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ANÁLISE CRÍTICA DO FILME “SHINE - BRILHANTE” (1996)

Por:   •  15/4/2019  •  Resenha  •  776 Palavras (4 Páginas)  •  3.866 Visualizações

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ANÁLISE CRÍTICA DO FILME “SHINE - BRILHANTE” (1996), DIRIGIDO POR SCOTT HICKS

        Tendo em vista a exibição, em sala de aula, do filme “Shine – Brilhante”, de 1996, dirigido por Scott Hicks e cujo roteiro é baseado na vida do pianista David Helfgott (interpretado pelo ator Geoffrey Rush), o presente busca analisar, através de um olhar psicanalítico e com base nos conteúdos já apresentados, os aspectos que foram retratados e puderam ser apreendidos do longa-metragem.

        Acompanhamos, desde a infância, a trajetória de David, que cresce em uma família judia, de origem polonesa, que migrou para a Austrália, com poucos recursos financeiros, formada pelos seus pais e três irmãos. Pudemos observar, então, o caráter dominador/impositor da conduta de Elias, seu pai, sobre a família (subjugada) e, especialmente, sobre o protagonista, para que se tornasse um grande pianista – capaz de executar peças de grande complexidade.

        Alguns momentos específicos do filme podem deixar mais evidentes as questões que envolvem a relação entre David e seu pai, e que exercerão grande influência sobre a vida do pianista: como nos em que é dito à criança que ela possui uma grande oportunidade, que ao pai foi negada (o que pode remeter às vezes em que surge o relato do violino que possuiu); como as lembranças de Elias sobre a perda de seus familiares em campos de concentração e a necessidade de manter-se firme, preparado, não confiar/depender das pessoas, mencionando, diversas vezes, que o “mais forte é que se adapta e sobrevive”; os momentos em que o pai busca manter a família unida de qualquer forma; bem como nos castigos (físicos ou psíquicos) que são impostos a David, quando ele falha ou não consegue atingir o que o pai deseja.

        Nesse sentido, Elias atua como um tirano, buscando com David satisfazer seus desejos frustrados, seja ou por ser impedido de se tornar um músico ou pelo desmembramento da família. Ficando evidente a atuação de alguns mecanismos de defesa de seu ego: como a projeção e o deslocamento (quando projeta sobre o filho seus sonhos e desejos, ou desconta sobre ele suas frustrações), o isolamento (observado na tirania do pai de Elias, que o impediu de tocar, mas é reproduzida no filho, impondo que ele seja pianista), a formação reativa (quando Elias mostra-se forte, resistente e reativo às questões que lhe são apresentadas, mas em seu inconsciente pode ser muito frágil). E, segundo Tallaferro (1996), esses são processos defensivos que, em certa medida, são característicos de uma neurose obsessiva.            

        Com relação a David, chama atenção as imposições que estão presentes em seu meio e afetam o seu desenvolvimento. Buscando atender aos desejos e ideais do pai, o protagonista não possui espaço para que se desenvolva e amadureça, assim como toda procura por agir de maneira mais autônoma é, a princípio, sufocada. Isso fica ainda mais evidente na adolescência, quando se vê negar, pelo pai, que vá para a América e estude música – a partir desse momento, tornam-se, mais graves as mudanças e o declínio psíquico que se passa com o jovem.  

É importante observar que, ainda na adolescência, David urinava na cama, bem como há uma cena em que acaba defecando na banheira em que tomava banho – esse descontrole dos esfíncteres demonstrada uma grande fragilidade emocional. Isso pode ser fruto da onipresença e tirania de seu pai, que impõe a ele diversas condições que não condizem, de fato, com o que o protagonista gostaria de realizar. Torna-se comum, dessa forma, a regressão por parte de David.

Ainda que o protagonista, em determinado momento, consiga mudar-se para a Inglaterra e se afastar do ambiente onde cresceu, há diversas mostras de que as situações pelas quais passou ficaram marcadas e passam a constituir fonte importante de seu superego. A busca por atender ao desejo do pai de executar uma difícil peça no piano continua e David não mede esforços nesse sentido. Cabendo ressaltar que a “ruptura final” ocorre justamente quando o pianista consegue executar a tal obra.

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