Resenha Revolução dos Bichos

RESENHA CRÍTICA

Orwell, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo, SP: Editora Globo. 94 p.

O século XX foi marcado pela ascensão de regimes totalitários. Entre eles estava o comunismo, ideologia que ficaria conhecida como um das mais sanguinárias já vistas, cuja propagação deixaria (e deixa até hoje) a cifra de milhões de mortos. É nesse clima de decepção e crítica aos regimes assassinos e controladores que surgem as obras de George Orwell. Decepcionado com os rumos tomados pelo socialismo, Orwell escreve duas obras densamente crítica e ácidas ao regime comunista de Stalin: 1984, que ficaria amplamente conhecida pelo “big brother'', e o livro ''Revolução dos bichos'', que inclusive até em dias atuais é proibido em países com regimes ditatoriais, como no caso de Cuba.

O livro mostra de forma metafórica e fantasiosa um processo revolucionário, organizado por uma suposta classe que se preocupa com os oprimidos. A história se passa na granja do senhor Jones, pacata e tranquila até que há o início de um ''motim'': Os porcos, liderados pelo porco “Major”, passam a liderar um movimento de expulsam aos que andam sobre duas pernas. Assim, organizados e doutrinados os animais expulsam o dono da fazenda, cuja administração fica a cargo dos suínos, os ditos animais mais inteligentes. Nesse momento vemos o início do processo revolucionário criticado por Orwell, o qual se incia com ares de bondade de preocupação, liderado por determinada classe política (que no livro é tão bem representada pelos porcos).

A medida em que o tempo passa, os ensinamentos do porco líder tomam ares de lei, de forma que mesmo após ter morrido, continuam com certa validade. Nesse momento surge a ascensão de outros líderes, e através de um processo ''democrático'' forjado, o porco Bola de neve assume o poder da granja. Aliado com cães ferozes que garantem a servidão violenta aos outros animais, começa uma fase de escravidão, na qual são forçados a construir determinadas regalias para os porcos. Isso tudo num clima de persuassão e enganação. Nessa parte do livro é mais nítida a relação metafórica com o regime stalinista, visto que Lênin está figurado no porco que iniciou o processo. Trotski é o porco traidor que foi expulso, e Stalin o vencedor que leva adiante a revolução.

A construção de um moinho faz com que os porcos tenham contato com os humanos do mundo exterior. A essa altura, enquanto os outros animais, exaustos do trabalho, se aglomeram nos estábulos, os porcos passam a morar na casa grande. Com o racionamento de comida, e sofrendo com os ataques dos humanos, os animais passam a se perguntar se a vida não era melhor antes da revolução. Os animais que questionavam o ditador acabaram por receberem a pena de morte, acusados de traição.  O final do livro é icônico, mostra um lapso de tempo no qual todos os animais que viviam antes da revolução estão mortos. Nesse momento, onde a chamada ''República dos animais'' está instalada, há a união definitiva dos porcos com os humanos, que até então eram odiados. De tal forma que na festa final, na qual homens e suínos estão juntos, não se pode distinguir quem é quem, tão semelhantes estão.

Revolução dos bichos é um livro de uma crítica satírica ácida. Muito recomendado aos que desejam conhecer mais sobre os processos revolucionários que se instalam nos mais variados tipos de sociedade. A obra é de uma atualidade impressionante, o que confirma mais ainda sua grandeza. Poderia muito bem ser aplicada ao Brasil petista e pós PT, e mostra como regimes populistas, que ascendem com base na crítica social, no suposto interesse das massas, acaba por aliar-se justamente contra os ditos ''inimigos'' do povo. Mostra ainda como é perigosa a consciência e a criticidade, que uma vez desenvolvidas, passam a se tornar subversivas e perigosas.