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A Projeção No Diagnóstico Da Personalidade

Por:   •  14/11/2024  •  Trabalho acadêmico  •  4.037 Palavras (17 Páginas)  •  27 Visualizações

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A PROJEÇÃO NO DIAGNÓSTICO DA PERSONALIDADE

Antonio Veiga

“O homem que pinta, tende a dar às figuras

que realiza sua própria experiência corporal”.

Leonardo da Vinci

O que mais caracteriza o valor do homem e que o torna inegavelmente rico e soberano sobre as demais espécies, é a forma de expressão de seus sentimentos.

Vivendo numa época cada vez mais socializada ele deixa progressivamente para trás um comportamento isolado e primitivo, passando a adotar atitudes sofisticadas e simbólicas. Seus sentimentos de amor ou ódio, alegria ou frustração, trazem o mesmo conteúdo de seu antepassado, pois é algo inerente à espécie. Entretanto, a forma de manifestar as variações de seu psiquismo difere na medida do seu crescimento antropológico, de sua inexorável evolução e conseqüente mutação, e dos recursos que utiliza para se ajustar ao meio.

O homem atual é um homem simbólico.

Entender a sua simbologia é entender o próprio homem.

Após superar a era valiosa, mas obscura do empirismo, a psicologia ingressa no rol das ciências, a partir das experiências de Wundt, em 1878. Pode-se então elaborar uma ordem sistêmica no estudo do psiquismo e ousar entender a dimensão simbólica do se humano.

A tarefa cabe ao psicólogo, profissional-cientista, talhado para decodificar as causas subjetivas e impalpáveis do comportamento, através de meios concretos e objetivos.

Muitos são os meios pelos quais os psicólogos podem utilizar para identificar a nuance da personalidade. Podem apenas observar as manifestações naturais desta personalidade; podem catalogar suas reações; podem provocar reações específicas e estabelecer um controle cientifico dos resultados (experimento), e assim por diante.

Os instrumentos científicos destinados a provocar reações sob controle tendem a ser o método principal da ampliação dos conhecimentos em psicologia, e se referem, principalmente, aos testes psicológicos.

Entre os testes psicológicos para diagnosticar a personalidade se destaca o Desenho da Figura Humana (DFH), que apesar de ser um dos mais antigos, vem sofrendo periódicas renovações e, por esse motivo, se mantém atualizado.

Um ponto importante a se considerar na análise psicológica de uma reprodução gráfica é o uso projetivo do desenho propriamente dito. O desenho se constitui em condição ótima para a projeção da personalidade, possibilitando a manifestação mais direta de aspectos que o sujeito não tem conhecimento, não quer ou não pode revelar, isto é, aspectos mais profundos e inconscientes.

O FENÔMENO PSÍQUICO DA PROJEÇÃO

O termo projeção é utilizado em diversas áreas do saber humano, principalmente nas ciências que possuem maior afinidade com a psicologia. Etimologicamente, respeitando sua raiz latina, projeção significa lançar adiante ou lançar para fora. Para entendermos a amplitude do termo, não podemos nos ater apenas a seu significado radical, pois se assim o fizéssemos, estaríamos confundindo-o com outros significados. Por exemplo: quem atira uma pedra está projetando esta pedra no espaço, quem consegue se notabilizar no meio social conseguiu se projetar, quem idealiza uma idéia tridimensional e a registra em um desenho bidimensional na folha de papel, projetou essa idéia. Quem faz um plano de trabalho para executar posteriormente, realizou um projeto, ou seja, projetou essa idéia ou plano de trabalho.

O sentido do termo que nos interessa tem um significado mais simbólico, mais profundo, psicológico. Tudo leva a crer que o termo projeção foi utilizado pela primeira vez por Freud (1894), em seu livro Neurose de Angústia, quando afirma: “A psiquê desenvolve uma neurose de angústia quando não se sente em condições de realizar a tarefa de controlar a excitação sexual que surge endogenamente, isto é atua como se tivesse projetando essa excitação no mundo exterior”. Mais tarde em 1896 se refere novamente ao termo em sua obra As neuropsicoses da Defesa, onde diz: “por não podermos aceitar impulsos dolorosos, projetamos a outros sentimentos e defeitos indesejáveis em nós”.

Em 1930, Healy, Bronner y Bowers (apud Bell, 1971) assinalaram: “A projeção é um processo de defesa que funciona sob domínio do principio do prazer, pelo qual o “eu” lança fora, sobre o mundo exterior, desejos e idéias inconscientes que seriam penosas demais para torná-los conscientes”.

Warren, 1956, (apud Van Kolck, 1966) dá três definições de projeção:

  1. referência ou localização de sensações na fonte ou lugar de origem de estímulos, especialmente das percepções externas. (psicologia da percepção)
  2. atribuição a outras pessoas de experiências similares às próprias.
  3. tendência ou ato de atribuir ao mundo externo processos psíquicos reprimidos, que não se reconhecem como de origem pessoal, o conteúdo desses processos se experimentam como projeção externa.

Noyes (apud Bell, 1991) se refere especificamente ao termo projeção como sendo um mecanismo de defesa, chamando-o de “estabilizador automático”. Entre as diversas definições do termo encontramos alguns elementos invariáveis, tais como:

  • é sempre inconsciente;
  • é uma defesa contra tendências do inconsciente;
  • é uma atribuição dos próprios impulsos aos outros e/ou exterior;
  • sentimentos, idéias e atitudes inconscientes;
  • reduzem a tensão pessoal, portanto funcionam como mecanismo de defesa;

Cabe aqui o questionamento: Se a projeção é um mecanismo de defesa, utilizável diante de um conflito, a pessoa mentalmente sadia também projeta?

Sim, porque todo o pronunciamento, toda expressão, toda revelação do inconsciente obedece ao principio do prazer, ou seja, através de uma dinâmica homeostática, o interior procura satisfazer suas necessidades no recurso exterior. Ora, o sistema homeostático é inerente ao se humano, seja sadio ou doente. Quando se refere que a projeção é um mecanismo de defesa, necessariamente não se quer dizer que somente pessoas disfuncionais o utilizam. Todas as pessoas experimentam conflitos e, portanto, também utilizam mecanismos de ajustamento (defesa).

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