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A ESCRITA ÍNTIMA NA PUBERDADE: A TESSITURA DE UM VÉU NO ENCONTRO COM O FEMININO

Por:   •  14/7/2016  •  Artigo  •  2.028 Palavras (9 Páginas)  •  392 Visualizações

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A ESCRITA ÍNTIMA NA PUBERDADE: A TESSITURA DE UM VÉU NO ENCONTRO COM O FEMININO

A adolescência é a intermediação da infância para a fase adulta, que até o final do século XVIII não foi percebida como um estágio particular do desenvolvimento humano e no final desse século, o termo adolescência surgiu com uma concepção moderna, pois até então a adolescência era confundida com a infância.

A “adolescência” é uma construção social, e o termo mais adequado para abordar o tempo lógico do encontro com o real do sexo é a puberdade, que é o termo utilizado por Freud. A adolescência é considerada como uma resposta sintomática do sujeito ao encontro com o real do sexo na puberdade.

Freud (1905) descreve o termo puberdade como um segundo tempo da sexualidade, e segundo ele, o primeiro ocorre na infância e regride na latência, lá o segundo ocorre juntamente com a puberdade, que é o que determina a configuração definitiva da vida sexual. Freud explica que com a chegada da puberdade, as mudanças que levam a vida sexual infantil à sua configuração definitiva são introduzidas. Na infância, a pulsão predominante é a auto erótica e na puberdade encontra o objeto sexual. O novo alvo sexual para a conjunção de todas as pulsões parciais é chamado de zona genital.

Na adolescência, é importante que o jovem faça separação de seus pais, pois na puberdade o Édipo é despertado novamente, renovando os conflitos do complexo de Édipo e as fantasias incestuosas. Essa reativação do Édipo na puberdade, é diferente de sua primeira manifestação na infância, pois na puberdade tem a marca da interdição. Freud comenta:

“Contemporaneamente à subjugação e ao repúdio dessas fantasias claramente incestuosas consuma-se uma das realizações psíquicas mais significativas, porém também mais dolorosas, do período da puberdade: o desligamento da autoridade dos pais, unicamente através do qual se cria a oposição, tão importante para o progresso da cultura, entre a nova e a velha geração” (Freud, 1905, p. 213).

As principais determinantes na puberdade são as transformações fisiológicas com a consequente maturação genital; o encontro com o outro sexo, que é chamado por Freud de encontro com o objeto; a reativação do complexo de Édipo com a necessidade de separação dos pais e a escolha de outras referências de identificação.

Sendo assim, na puberdade, existe o trabalho psíquico para que o jovem possa fazer a “passagem” da infância para a fase adulta.

Segundo Freud, a sexualidade humana surge na infância e não na puberdade. A vida sexual infantil vai apresentar uma lógica pré-genital como oral e anal, e em 1924, Freud acrescenta a fase fálica, que é uma fase que se apoia numa zona genital, mas com diferenças com relação à organização genital adulta, pois a única classe de órgão sexual que é reconhecida pela criança é o masculino. Mas não se trata da prioridade dos genitais e sim do falo, por isso que a descoberta da diferença entre os sexos é fundamental para a constituição da sexualidade e para acontecer essa descoberta, é necessário usar o falo como referência.

A distinção do gênero feminino e masculino só é relevante após a puberdade, pois é fundamental na sexualidade do adulto. O complexo de Édipo e o complexo de castração marcam a passagem da sexualidade infantil para a vida sexual adulta. A impossibilidade do amor incestuoso encaminha o Édipo para a sua destruição. Essa impossibilidade é a castração, enquanto um fato de estrutura. Marca-se a impossibilidade do encontro com o objeto, não há complementaridade. As teorias sexuais infantis constituem o recurso utilizado pela criança no trabalho de velar e desvelar a castração, enquanto impossibilidade estrutural. Há um recalque das fantasias e do desejo incestuoso com a incidência da castração, marcando a entrada da criança na latência. A latência se situa nesse tempo intermediário entre a infância e o despertar da puberdade. Na puberdade existirá a necessidade de distinção sexual e o primado da zona genital irá se firmar. A maturação genital leva ao encontro com o objeto.

A constituição da realidade psíquica se dá nos dois tempos: o da infância e o da adolescência. O trabalho psíquico que ocorre na adolescência envolve um segundo tempo desse processo. Para a teoria lacaniana, a subjetividade se constitui a partir do enlaçamento de três dimensões topológicas: o simbólico, o imaginário e o real. O registro simbólico designa a relação do ser falante com o significante; o registro imaginário, a relação do ser falante com a imagem; e o real, com o objeto. O complexo de Édipo é o que amarra os três registros.

No relato de uma adolescente siciliana, ela fala sobre os seus desejos mais íntimos e sobre o início da sua vida sexual com a busca desesperadora pelo seu verdadeiro amor, que faz com que ela ofereça o próprio corpo a qualquer um que solicite. Em seu texto, ela faz uma viagem em busca de “si mesma” e do amor. A jovem descreve sobre a observação que ela faz de seu corpo no espelho e fala sobre o seu encantamento com a nova forma que que começa a se delinear.

“Diante do espelho, eu me admiro, extasiada com as formas que vão pouco a pouco se delineando, com os músculos que ganham um contorno mais modelado e seguro, com os seios que começam a aparecer sob as camisetas e se movem suavemente a cada passo” (Panarello, 2004, p. 8).

As transformações físicas são rápidas demais na adolescência, por isso o jovem desconhece o seu corpo e fica sem saber como dele se servir. É o seu próprio corpo que lhe causa angustia e lhe é estranho.

“Sinto meu corpo arrasado e pesado, inacreditavelmente pesado. É como se alguma coisa muito grande tivesse caído em cima de mim e me esmagado. Não me refiro à dor física, mas a uma dor diferente, por dentro” (Panarello, 2004, p. 24).

É neste período também que o encontro com o outro sexo ganha corpo. É exatamente no momento em que o rapaz satisfaz aos ideais de sua virilidade e a moça se instala na identificação, momento de assunção do desejo, que o encontro fracassa. Há um mal-estar, um impasse na relação sexual. Os desencontros dos primeiros amores são paradigmáticos do impasse da relação sexual. De acordo com Lacan, quando chega a hora do rapaz fazer amor com as moças, é preciso que sonhe com isso, antes disso se ocupar.

A entrada da adolescência é um momento em que o sujeito ainda não se decidiu totalmente sobre suas escolhas e esse é um momento de decisão. A escolha do sintoma e a organização da fantasia se estabelecem extremamente cedo, mas são recolocadas parcialmente na adolescência. Essas escolhas deverão ser recolocadas tanto do lado da fantasia, posta à prova na puberdade, quanto do lado do sintoma. Elas são recolocadas mesmo se a estrutura clínica já está decidida. No entanto, as formas comportamentais, fenomenais e também a forma do sintoma com o sexo vão se encontrar modificadas na puberdade.

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