A pesquisa e processo de produção do conhecimento
Por: Nowa133able . • 15/10/2020 • Artigo • 3.128 Palavras (13 Páginas) • 199 Visualizações
“A PESQUISA E O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO - ALGUMAS ANOTAÇÕES E REFLEXÕES”
Alba Maria Pinho de Carvalho
O que é pesquisa?
O que é conhecimento científico?
Como se produz o conhecimento científico?
Quais as exigências básicas no processo de produção do conhecimento científico?
Estas são questões essenciais, que se colocam de imediato para todos aqueles que começam a se preocupar com a questão da pesquisa, enquanto forma de trabalho. E, é preciso ter claro como ponto de partida: para essas questões não existe uma única resposta; pelo contrário, deparamo-nos com diferentes respostas que variam de acordo com as perspectivas e concepções assumidas. Assim, analisar essas questões é, antes de tudo, retomar velhas e sempre atuais polêmicas sobre as diferentes concepções do que é ciência e conhecimento cientifico. Enfim, é preciso colocar o nosso raciocínio num plano epistemológico[1].
Começando a analisar as concepções que configuram a Teoria do Conhecimento, podemos resgatar de inicio, duas concepções distintas: o empirismo e o formalismo. Tais concepções divergem no tocante ao processo e dinâmica do conhecimento, mas têm a mesma raiz, em termos de uma perspectiva dualista, na medida em que separam, em que fazem um corte na relação entre a realidade que se quer conhecer – dimensão do concreto – e as explicações teóricas formuladas sobre essa realidade – dimensão do abstrato – que se expressa no plano do pensamento. Tal separação implica, conseqüentemente, no corte da relação essencial no processo de produção do conhecimento científico: a relação sujeito / objeto.
Essas duas concepções, partindo de referenciais distintas, sustentam diferentes concepções do que seja o conhecimento científico, quais sejam:
— para o empirismo, o conhecimento é a representação fiel da realidade; é um retrato puro e objetivo da realidade tal qual ela se apresenta; assim, o conhecimento científico é resultante do recolhimento de indícios da realidade, isto é, dos dados para uma cópia imediata e plenamente objetiva do real;
— para o formalismo ou teoricismo, o conhecimento é a expressão de um processo de deduções lógicas, com base nas explicações formuladas sobre a realidade, sem considerá-la na sua dinâmica efetiva; assim, o conhecimento científico é resultante da aplicação mecânica de formulações teóricas, sem considerar as especificidades da realidade.
Em essência, tais concepções divergem sobre o Vetor, ou seja, de onde parte o processo do conhecimento:
— para o empirismo, o ponto de partida é a realidade em si mesma enquanto tal, sendo, pois, o processo comandado por essa realidade, baseando-se na experiência;
— para o formalismo, o ponto de partida é a teoria fechada em si mesma, sendo, pois, o processo dirigido, pelas generalizações teóricas aplicadas mecanicamente.
Dentro de uma perspectiva dualista, a concepção empirista e a concepção formalista fazem o corte entre o conhecimento e a prática de uma dada sociedade, assumindo, de diferentes ângulos, a independência e autonomia do conhecimento. Tal perspectiva implica, pois, o assumir da tese da neutralidade do conhecimento científico que se expressa na crença do conhecimento puro e neutro, produzido num campo exclusivo que está acima dos interesses sociais em jogo: a ciência.
Do ponto de vista epistemológico, é importante ter claro que tais concepções dualistas estão fundadas em pressupostos diversos, em suposições básicas relativos a: origem e critérios da verdade; concepção de realidade; concepção de teoria; natureza do conhecimento; objetividade do conhecimento. Em conseqüência, essas concepções têm entendimentos diferenciados acerca do papel do pesquisador enquanto sujeito da investigação e do que seja o objeto de estudo a ser conhecido. Neste sentido é que se configuram o equívoco empirista do pesquisador como um extrator de verdades contidas na realidade e externa a ele e o equívoco formalista da realidade reduzida a um esquema lógico — teórico auto-explicativo.
Em síntese, as concepções empirista e formalista limitadas e fechadas em suas polarizações, delimitam perspectivas parciais do que seja o conhecer científico que não conseguem dar conta do rico e complexo processo de produção do conhecimento científico[2].
Continuando o processo de resgate sobre as concepções do conhecimento, chegamos a uma concepção que busca superar essas visões parciais, configurando uma perspectiva ampla do conhecimento científico, fundada na relação entre a teoria e a realidade, entre o abstrato e o concreto, o que implica na relação dialética sujeito / objeto. É o Racionalismo Aberto que bem se expressa na Teoria Marxista do Conhecimento, ou seja, é o Racionalismo de inspiração marxista que podemos denominar de Racionalismo Dialético[3].
Racionalismo Dialético, fundado na suposição básica da relação estreita e firme entre conhecimento e prática social, concebe o conhecimento científico como uma instância determinada pela dinâmica contraditória das forças constituintes de uma dada sociedade. Logo, o conhecimento científico tem uma dimensão política essencial, emergindo a partir de demandas sociais e repercutindo na luta dos interesses sociais em jogo. É a dimensão da Práxis que se coloca como o pressuposto fundante do Racionalismo Dialético, enquanto perspectiva da Teoria do Conhecimento.
E, efetivamente, o que é o Conhecimento Científico nessa perspectiva do Racionalismo Dialético?
O conhecimento científico é a decifração dos fatos, dos fenômenos, indo além das manifestações aparentes na busca dos determinantes; é, pois, a explicação daquilo que não é transparente e que, de fato, determina a emergência e a dinâmica dos fenômenos específicos e particulares. Assim, cabe à Ciência revelar o sentido objetivo dos fatos e fenômenos, trabalhando as suas manifestações, no sentido de penetrar na lógica explicativa do real.
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