Vida Escolar

O viajante

Eu e a Ana nos conhecemos quando ela tinha cinco anos e ainda morávamos em sua cidade natal. Ela estudava em uma escola de ensino primário e quando eu não estava na sala de aula com ela, eu estava guardado no quarto dela junto com outros materiais. E foi em uma dessas vezes que eu estava guardado que percebi que a família estava reunida na sala e ouvi seu pai dizer: ‘vamos nos mudar para Florianópolis’, acho que naquela época ela nem entendia o que essa frase significava, e muito menos que ela transformaria sua vida.

Assim que chegamos à nova cidade, começamos a frequentar as aulas do ensino fundamental em uma escola localizada próxima a casa dela. Passamos quatro anos indo e vindo daquela escola e durante esse período aprendi que, além da minha função como estojo de guardar lápis, borracha e canetas, eu passei a desempenhar a função de guardar as histórias vividas com todas as pessoas que conhecemos naquele lugar.

Eu adorava ir àquela escola, mas acho que a Ana não gostava muito. Ela era muito tímida e gostava muito de estudar, então seus colegas a apelidaram de ‘CDF’ apesar dela sempre dizer que essa palavra não a definia. Por esse motivo, Ana sempre estava sozinha porque para os colegas dela, Ana não era uma boa companhia para o intervalo e sim para pedir as resposta dos trabalhos e provas.

Porém, com a mudança de colégio, Ana viu a oportunidade de recomeçar e deixou para trás aquelas amizades que não a fazia bem e tratou de fazer novos amigos.

Entretanto, comecei a perceber que a cada ano que passava eu estava sendo deixado de lado, eu já não não fazia parte dos materiais que ela carregava na mochila e a Ana só me procurava quando precisava de algum dos meus lápis para pintar uma cartolina. Mas eu não estava triste, sou grato por ter vivenciado todas essas histórias com ela e ter acompanhado de pertinho seu amadurecimento.

Por fim, depois de tantos anos de vida escolar, hoje eu tenho um cantinho especial na casa dela e por mais que eu tenha me 'aposentado' das idas à escola, continuo contando as histórias que carrego comigo.