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A busca da normalidade diante do sofrimento psíquico

Por:   •  18/4/2017  •  Ensaio  •  1.524 Palavras (7 Páginas)  •  352 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

VIVYANE MARIA CENI

A BUSCA DA NORMALIDADE DIANTE DO SOFRIMENTO PSÍQUICO PARA A PSICOPATOLOGIA

Florianópolis

2016


VIVYANE MARIA CENI

A BUSCA DA NORMALIDADE DIANTE DO SOFRIMENTO PSÍQUICO PARA A PSICOPATOLOGIA

Trabalho apresentado na Unidade de Aprendizagem de Psicopatologia e Classificação dos Transtornos Mentais do Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção de nota de avaliação.

Professora: Ana Maria Pereira Lopes, Dra.

Florianópolis

2016


A BUSCA DA NORMALIDADE DIANTE DO SOFRIMENTO PSÍQUICO PARA A PSICOPATOLOGIA

Este trabalho tem como objetivo a elaboração de um texto problematizando a busca da normalidade na contemporaneidade diante do sofrimento psíquico, como uma controvérsia em psicopatologia.

Segundo Bezerra (2013), nos últimos 100 anos a psicopatologia sofreu mudanças drásticas passando a ser uma atividade permanente, um exercício constante de demarcação do que é a normalidade, do que é a diferença, considerando ainda o que é patológico e exige internação.  Essa demarcação tem perdido sua dimensão, na medida em que a sociedade aceita o sofrimento psíquico como inerente à condição humana, caracterizando o indivíduo como um sujeito consciente de seu sofrimento diante de suas angústias e conflitos, agindo de maneiras complexas em relação a ele, buscando superá-lo a qualquer custo.

Diante da busca estabelecida pelo homem na superação do sofrimento, é procedente recorrer-se a Bergeret (1998, p.10), onde estabelece que é extremamente raro a existência de pessoas consideradas normais, dentre as que são nitidamente estruturadas, correspondendo a funcionamentos econômicos, ao mesmo tempo estáveis e bem integrados aos padrões normatizados em sociedade, destacando que essa normalidade permeia as personalidades estruturadas.

De acordo com Bergeret (1998, p.30) a divisão dos humanos em normais e doentes mentais existente desde antes de Freud, cedeu lugar à demonstração da economia neurótica, postulando a não continuidade entre os funcionamentos mentais tido como normais e os neuróticos, ocorrendo sua existência em todos os graus, diferindo apenas a adequação e flexibilidade destes mecanismos e sua ocorrência nos diferentes tipos estruturais. Ou seja: “a noção de “normalidade” estaria, assim, reservada a um estado de adequação funcional feliz, unicamente no seio de uma estrutura fixa [...] sendo que a patológica corresponderia a uma ruptura do equilíbrio dentro de uma mesma linhagem estrutural” (BERGERET, 1998, p. 31).

Considerando ainda sua conceituação de sadio, como sendo o sujeito capaz de permitir-se ser flexível o suficiente para viver suas necessidades pulsionais nos aspectos pessoal e social, adaptando-se às solicitações do meio, onde as dificuldades internas ou externas não tenham sido superiores a seu equipamento afetivo hereditário ou adquirido, Bergeret (1998, p. 24, p. 25), estabelece um protótipo de saúde, desconstruindo o conceito opressor e excludente seguido pela Psiquiatria dos anos 50/60.

Em contraponto extremo à noção de sadio apresenta-se o psicopata, sendo porém, segundo Laing (1978, p.27), necessário falar com maior franqueza ao se fazer juízos implícitos classificando alguém de psicopata, uma vez que esses, muitas vezes apresentam alto grau de normalidade, enquanto que outros considerados sadios possuem a mente doentia de forma radical, possibilitando assim o recebimento de luzes em mentes psicopatas, que são impenetráveis em mentes normais, o que indica uma nova forma de entender o normal e o patológico, caracterizando o sofrimento psíquico diante da busca pela normalidade e adequação às normativas sociais.

Transitando entre esses dois pólos, segundo Serpa Junior (2007, p. 209), o normal e o patológico dividem-se, sendo mensurados por diferentes escalas e instrumentos devidamente estruturados e demonstrados estatisticamente em modernos manuais de Psicopatologia que mais se assemelham a glossários, sendo organizados mediante a apresentação de sintomas, cujos termos mostram-se muitas vezes antagônicos, limitando-se à dimensão sintomatológica dos quadros psicopatológicos, erradicando a subjetividade do sujeito, desconsiderando sua relação com o mundo.

De acordo com Bezerra (2013), nos manuais classificatórios como o DSM e o CID, em todas as suas revisões, os sintomas são classificados estabelecendo um conjunto de rótulos que aumenta consideravelmente a cada revisão, onde o estudo do sofrimento, além de ter perdido sua perspectiva fenomenológica caracterizada pela análise da experiência de estar deprimido, perdeu ainda sua dimensão psicodinâmica, a qual se perguntava o que se passava dentro do indivíduo, buscando demonstrar seus conflitos sob a forma de sintomas, numa tentativa de solucioná-los.

Ainda segundo Bezerra (2013), esta classificação possibilita imensas possibilidades de diagnósticos, ocasionando uma crise em sua legitimidade, chamando atenção à reflexão sobre o contexto em que os conceitos psicopatológicos emergem, tendo como cenário uma sociedade caracterizada pela perda de sua normatividade regulada pelas grandes agências nômicas, as quais cedem lugar à autonomia, à possibilidade de discussão sobre o que é certo e errado, ao estabelecimento de referências norteadoras, empoderando a ciência como portadora de uma verdade objetiva e indiscutível, possibilitando ao indivíduo definir sobre sua forma de atuar em sociedade.

Além desse panorama no contexto social, os avanços dos medicamentos e drogas como ansiolíticos, antidepressivos, neurolépticos e outros, possibilitam uma existência social às pessoas portadoras de sofrimento psíquico, concedendo à psicopatologia o status de exercício cultural, onde as classificações psiquiátricas refletem o panorama histórico e social de determinado contexto, modificando frequentemente o conceito de normalidade, do que é ser normal.

No exercício cultural realizado pela psicopatologia, importa considerar ainda na questão da normalidade, a menção de Dalgalarrondo (1982, p. 59) sobre a questão da cultura na formação e entendimento de seus conteúdos impressos pelas neuroses e psicoses, considerando-as em suas diferenças, em sua etiologia e em seus tratamentos, tais como são realizados pelas populações locais, construindo uma semiologia própria, perpassada pelas tradições e folclores circunscritos a determinadas regiões, estudadas pela psiquiatria transcultural, fazendo com que essas considerações sirvam de apoio para a compreensão da amplitude dos conceitos de normalidade à luz da psicopatologia.

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