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Revisão Bibliográfica da Obra de José Bleger

Por:   •  23/2/2017  •  Artigo  •  5.704 Palavras (23 Páginas)  •  1.146 Visualizações

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DA OBRA DE JOSÉ BLEGER.

Grupo operativo como método didático no ensino superior.[1]

Georgia Welp[2]

Ana Maria Ribas[3]

RESUMO

O objetivo principal deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica da obra de José Bleger, nas ocasiões em que o mesmo refere-se ao grupo operativo como método didático. O estudo é fundamentado em pesquisas bibliográficas. Entende-se a importância de tal trabalho na medida em que busca-se  por um método didático onde professores e alunos possam dividir a responsabilidade no processo de ensino-aprendizagem no ensino superior, tanto quanto por um processo que possa conduzir o aluno por um processo de desalienação, tornando o cidadão mais politizado e consciente de seu lugar e importância na sociedade. Tal processo, consequentemente, envolve o corpo docente e muda os paradigmas sociais a respeito do processo pedagógico. Os resultados da pesquisa apontam que ainda é necessário passar por um período onde se possam avaliar as consequências dos atuais métodos de ensino para que se repensem as estratégias e os objetivos que desejamos alcançar através dos procedimentos de ensino e aprendizagem do ensino superior.

PALAVRAS-CHAVE: 1 Grupo operativo. 2 José Bleger. 3 Método didático. 4 Ensino superior

INTRODUÇÃO

O assunto apresentado no presente trabalho se refere ao grupo operativo como método didático apresentado por José Bleger. Tal assunto foi escolhido porque o autor procura realizar uma síntese, através de sua proposta didática, de sua visão psicanalítica e marxista da educação.

Em muitos momentos, durante o desenvolvimento da pós graduação, tivemos a oportunidade de estudar o pensamento marxista voltado para as questões da educação, como um contraponto ao que é entendido como uma visão capitalista da educação. Parece haver uma conclusão lógica de que deveríamos buscar uma ideologia que fosse “substituir” outra, como se a criação de outro sistema de pensamento pudesse gerar uma maior empatia entre os seres humanos. Eis aí o ponto onde discordamos totalmente. Em nosso entendimento, o que gera a “estranheza” do homem pelos seus semelhantes não são os tipos de pensamentos que possui, mas uma total incapacidade sentimental. Esta questão não pode ser compensada por outro tipo de ideologia, é necessário adotarmos um sistema de ensino que possa oportunizar uma maior responsabilização, não apenas pelo seu próprio processo, mas também pelo processo de um grupo. Isto poderia gerar um crescimento, uma maturação emocional.

Portanto, a escolha do assunto deve-se a um desassossego ao observar que o curso que estivemos realizando, dedicado à docência no ensino superior listou grandes teóricos, mas aparentemente desconhece ou desvaloriza o autor que justamente parece mais próximo do ideal proposto durante o curso em sua práxis. Entendemos que é de fundamental importância que se realize uma reflexão sobre os métodos pedagógicos utilizados no ensino superior para que se possam realizar os objetivos propostos, quais sejam: cidadãos mais conscientes, íntegros, responsáveis, politizados. Pretendemos expor o entendimento de Bleger sobre o processo de ensino – aprendizagem através da revisão bibliográfica do autor, na expectativa de que seja mais conhecido.

  Assim, o referido artigo foi organizado da seguinte forma: primeiro realizamos um breve levantamento da história de José Bleger e das suas influências relevantes no que se refere às questões de métodos pedagógicos, depois abordamos a importância da subjetividade do indivíduo que aprende, em oposição aos conceitos de objetividade como pré-condição aos saberes científicos. Em seguida, veremos como o método pedagógico, muito além de configurar-se como uma técnica de ensino e aprendizagem, também possibilita que os indivíduos envolvidos no processo (alunos, corpo docente, instituições e sociedade) obtenham uma maior consciência dos seus papéis e responsabilidades no processo, ampliando este conceito para a vivência de cidadão na coletividade. Por fim, faremos uma reflexão sobre o nosso entendimento de educação no ensino superior.

1 BIOGRAFIA E INFLUÊNCIAS

Nasceu em Ceres, em 1922, província de Santa Fé, Argentina. É originário de imigrantes judeus, instalados em uma colônia agrícola. Estudou medicina em Rosário e praticou psiquiatria em Santiago del Estero. Mais tarde, estabeleceu-se em Buenos Aires, associando-se à Associação Psicanalítica Argentina (APA). Fez análise com Enrique Pichón Riviére e mais tarde, com Marie Langer. Em razões da sua preocupação com questões políticas e sociais, ingressou no Partido Comunista da Argentina. Estudando a tese do filósofo francês Georges Politzer, lançou as bases para o que denominou as "condições para uma nova psicologia da subjetividade". Mais tarde, durante uma viagem à União Soviética, criticou duramente o regime comunista, especialmente em relação à questão do anti-semitismo e em 1961 foi expulso do partido comunista. Grandes foram suas contribuições à psicanálise clínica. Desempenhou um papel muito importante dentro da APA do ponto de vista da formação didática. Faleceu em 1972, aos 49 anos por ataque cardíaco.

Já outros autores, como Héctor Pavón (2009), citado por Wikipédia, atribue o desligamento do partido comunista à publicação do livro "Psicanálise e Dialética Materialista".

O  livro de Bleger, publicado em 1958 pela editora Paidós foi recebido com uma fria indiferença pela comunidade psicanalítica e gerou um profundo mal-estar da esquerda ortodoxa, que acabou gerando a expulsão do partido comunista.

Em seu prólogo, Bleger deixa claro sua relação de discipulado com Enrique Pichón Riviére como aquele que embasa sua "ideologia pessoal".

O estudo da biografia de Bleger nos mostra que em diversas ocasiões uma ideia inovadora, advinda de uma associação de valores pessoais com um estudo aprofundado pode causar uma séria resistência em um sistema já constituído e definido, justamente porque há interesses envolvidos na manutenção de um método que muitas vezes já demonstrou sua ineficácia. Se Bleger encontrou tanta resistência às suas ideias, a ponto de ser expulso de instituições nas quais já havia sido reconhecido, seria uma ingenuidade de nossa parte pensar que seria simples implantar um sistema que pudesse resultar em um amadurecimento de todas as partes envolvidas. Bleger faleceu em 1972 e suas ideias continuam sendo discutidas, principalmente em países de língua espanhola, o que nos faz considerar que fosse um visionário.

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