A Ética e Foucault
Por: RMAlencar • 28/3/2018 • Trabalho acadêmico • 1.723 Palavras (7 Páginas) • 328 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
TRABALHO DE ÉTICA
Rafaela Marassi de Alencar
Dezembro – 2017
Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
Foucault trabalha, a partir da antiguidade greco-romana, dois importantes conceitos: as técnicas de si e a estética da existência, que apontam para a possibilidade de criação de um estilo próprio, visando a produção de si mesmo como o artesão da beleza de sua vida, fazendo desta uma obra de arte. Foucault busca na antiga civilização greco-romana as técnicas de si ou técnicas de cuidado de si possibilitavam aos indivíduos a realização por eles mesmos, de determinadas operações em seu corpo, a sua autonomia e liberdade, buscando a sua verdade interior, pois os indivíduos precisa de suas verdades, pois sabem como desfruta-las de uma maneira equilibrada, fazendo o equilíbrio, entre, suas emoções, alma, raciocínio e instintos.
Portanto essas formas de viver para Foucault, mostram, as técnicas de si, devem ser entendidas como práticas, através das quais o homem não apenas determinava para si mesmo as regras de sua conduta, como também buscava modificar-se para alcançar a sua singularidade. A prática destas técnicas resultava em uma reflexão sobre os modos de vida e sobre as escolhas de existência de cada um. Foucault afirma que:
As "artes da existência" devem ser entendidas como as práticas racionais e voluntárias pelas quais os homens não apenas determinam para si mesmos regras de conduta, como também buscam transformar-se e modificar seu ser singular, e fazer de sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e que corresponda a certos critérios de estilo
- Ditos e Escritos V, O Uso dos Prazeres e as Técnicas de Si (1983). p. 198-199.
A estética da existência, sob o signo do cuidado de si e da transformação da existência em uma espécie de exercício permanente. Para Foucault, o problema ético consiste em responder a questão de como se pode praticar a liberdade. A ética seria a prática racional e refletida da liberdade. O cuidado de si não é um convite a um tipo de inércia narcisista, mas pelo contrário, este possibilita nos constituirmos eticamente como o sujeito de nossos atos. Antes que nos isolar do mundo, é o que nos permite nele nos situar e agir.
A estética da existência, na medida em que ela é uma prática ética de produção de subjetividade, é, ao mesmo tempo, a sujeitada e resistente: é, portanto, um gesto eminentemente político – Michael Foucault, Conceitos Essenciais (2005). p. 44.
Assim, segundo Galvão:
“Então, cuidar de si é alcançar cumes de liberdade para agir, e essas atitudes, escolhas e formas de pensamento subjetivam o sujeito de forma distinta do projeto dócil de subjetividade moderna.”
Portanto, quando o sujeito consegue momentos de liberdade, ele passa a construir e a elaborar outros modelos de vida diferentes pois aos poucos vai se apropriando de si mesmo e mudando sua vida. Dessa forma ele esta tomando sua vida como uma obra de arte que esta constantemente em construção constante, a medida que toma seus próprios direcionamentos e atinge uma subjetividade própria.
O que interessava a Foucault com os estudos da sexualidade na era greco-romana não era um retorno nostálgico à antiguidade, mas, muito pelo contrário, o aqui e agora de nós mesmos. A análise de Foucault dos conceitos de técnicas de si e estética da existência nos fazem pensar, na atualidade, as condições de possibilidade para a afirmação de uma maneira singular de se fazer sujeito, ou seja, para a criação de modos de existência e estilos de vida (formas de subjetivação) dotados do direito à diferença e à variação, capazes de resistir e escapar dos dispositivos de captura e fixação de identidades individuais, transformando a vida em uma obra sempre por se fazer.
Os padrões sociais podem mudar com o tempo e com as sociedades, o bonito hoje pode ser o feio de amanhã. E isso demonstra a capacidade de migração do poder, transpondo e agindo sempre de forma inovadora, porém, sempre investindo no corpo. O poder contemporâneo se exerce num formato diversificado, dando uma falsa impressão de liberdade e autonomia aos corpos. Para Foucault, a ideia de corpo livre e autônomo é falsa, para ele, todas as manifestações corporais são resultados de constantes e meticulosas formas de investimento do poder sobre o corpo.
Em decorrência disso, Pensar como Foucault é refletir acerca dos mais variados acontecimentos e inquietudes da modernidade em uma dimensão estética da existência humana, não apenas no sentido de arte, mas principalmente no sentido de sensação, visto o prazer sentido na satisfação passional, quanto em uma dimensão ética desta existência, na medida em que responsabiliza este sujeito desejam-te na construção de um destino singular, a partir da invenção de si e de um mundo possivelmente melhor. Segundo Galvão:
“Portanto, a proposta de Foucault consiste em cuidar de si para poder cuidar do outro, exigindo responsabilidades para com o mundo, o que não significa que hajam regras de conduta pré-estabelecidas sobre como se deva agir, o que não deve ser confundido com a ética foucaultiana, que trata da própria avaliação do sujeito ante as circunstâncias para assim dar a si suas próprias maneiras de ações.”
A partir disso, é possível pensar nas minhas mais recentes práticas dentro da Psicologia. Atualmente estou realizando um estágio na área de psicologia no hospital Copa Do’r e anteriormente realizei um estagio em clinica. A vertente que seguimos para realizar as intervenções com os pacientes é a psicanálise nos dois estágios. Vertente que, para mim, tem muita ligação com a ética de cuidar de si mesmo dita por Foucault. A psicanálise abandona um ideal de cura, assim se afastando do discurso científico e coloca a experiência clínica de análise na vertente ética e estética de construir com o sujeito modos de existência que sejam facilitadores na hora de lidar com os conflitos que pertencem ao processo de subjetivação, que esta sempre em construção.
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