A Organização Familiar e o Idoso: A Inversão de Papéis Entre Pais e Filhos?
Por: Ceça Souto Maior • 1/4/2017 • Resenha • 1.995 Palavras (8 Páginas) • 508 Visualizações
Nascer, crescer e envelhecer são etapas que fazem parte do processo natural de todas as famílias. Dessa maneira, a cada ciclo que surge os membros que a compõe se modificam para que assim possam conviver de forma mais satisfatória entre si. Então, porque na velhice seria diferente? Precisamos ter clareza para compreender que a velhice é uma fase da vida que nos proporcionará novos desafios e emoções no contexto familiar.
Envelhecer é algo que está dentro do funcionamento de tudo aquilo que é vivo, dessa maneira podemos dizer que o envelhecer faz parte da vida dos seres humanos, ser idoso faz parte do ciclo da vida. O envelhecimento tem diferentes significados, pois esses variam de acordo com os sistemas simbólicos de cada cultura e experiências individuais, portanto se trata de um processo socialmente estruturado e diferente para cada sujeito.
Dessa maneira, é importante dizer que quando o sujeito começa a envelhecer passa a perceber não apenas alterações biológicas, pois socialmente e psicologicamente as coisas começam a mudar, porém essas transformações acontecem em ritmos diferentes de sujeito para sujeito e das circunstancias internas e externas de cada um. Por assim dizer, o envelhecimento nunca será sentido e encarado de igual forma entre os indivíduos.
Diante disso, muitos idosos travam uma luta constante para se adaptarem com perdas físicas e emocionais da velhice e assim usam sua energia para atender as necessidades de auto identidade, de um companheirismo que traga satisfação e experiências significativas, Eizirik (2013) aponta que o próprio processo de envelhecimento traz perdas inevitáveis associadas ao ciclo vital, onde as mais frequentes são a debilitação na saúde física, diminuição das capacidades, perdas do conjugue, diminuição das atividades e responsabilidades. Para alguns é devastador esse efeito acumulador de perdas, onde impede a elaboração do luto.
É muito comum em nossa sociedade os idosos representarem uma imagem de fraqueza, solidão, doença e pouca capacidade de contribuição. Algumas vezes são esquecidos, pois sua imagem passa a estar vinculada a algo que não tem validez, e em outras circunstancias são abandonados por seus familiares em asilos o que acaba os distanciando daquilo que tem importância vital para o ser humano: a família.
De acordo com Miotto (1997, apud ALVES, 2010), a família é uma instituição historicamente condicionada e dialeticamente articulada com a sociedade na qual está inserida. Isto pressupõe compreender as diferentes formas de famílias em diferentes espaços de tempo, em diferentes lugares, além de percebê-las como diferentes dentro de um mesmo espaço social e num espaço de tempo. Dessa maneira, no decorrer do tempo e da história a família vem acompanhando as mudanças impactantes sofridas pela sociedade, tanto no campo sociocultural como no econômico e político.
Diante disso, é visto que transformações também aconteceram na família e assim nas novas configurações familiares o idoso tem seu papel dentro da família, pois de acordo com Lima (2012), família baseada na relação de autoridade foi se modificando e incorporando a cooperação e a democracia como elementos fundamentais da nova relação. Nesse sentido, o idoso transita por essas duas realidades: criado com a concepção de que respeito provém da autoridade, percebe a necessidade de abrir um espaço de discussão com seus filhos. Em seguida, o idoso enfrenta ainda a circunstância de educar os netos e a respeitá-los como pessoas com quem convivem.
Assim, sendo a família um sistema vivo, esta vive uma fase de adaptação na terceira idade diante de desafios importantes. As mudanças que ocorrem nessa fase requerem o apoio, reorientação e reorganização familiar, pois de acordo com Mendes (2005) a família representa para esses idosos, um fator que influencia significativamente a sua segurança emocional.
Por assim dizer, precisamos reforçar que os relacionamentos familiares continuam sendo bastante importantes nesse estágio, os laços afetivos e o contato com a família são de extrema importância para uma velhice mais satisfatória, pois essa fase costuma ser de perdas reais diante de situações como, por exemplo, separação, viuvez e aposentadoria, dessa maneira para Mendes (2005) o idoso necessita estar engajado em atividades que o façam sentir-se útil. Mesmo quando possuem boas condições financeiras, o idoso deve estar envolvido em atividades ou ocupações que lhe proporcionem prazer e felicidade. A atividade em grupo é uma forma de manter o indivíduo engajado socialmente, onde a relação com outras pessoas contribui de forma significativa em sua qualidade de vida.
Dessa maneira Zirmeman (2000) pontua que, o ambiente familiar pode determinar as características e o comportamento do idoso, assim, na família suficientemente sadia, onde se predomina uma atmosfera saudável e harmoniosa entre as pessoas, possibilita o crescimento de todos, incluindo o idoso, pois todos possuem funções, papéis, lugares e posições, e as diferenças de cada um são respeitadas e levadas em consideração. Em famílias onde há desarmonia, falta de respeito e não reconhecimento de limites, o relacionamento é carregado de frustrações, com indivíduos deprimidos e agressivos. Essas características promovem retrocesso na vida das pessoas, o idoso se torna isolado socialmente e com medo de cometer erros e ser punido.
Em estudo realizado com idosos em domicílio, foi constatado que quando a qualidade afetiva em relação à família foi ótima (14 idosos) e boa (46 idosos), os idosos tiveram um menor grau de dependência emocional e atividades de lazer, em contraposição aos idosos que avaliaram como regular (16 idosos) e péssima (1 idoso) a qualidade afetiva em relação à família, os quais tiveram aumento substancial no grau de dependência emocional (MENDES, et al, 2005).
O bom funcionamento da família no estágio tardio da vida requer uma flexibilidade nas fronteiras para se ajustar as demandas dessa nova fase de necessidades e desafios desenvolvimentais. A família da velhice não deve ser enfocada só a partir do velho, mas sim a partir de todos outros membros jovens. Os conflitos integracionais mostram-se presentes de forma intensa. Ocorre frequentemente a inversão de papéis: os pais cuidadores dos filhos durante toda a vida, agora serão cuidados pelos mesmos. Uma avalanche de sentimentos flui nos relacionamentos.
Diante desses conflitos, os indivíduos acabam por internalizar normas sociais que fazem com que eles passem a assumir a responsabilidade do cuidar como algo que é natural e consequentemente esperado. Por assim dizer, quando os adultos cuidam dos mais velhos eles se mostram ajustados e assim acabam por evitar aquele sentimento de culpa. Como a família é
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