A DIMENSÃO ESPACIAL: O modo humano distintivo de habitar
Por: Margarete Ribeiro Paiva • 11/11/2018 • Resenha • 979 Palavras (4 Páginas) • 203 Visualizações
A DIMENSÃO ESPACIAL:
O modo humano distintivo de habitar
“Encontrar um lugar que resguarde suas sombras e ilumine seus olhos requer habilidades que nem sempre a gente possui.”
1- O habitar e a colonização do espaço: o lugar
À diferença do tempo, a dimensão espacial tem sido pesquisada por quase todas as ciências e por todas as artes. Ela se configura a partir do corpo da pessoa e dos objetos que estão ao seu redor nos planos: Real (espaço das coisas, da práxis), imaginário (reside num futuro hipotético) e simbólico (são os signos – imagens acústicas).
O espaço num sentido existencial pode ser definido como o modo em que o humano habita os lugares que definem sua realidade pessoal e social. Cada pessoa constrói sua maneira de ocupar o espaço habitável, ou se adapta às condições que lhe impõem a situação. Ex: Um universitário de classe média pode se adaptar a um apartamento com pouco espaço. Uma senhora precisando de aconchego pode precisar habitar uma casa cheia de coisas que afastem a sensação de vazio interior.
O que importa é como o indivíduo desenha seu espaço. É dessa maneira que o constitui em lugar.
2- A conveniência de conhecer o espaço pessoal no trabalho terapêutico
No processo psicoterapêutico costumamos convidar nosso cliente para que faça um exercício de imaginação, uma forma de exploração ativa do campo imaginário (Exacami). São dez temas básicos, cada um visando alguns objetivos específicos. Como uma forma de estimular sua atividade vamos acompanhando sua elaboração mental, pois a pessoa nos vai descrevendo o que aparece em seu campo mental. Um dos temas é “Minha casa ideal”
A formulação da proposta se faz nos seguintes termos: “A partir deste momento você tem o poder de ter uma casa, uma moradia ideal. Comece a descrever como seria essa casa.”
Vejamos um exemplo:
Ivan descreve um apartamento comum. O mais notável foi quando descreveu o quarto de dormir, com pouca mobília e espelhos por toda parte. Um quarto privado que o possibilitasse ficar isolado do mundo.
No caso de Ivan podemos detectar à partir da descrição uma personalidade fortemente estruturada, com notório traços narcísicos.
No Exacami também há outros exercícios cujo intuito é desenvolver a capacidade de incrementar o senso de liberdade e de domínio do espaço aéreo, como o vôo e o labirinto. Estes três temas (casa, vôo e labirinto) são metáforas da existência. A casa representa o lugar seguro, o vôo os desafios do mundo e o labirinto é onde nos encontramos no momento.
3- A procura do lugar certo como realização do ideal pessoal – O malogro (insucesso) desta tentativa em “O Castelo” de Kafka, em contraste com “O Peregrino” de Bunyan
Na história narrada por Kafka o agrimensor K chegou primeiro à hospedaria da aldeia, perto do Castelo, que representa o poder social, cercado por fossos que
impedem a passagem e a proximidade de quem não pertença a seu círculo. Verificou logo no primeiro dia que foi olhado com desconfiança pelo pessoal da aldeia. K tenta por anos ter acesso ao poderoso Klamm, que autorizaria o exercício de suas funções, mas não importa o quanto se esforce, sempre estará a uma distância intransponível.
Como todos nós, K se propõe alguns objetivos mínimos, um deles é encontrar o lugar certo do trabalho e, como muita gente, permanece a uma distância insuperável de seu objetivo. Ele também não é um homem de muita intimidade, permanecendo longe do convívio amoroso e dos amigos. K pertence ao círculo dos homens que não aceitam ficar por fora de suas possibilidades mais próprias. Pelo menos tenta, insiste, persiste.
K não teve sucesso no encontro de seu lugar certo, mas não é sempre este o destino de todos os mortais. Alguns, mais afortunados, já nascem em uma situação que lhes facilita acertar em todas as etapas e planos desta busca. Não se trata de mera fortuna econômica, embora este fator ajude, mas o que os sustentam são suas virtudes de caráter.
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