Resenha do texto "A pedagogia lancasteriana e a instituição do Estado Nacional brasileiro"
Por: Caroline F. da Silva • 17/10/2018 • Resenha • 1.153 Palavras (5 Páginas) • 530 Visualizações
O texto submetido à resenha crítica foi “A pedagogia lancasteriana e a instituição do Estado Nacional brasileiro”, de autoria da professora Fátima Maria Neves, e que consta nos Anais do IX Congresso Iberoameriano de História da Educação Latinoamericana.
A autora propõe alcançar dois objetivos. Um mais geral, onde pretende analisar o chamado Método de Lancaster, com destaque para o seu caráter fortemente disciplinador; e um objetivo específico, o de analisar a implantação e a anexação desse método como um projeto das elites ilustradas brasileiras que compunham o quadro social dominante do emergente Estado Nacional.
A abordagem se inicia com uma contextualização histórica, situando os ideais das elites em disciplinar as classes subalternas no período da criação e da consolidação do Estado Nacional brasileiro – processo de descolonização –, o que se deu no século XIX. A preocupação da elite no seu “projeto civilizatório” era, principalmente, a de evitar oposições e mesmo revoltas que atrapalhassem a implantação e a manutenção do status quo, a grande garantia aos seus benefícios sociais, culturais e econômicos.
No âmbito educacional, esse cenário culminou na implantação do Método pedagógico do Ensino Mútuo, pela Lei de 10 de outubro de 1827, cujo conjunto de diretrizes era apontado pelas elites ilustradas e por D. Pedro I como sinônimo do Método Lancasteriano, com destaque para uma importante característica em comum: o ensino monitorial.
Pontuado pela autora como algo bastante convencional – no século XVI, por exemplo, Comênius já utilizava a presença de monitores em sua didática –, esse tipo de ensino se dá de maneiras diferentes no Ensino Mútuo e no ensino de Lancaster. Resumidamente, no primeiro, os monitores garantem o ideal pedagógico do mestre, que é centrado no interesse do aluno e tem como base a observação e o julgamento. Nas escolas lancasterianas, até existe o mesmo amparo ao ideal pedagógico do mestre, porém, com sistemais mais complexos.
O texto, então, inicia o aprofundamento na abordagem do método em questão, com um breve histórico sobre a trajetória de Joseph Lancaster (1778-1838), passando pela criação da escola Borough Road, em Londres, para filhos da classe trabalhadora; pela publicação dos Improvements in Education, que continham suas ideias e resultados do seu trabalho; fundação, em 1808, da Royal Lancasterian Society, administradora desse tipo de escola por todo o território inglês; até, finalmente, chegar, em 1814, à Lancasterian British and Foreign School Society, força que ajudou a expandir o método de Lancaster para países como Estados Unidos, França, Portugal, Itália, Alemanha, Grécia, Bulgária, Dinamarca, Suécia, Rússia, Serra Leoa, Senegal, Índia, Austrália, Canadá, México, Peru, Argentina e Brasil. No caso de ex-colônias, como os três exemplos latino-americanos, tal pedagogia atendia aos ideais da classe dirigente (elite), já citados anteriormente nesta análise.
A partir dessas circunstâncias sociais e históricas, Fátima Maria Naves explica, de forma breve, as principais características do Método Pedagógico de Lancaster, no que diz respeito à estrutura física da escola, organização do tempo escolar e a distribuição das atividades pedagógicas, aos agentes de ação educativa (mestre e monitor), ao ensino de leitura e de escrita, ensino da aritmética, processo de avaliação, às premiações e aos castigos.
A conclusão é a de que o método Lancasteriano não pode ser confundido com o Método de Ensino Mútuo ou monitorial e de que as propostas pedagógicas são radicalmente diferentes. Ela também conta que, em nosso emergente Estado Nacional, o plano civilizatório, por meio do Método de Ensino Mútuo, iniciou-se, estrategicamente, dentro das forças militares, para posterior controle das classes subalternas. Uma hipótese para a afirmação errônea de que a pedagogia aqui implantada tem consonâncias com a pedagogia Lancasteriana é a de que a historiografia da educação brasileira se baseava na divulgação feita pela historiografia da educação francesa desse método, sem, no entanto, estabelecer as devidas comparações com o modelo inglês.
No entanto, apesar das diferenças mencionadas, autora ressalta a importância daquilo que os métodos têm em comum: a forte disciplinarização da mente e do corpo e a produção de crenças morais próprias da sociedade autoritária, marcada pela disciplinaridade, em total detrimento da independência intelectual. Tudo isso com o objetivo claro de usar a educação como instrumento de poder e de saber. Nas palavras
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