today. It is hoped this study contribute to the impro vement of professionals working in child psychotherapy from psychoanalysis.
Keywords: Psychoanalysis, Child, Play.
Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 5, p. 1-8, jan/jun. 2013
1. Introdução
A Psicanálise configura-se como um cam po de atuação que vem se construindo há mais de cem anos, desde que seu criador – Sigmund Freud – delineou suas primeiras ideias. Ao longo dos anos foi possível perceber um intenso desenvolvimento, com o surgimento de teorias que complementam os pressupostos iniciais, com abrangência da população que pode ser beneficiada por meio da Psicanálise.
Neste sentido, pode-se dizer que a Psica nálise de Crianças se configura como uma área que apresentou este desenvolvimento, com o público in fantil podendo também ser contemplado por interven ções psicanalíticas das mais diversas ordens, desde a psicanálise com várias sessões semanais até as consultas terapêuticas propostas por D. W. Winnicott. Para tanto, foi necessária a realização de adaptações quanto à técnica empregada no atendimento de crian ças, com oferta de novas linguagens para a comuni cação no setting analítico tais como o brincar e o gra fismo. Ademais, novos constructos teóricos têm sido constantemente esboçados.
A partir deste panorama inicial, objetiva-se, por meio deste trabalho, realizar um estudo teórico acerca da Psicanálise de Crianças, com foco nos autores clás sicos da psicanálise inglesa e argentina, com inclusão do último grupo devido às influências por estes exerci das no contexto brasileiro. Serão englobados o histórico desta prática e suas principais correntes teóricas, além de se tecer reflexões acerca desta prática na atualidade. Almeja-se com esta revisão subsidiar interessados na área, primando por uma qualificação das práticas em preendidas na Psicanálise de Crianças, visto que esta se apresenta como um método distinto do trabalho com adultos. Neste sentido, pontua-se que o brincar ocupa um lugar de destaque, especificidade esta que será abordada ao longo do texto. Quanto à relação terapêu tica, considera-se que no interior desta tem-se a criação de um espaço potencial no qual as duas pessoas – tera
3
peuta e paciente – tenham a possibilidade de brincar juntas. Somente através da brincadeira, o paciente pode desenvol ver sua criatividade, visão desenvolvida a partir da teoria win nicottiana e retomada por outros autores (FELICE, 2003).
2.Histórico da Psicanálise de Crianças
Como exposto, a teoria psicanalítica se iniciou com Freud, a partir de métodos focados no adulto e posteriormen te se deu o desenvolvimento no campo de análise de criança. Compreende-se que as descobertas de Freud sobre as crian ças se deram por meio do atendimento de adultos, visto que a partir destes observou que as primeiras causas dos trans tornos se localizavam em fatos da infância (ABERASTURY, 1996).
Após traçar o primeiro esquema de desenvolvimen to, confirmou suas considerações após o atendimento de um menino de 5 anos por intermédio do pai, o famoso caso do pequeno Hans (FREUD, 1909/1996). Em função do relato verbal da criança ser menos amplo que o de adulto, dificultan do a associação livre, passou a buscar meios que permitisse o acesso ao inconsciente (ABERASTURY, 1996).
Com base nas reações favoráveis a partir das inter pretações feitas pelo pai do menino, o caso passou a indicar para Freud possibilidades e potencialidades do tratamento psicanalítico infantil. Com isso, considera-se que o caso do menino Hans proporcionou uma construção teórica de que eventos traumáticos infantis podiam gerar possíveis proble mas emocionais futuros, já na fase adulta (COSTA, 2010).
Na história de Hans, muitas de suas intepretações referem-se a brincadeiras, sonhos e fantasias. Freud des creveu a essência do brinquedo como forma de colocar em movimento situações de angústia e vivências traumáticas. A criança não brinca apenas com aquilo que é prazeroso, mas também como uma estratégia para repetição de situações que consideradas dolorosas (ABERASTURY, 1996).
Mais tarde Freud reconhece que o tratamento feito em adultos deve ser feito de maneira distinta em crianças.
Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 5, p. 2-8, jan/jun. 2013
4
É necessária uma série de adaptações na técnica, em fun ção da constituição do mundo interno de cada um deles (AVELLAR, 2004). Assim, após os estudos de Freud por meio das anotações do pai de Hans, surgiram outras teóricas como Anna Freud e Melanie Klein que deram continuidade a estes estudos, que possibilitaram o desenvolvimento posterior de uma técnica psicanalítica infantil.
Vale pontuar que a psicanalista Hermine von Hug -Hellmuth foi considerada a primeira pessoa a iniciar a análise sistemática de crianças na vertente psicanalítica, com partici pação nas “reuniões das quartas-feiras” realizadas por Freud, para estudos da Psicanálise. A partir de 1915, tempo antes de Anna Freud e Melanie Klein, tal profissional inicia seus aten dimentos de crianças e adolescentes com base nos preceitos de Freud (AVELLAR, 2004).
...