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Resumo filosofia

Por:   •  10/2/2017  •  Resenha  •  2.879 Palavras (12 Páginas)  •  1.214 Visualizações

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Texto 1

A filosofia passa freqüentemente por ser um conhecimento abstrato e distante de tudo o que se vive, e o seu ensino uma longa enumeração de respostas que autores do passado remoto forneceram a questões que não são mais as nossas, que jamais nos ocorreria interrogar. Franco Cambi, no século XX o saber pedagógico se emancipou do modelo metafísico que, desde a antigüidade até pelo menos o século XVII, dominou a educação, fornecendo definições acabadas sobre sua natureza e seus fins. A concepção histórica que Cambi defende para a pedagogia – a concepção científica – manteve-se largamente dominante na educação a partir da modernidade, sobretudo no que se refere à definição da prática educacional, que teria sido libertada da dependência das verdades definidas de uma vez por todas pela metafísica. Antes, o fazer educativo era apenas um espaço de aplicação das leis e determinações absolutas engendradas pela especulação; com o advento da ciência, introduz-se uma atitude radicalmente diferente, que enfatiza e valoriza a criação e experimentação de novos métodos e procedimentos técnicos para o ensino, tanto quanto para a administração da educação escolarizada. Na definição cientificista da educação, o fazer educativo é campo de permanente exploração das ciências humanas – feitas, agora, «ciências da educação». Assim, a influência da filosofia foi sendo substituída pela autoridade do conhecimento científico. Sem poder recorrer à autoridade metafísica, que a ciência havia destronado, a filosofia teria que ter seu papel definitivamente reduzido. De disciplina específica e soberana, que anunciava as verdades que nada nem ninguém poderia contestar, tudo a que ela poderia aspirar, de agora por diante, era ao posto de uma reflexão que as ciências deveriam manter sobre sua própria prática . A filosofia havia se transformado em apenas um momento do fazer metodológico do investigador. Paralelamente a essa redução a que foi submetida pela ciência, a filosofia se viu objeto do movimento oposto, que a ampliou de uma forma inaudita. Assim, no início do século, Antonio Gramsci proclamava que todos são filósofos. Conforme o tipo de experiência de cada um, será a filosofia de cada um (Anisio Teixeira). A filosofia já pode ser confundida com a própria «a atividade de pensar. Definida como atividade plenamente inserida na vida cotidiana de cada um – pesquisador ou homem comum, a filosofia torna-se o campo das escolhas, dos valores. A filosofia não busca verdade no sentido estritamente científico do termo, mas valores, sentido, interpretações mais ou menos ricas de vida. Vai às «causas últimas» para usar a velha expressão, porquanto nos deve levar à compreensão mais larga, mais profunda e mais cheia de sentido que for possível obter, do universo, à vista de tudo que o homem fez e conhece na terra. A filosofia tem, assim, tanto de literário quanto de científico. Científicas devem ser as suas bases, os seus postulados, as suas premissas; literárias ou artísticas as suas conclusões, a sua projeção, as suas profecias, a sua visão. E, nesse sentido, a filosofia se confunde com a atividade de pensar, no que ela encerra de perplexidade, de dúvida, de imaginação e de hipotético. Quando o conhecimento é suscetível de verificação, transforma-se em ciência, e enquanto permanece como visão, como simples hipótese de valor, sujeito aos vaivéns da apreciação atual dos homens e do estado presente de suas instituições, diremos, é filosofia. De modo que se, sob a influência científica, o fazer educacional de fato se «emancipou» das concepções dogmáticas da filosofia, que o reduziam a mero terreno de aplicação de suas verdades, foi só para melhor se submetê-lo ao domínio da autoridade científica – que, ela também, pretendeu estabelecer, antecipadamente, as regras e os procedimentos pelos quais a educação deveria forçosamente se pautar. A democracia é o projeto de romper o fechamento em nível coletivo. A filosofia, que cria a subjetividade com capacidade de refletir, é o projeto de romper com o fechamnto do pensamento… O nascimento da filosofia e o nascimento da democracia não coincidem, eles co-significam. Ambos são expressões e encarnações centrais do projeto de autonomia. sob a perspectiva democrática, isso é, à luz do projeto de autonomia individual e coletiva, a filosofia não é a atividade espontânea pela qual as sociedades criam seus costumes, valores, representações e finalidades, mas a forma sistemática e deliberada de interrogar esta criação. na área da educação, as diferentes disciplinas dificilmente convergirão para uma compreensão organizada e harmônica da realidade humana e social – e não é essa a função da filosofia.

Texto 2

O fundamento do modo descontextualizado de se ensinar a filosofia da educação é a velha crença de que o verdadeiro saber não precisa da prática nem para se organizar nem para se validar. a filosofia tem um papel central na formação dos educadores e dos pesquisadores em educação  porque a natureza do fazer educativo impõe à teoria ser muito mais do que uma série de belos desenvolvimentos, e mais também do que um corpo coerente de explicações previamente organizado. A filosofia dizia Cornelius Castoriadis, é compromisso com a totalidade do pensável. Não apenas, portanto, com a totalidade daquilo que já foi pensado mas, sobretudo, com tudo que ainda há para pensar. A atitude de interrogação a que visa a filosofia se fundamenta não no poder de uma racionalidade humana impessoal, mas na convicção do poder da criação humana, que decerto se manifesta na cultura que nos precede e que supera os limites de nossas experiências, mas que também se manifesta em nossa própria existência. A filosofia é, assim, esse compromisso com a interrogação que não quer se fechar, e é dessa forma que ela é prática de emancipação, que ela é terreno de luta pela autonomia. Assim, se a «concepção filosófica da educação» nos interessa é porque, remetendo àquilo que foi um dia pensado, ela nos ajuda a descortinar franjas enormes daquilo que ainda não pensamos, daquilo que ainda não nos interrogamos em nossa atividade cotidiana. Conceber filosoficamente a educação pode significar entendê-la como terreno de permanente questionamento, de interrogação aberta. E é assim que a filosofia pode colocar-se a serviço da educação e da valorização do professor – mas não oferecendo uma espécie de «menu» de concepções a serem escolhidas para compor nosso prato feito educacional. E se isso é assim, é porque a educação é, ao mesmo tempo, um enigma e uma atividade prático-poiética. A educação tem por finalidade construir a autonomia do indivíduo, como o próprio termo (autonomia) já anuncia, essa construção é sempre, necessariamente, uma autocriação. Em suma, para educar o humano, para torná-lo um ser autônomo, deve-se partir e deve-se tomar como base algo que ainda não está lá – essa própria autonomia. Por isso, diz Castoriadis, a educação é uma atividade prático-poiética. expressão prático-poiética tenta resolver um falso impasse entre duas possibilidades que Aristóteles elencou, para definir a natureza das atividades humanas: há, dizia o filósofo, algumas atividades que têm uma finalidade determinada, que visam a produção de alguma coisa objetivável, uma coisa ou um efeito sobre algo. A essas atividades que não têm, portanto, fim em si mesmas, mas cujo fim é sempre exterior, Aristóteles chamou de poiesis (que se poderia traduzir aqui como fabricação). E há, também, atividades que não visam a produção de nada: sua finalidade está em seu próprio exercício. Aristóteles denomina essas atividades, que têm fim em si mesmas, de praxis. Ora, essa distinção parece que não se aplica à educação. Para ela, a autonomia deve se constituir, ao mesmo tempo, em fim a ser buscado e na própria atividade. Em outras palavras, na educação, o processo e o produto, meio (poiesis) e fim (praxis) se confundem, não há como distingui-los inteiramente: ela é uma atividade prático-poiética. Na educação, a autonomia é, concomitantemente, o meio para se chegar ao fim e o próprio fim buscado. a resistência que a realidade educativa oferece às tentativas de conhecimento absoluto e de controle é um fato e, mais do que isso, uma preciosa oportunidade para que o professor se questione acerca de suas próprias «certezas». A resistência é a marca permanentemente manifesta da liberdade alheia, da liberdade humana em geral – da liberdade do aluno, como da própria liberdade, também. Por isso, dizer que a educação é um enigma significa, igualmente, dizer: pode-se – e deve-se! – tentar elucidar esse enigma, mas jamais será possível reduzi-lo a certezas. a educação não pode ser entendida como mero domínio aplicado, como campo de aplicação de leis, teorias, determinações vindas de fora. Por pelo menos duas razões gritantes: o aluno e o professor – dois seres que são livres, porque são criadores. E, por mais que o poder criador possa ser limitado, e ocultado, e obstruído, por mais que a criação de si se dê em condições de heteronomia, isso é, como mera ratificação do que está instituído, o que resiste, tanto no professor quanto no aluno, ainda é suficientemente expressivo, manifesto e resistente para atuar como uma espécie de denúncia espontânea das ilusões da tecnocracia da educação. A função emancipadora da educação não deve, portanto, ser entendida tão-somente como atualização das faculdades do indivíduo, como ativação de uma potência que preexistiria, como atualização de algo que podemos definir a priori, como um poder ser alguma coisa que já. sei de antemão que ele é, tal como a filosofia tradicionalmente concebeu. Na educação, o projeto de autonomia depende da atualização de um poder poder ser. O tipo de conhecimento que se pode e se deve obter para a educação nunca é o conhecimento objetivo, explicativo e preditivo que caracteriza outras atividades teóricas. Não é um conhecimento que produz certezas, leis a serem aplicadas, mas interrogações que não serão jamais totalmente respondidas, ainda que sobre elas se deva, na prática, deliberar. Deliberar é uma atividade criadora que cabe ao educador. Educar é, essencialmente, ter em mente o fato deque a vida é uma criação incessante e ajudar o aluno a tomar consciência da responsabilidade que lhe cabe em sua autocriação. Educar é construir, a cada momento, o sentido do que é educar, tanto quanto viver é, a cada momento, fazer e refazer o sentido do que é viver, e existir é fazer e refazer incessantemente o sentido muito próprio que a existência humana adquire em cada um de nós. Se a liberdade está na criação, a emancipação humana está na possibilidade de que o indivíduo passa a ser dotado, pela reflexão, de tomar consciência de seu poder de deliberar. A elucidação é a tomada de consciência de que o papel de cada um, diante de si mesmo e diante da sociedade, nunca é passivo, é a tomada de consciência de seu poder criador. Elucidar o que é e o que se pensa que deve ser a educação é concebê-la filosoficamente. A filosofia tem esse papel importante, e ineliminável, em toda educação que se quer emancipadora: tal como a teoria, ela não fornece à prática educacional garantias, ela não pode justificar nem antecipadamente nem posteriormente as nossas ações, ela não pode se substituir à iniciativa que é sempre a do professor; mas ela é o instrumento pelo qual se pode ganhar consciência da liberdade, da necessidade de deliberação frente à questão: «o que penso que deve ser a educação?» Ela permite tomar consciência e prestar contas daquilo que se faz de si mesmo mim e de sua prática e, desta forma, permite participar de modo sempre próprio e específico da construção coletiva do sentido da educação. A filosofia é instrumento para elucidação dos sentidos que a educação veio adquirindo e adquire em cada contexto social e histórico particular, e ela permite identificar todas estas questões como essenciais para a prática da educação. a concepção filosófica da educação é uma tarefa de auto-reflexão individual e coletiva, e que seu objeto parte e tem como fim a emancipação humana e, portanto, a construção de uma sociedade democrática.

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