A Psicologia da Saúde: História e Fundamentos
Por: wpjesus • 13/3/2020 • Artigo • 1.590 Palavras (7 Páginas) • 312 Visualizações
Psicologia da saúde: História e fundamentos
Introdução
Os cuidados com a saúde e tentativas de curas de enfermidades conseguem ser traçados até 20 mil anos, de acordo com Straub (2014). Assim os conceitos relacionados à saúde apresentam uma evolução deste entendimento de acordo com a nossa história. Passando pelo período pré-histórico, em que as doenças eram atribuídas a questões espirituais, pela Idade Média, em que as doenças epidêmicas eram vistas como castigos divinos, e pela Renascença, em que as questões de saúde eram divididas de forma dualista, mente e corpo, chegamos ao século XX com o modelo biomédico da saúde. De acordo com este modelo, toda doença apresenta causa biológica, geralmente causada por algum agente patógeno, como vírus e/ou bactérias. No entanto, principalmente após os estudos de Sigmund Freud, foi percebido que algumas doenças não poderiam ser explicadas somente através desse modelo, como por exemplo paralisias conversivas e perda da fala, surgindo assim o ramo da medicina psicossomática, que buscou compreender as questões de saúde relacionadas aos processos mentais deficientes. (Straub, 2014).
O surgimento da psicologia da saúde é apontado por Straub (2014) durante a década de 70, com o surgimento Health Psichology que apresentou quatro objetivos para esse novo campo: o estudo de forma científica as causas e origens de determinadas doenças, a promoção da saúde, a prevenção e tratamento de doenças, a promoção de políticas de saúde pública e aprimoramento deste sistema. Para Spink (2010), a psicologia surge na interface da saúde tardiamente, e de forma tímida, tateando seu campo de atuação e sua forma de contribuição. Esta autora aponta que os trabalhos dos psicólogos relacionados à saúde estavam intimamente ligados à prática clínica, ou à perspectiva médica, sendo muitas vezes inserido apenas como um facilitador do tratamento.
Assim, é perceptível apontar que há uma virada do entendimento da psicologia da saúde, em que os psicólogos passam a entender a saúde para além da doença. Straub (2014) aponta que a psicologia da saúde no século XXI passa a ter uma perspectiva biopsicossocial. Segundo este autor, a biologia interage diretamente com o comportamento humano, sendo então necessário a compreensão do contexto biológico, mas também importantes o contexto psicológico e social dos indivíduos para o entendimento da saúde. Já para Spink (2010) a psicologia da saúde deve apresentar uma perspectiva psicossocial, em que a doença é entendida como um fenômeno psicossocial, sendo construída como um fenômeno e indicando a ideologia predominante naquela sociedade. Dessa forma, a doença deve ser entendida não só como individual, mas como um fenômeno coletivo.
Como Spink (2010) ressalta, a psicologia da saúde entra no Brasil de forma tardia e fragmentada, envolto em muitas dúvidas sobre o campo de atuação e práticas. No contexto americano de Straub (2014) as atuações dos psicólogos da saúde estão ligadas principalmente a pesquisa, didática e clínica. Com a promoção de concursos, Dimenstein (1998) aponta um crescimento na participação dos psicólogos em contextos de saúde pública, tais como unidades básicas de saúde, no entanto esta atuação parece ainda estar centrada na forma clínica tradicional. Santos, Quintanilha e Dallbello-Araujo (2010) em sua pesquisa sobre as práticas profissionais em promoção de saúde de psicólogos em unidades básicas, levantaram práticas em educação em saúde e realizações de grupo.
Analisando a história da psicologia da saúde e sua recente inserção no contexto brasileiro, buscou-se explorar essa realidade através da realização de entrevista com uma psicóloga de Unidade Básica de Saúde, sobre sua atuação nessa área.
Objetivos
-Compreender a atuação do profissional psicólogo em uma Unidade de Saúde da Família;
-Investigar as principais ações realizadas pela profissional em sua prática cotidiana;
-Entender a visão da profissional sobre a psicologia da saúde;
- Compreender os principais desafios que a profissional enfrenta nessa área.
Metodologia
A entrevista foi realizada por telefone, com duração de 30 minutos em horário fora do expediente da profissional. A entrevista foi gravada, e transcrita em partes para a apresentação dos resultados. A entrevista apresentou roteiro semiestruturado.
Resultados
A psicóloga Kátia Alves Rios tem 27 anos, e trabalha pelo USF, na equipe de Atenção Básica de Saúde há 2 anos. Sobre a opção de trabalhar na área da psicologia da saúde, esta relatou que atua nesta área desde o estágio no CETAD. De acordo com a entrevistada, desde que entrou para área da saúde aprendeu muito e percebeu sua evolução profissional.
A atuação profissional do psicólogo na Unidade de Saúde da Família é vista por ela, como uma atuação múltipla, que varia desde a clínica individualizada, passando pelo trabalho com grupos terapêuticos, até a realização de palestras para a comunidade, e também em escolas.
“A psicologia pode ser muito ampla no contexto da saúde, é só necessário pensar outras formas de atuação. Aqui atendemos individualmente, a demanda é muito grande, Participamos de palestras nos grupos de Hiperdia, grupo de gestantes, e de tabagismo, vamos, também, as escolas, pensamos em temas para debater com eles. Uma coisa que eu fazemos, bastante, são visitas domiciliar, tem muitos casos de pessoas acamadas, pessoas com depressão, com transtorno mental, pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras SPAS que não conseguem sair, pessoas que tem dificuldade em ir para a unidade de saúde. Mesmo correndo risco por entrar em áreas complicadas as vezes, é muito importante por que conhecemos mais a realidade da comunidade, o que facilita no acompanhamento, é um cuidado a saúde diferenciado.”
No entanto, por mais que seja variada, a clínica parece ser ainda a maior demanda percebida pela profissional, conforme demonstra a fala abaixo:
“A clínica ainda é a maior porta de entrada dos usuários que buscam a psicologia, parece que as pessoas entendem o psicólogo apenas como aquele profissional que fica dentro da salinha para escutar os problemas. E esta, sem dúvidas, é a nossa maior atuação na Atenção Básica.”
A profissional percebendo a crescente demanda pelo serviço teve necessidade de criar grupo. Disse estar satisfeita com o trabalho que vem desenvolvendo, principalmente um grupo voltado para gestantes e acompanhamento pós-parto. Uma vez que uma gravidez era notificada na USF, a gestante era convidada a participar do grupo. Este grupo ocorre a cada 15 dias e tem o objetivo de ajudar as gestantes expressarem suas principais angústias em relação a gestação, cuidados do bebê, situações familiares e econômicas, e também para relatarem suas experiências, ajudando assim no acompanhamento pré-natal e criação de rede de mães na comunidade. O projeto já está completando 2 anos, e apresenta resultados perceptíveis de acordo com a fala da psicóloga.
...