Percurso Histórico da educação de surdos: a origem dos mitos e concepções
Por: Mary Hirahata • 24/4/2015 • Artigo • 8.851 Palavras (36 Páginas) • 565 Visualizações
Como citar esse artigo:
KUMADA, Kate Mamhy Oliveira., LIBRAS, Valinhos, 2013.
Disponível em:
Introdução ao Estudo da Disciplina (Caro Aluno):
Caro(a) aluno(a).
Este Caderno de Atividades foi elaborado com base no livro Libras: conhecimento além dos sinais, dos autores Maria Cristinha da Cunha Pereira, Daniel Choi, Maria Inês Vieira, Priscilla Gaspar e Ricardo Nakasato, editora Pearson Prentice Hall, 2011 PLT XXX.
Roteiro de Estudo:
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Tema 1:
Percurso histórico da educação de surdos: a origem dos mitos e concepções
Conteúdos e Habilidades:
Conteúdo
Nesta aula, você estudará:
- O contexto histórico da educação de surdos no mundo e no Brasil.
- As principais abordagens de ensino na educação de surdos.
- As concepções socioantropológica e clínico-patológica da surdez e dos sujeitos surdos.
- A verdade sobre os mitos envolvendo a língua de sinais.
Habilidades
Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões:
- Qual a origem da educação de surdos no mundo e no Brasil?
- O que defendem as principais abordagens na educação de surdos?
- Qual a distinção entre a concepção de surdez clínico-patológica e socioantropológica?
- A LIBRAS é uma língua de fato?
Leitura Obrigatória:
Percurso histórico da educação de surdos: a origem dos mitos e concepções
Retroceder na história é sempre uma ótima oportunidade para mudar as lentes da visão naturalizada construída a partir do que se conhece hoje. Por essa razão, contextualizar historicamente os fatos, concepções e mitos em torno da educação de surdos poderá ajudá-lo a compreender como a LIBRAS (língua brasileira de sinais), língua que você aprenderá a partir de agora, se tornou tão importante para as pessoas surdas.
Desde a Antiguidade as pessoas surdas tiveram diferentes tratamentos. Os egípcios conferiam um ar de misticismo aos surdos, pois acreditavam que por sua forma peculiar de se comunicar, eles eram capazes de transmitir mensagens dos Deuses ao Faraó. Enquanto isso, os gregos, por atribuírem um alto valor à perfeição e à oratória, condenavam os surdos à morte, uma vez que eles não atendiam os padrões exigidos na época. Sem direito à vida em sociedade, este também era o destino das crianças surdas nascidas na Roma Antiga, quando ainda eram lançadas ao rio Tibre (CHOI et. al., 2011, p.5-6).
Apenas no século VI, a partir do código de Justiniano, desenvolvido pelo Imperador romano Justiniano, as pessoas surdas passaram a ser consideradas pela lei. Contudo, o código de Justiniano promulgava que somente os surdos que falassem (oralmente) poderiam herdar fortunas, se unir em matrimônio e ter propriedades. Os surdos que não conseguissem se comunicar através da fala oral, estariam então privados de tais direitos (op.cit., p.6).
A partir do século XVI surgiram as primeiras intenções na educação de surdos. Nessa primeira fase, até 1760, apenas surdos de famílias abastadas tinham acesso ao ensino formal e individual, ministrado por tutores. A preocupação em educar as crianças surdas estava ligada a possibilidade, principalmente no caso de primogênitos, de serem reconhecidos pela lei para herdarem os bens da família. Nessa primeira fase o ensino foi inspirado nos sinais utilizados pelos monges beneditinos que viviam sob o voto de silêncio e no alfabeto digital desenvolvido por educadores da época (op.cit., p.6-7).
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Figura 1.1 Primeiro alfabeto digital utilizado na educação de surdos
Essas são imagens do primeiro alfabeto digital (ou alfabeto manual) utilizado na educação de surdos conhecido na história, produzido por Pablo Bonet e adaptado por Pedro Ponce de Léon.
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org> Acesso em: 28 abr. 2013.
Na segunda fase, entre 1760 a 1880, surgiram as primeiras escolas para surdos que marcaram a transição do ensino individual, restrito aos filhos de nobres, para o ensino coletivo e público. O precursor dessa transição foi o francês Abade Charles Michel de L'Épée criador do método visual, baseado na educação de surdos através da língua de sinais francesa (op.cit., p.7-8).
O método visual oportunizou a formação de educadores surdos, algo inimaginável até então. Tais educadores se tornaram multiplicadores do método visual de L'Épée e fundaram escolas em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil.
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1.2 Imagem do Abade L'Épée
Essa é a imagem do célebre abade L'Épée, precursor da educação de surdos pública e coletiva através da língua de sinais.
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org> Acesso em: 28 abr. 2013.
Na Inglaterra, a escola fundada por Thomas Braidwood utilizava a escrita e o alfabeto digital na passagem para o aprendizado da oralidade. Já o alemão Samuel Heinicke proibia o uso de qualquer recurso manual, pois acreditava que os sinais prejudicavam o desenvolvimento da fala oral. Heinicke fundou o método oral, no qual a oralidade era o único recurso permitido no ensino de crianças surdas (op.cit., p.7-10).
A divergência entre o método visual e o método oral se intensificou ao longo dos anos e, no século XIX, apesar de admitir que o método visual propiciava maiores êxitos na educação de surdos, o método oral ainda reproduzia os discursos da Idade Antiga, defendendo que o surdo só poderia ser considerado normal se pudesse oralizar.
A disputa foi levada ao II Congresso Internacional de Educação do Surdo, realizado em Milão, em 1880, onde educadores de surdos de diversas nações votaram pelo método oral e proibição da língua de sinais na educação e na comunicação com alunos surdos (op.cit., p.10-1).
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