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Analise do livro Carta ao pai

Por:   •  2/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  2.763 Palavras (12 Páginas)  •  951 Visualizações

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UNIVERSIDADE PAULISTA

ANÁLISE DO LIVRO “CARTA AO PAI”, DE FRANZ KAFKA

Relação coercitiva

SOROCABA/SP

2015/2

SUMÁRIO

1.        INTRODUÇÃO .................................................................................          3

2.         DESENVOLVIMENTO ANALÍTICO.................................................         4

3.         CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................         10

        REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................  11

        

  1. INTRODUÇÃO

A coerção é um assunto fundamental para a Análise do Comportamento, já que em qualquer relação humana ela está envolvida e os efeitos dela podem ser devastadores. A longo prazo, a coerção mina a autoridade da liderança, estimula a rebeldia, a falta de lealdade e a fuga de talentos. Se usada frequentemente, pode perder seu efeito intimidador, gerando comportamentos "suicidas" por parte de suas vítimas: isso ocorre quando a própria coerção passa a ser menos suportável do que as consequências da ameaça utilizada. De acordo com Sidman (1995, p. x)

Coerção não é a raiz de todo mal, mas até que adotemos outros modos, que não o coercitivo, para controlar a conduta uns dos outros, nenhum método para melhorar fisicamente nossa espécie impedirá que o timer de nossa sobrevivência continue andando.  

O Livro de Franz Kafka, “Carta ao Pai”, retrata a intensa coerção sofrida no relacionamento com seu pai, Hermann, que usa a punição e a ameaça como forma educativa, o que trouxe danos intensos a vida de Kafka em todos os sentidos, principalmente na relação familiar. Utilizaremos alguns trechos de sua obra para retratar essa relação.

O objetivo do trabalho é relacionar os conteúdos que a Análise do Comportamento propõe sobre coerção como forma de analisar a obra de Kafka, usando-a como exemplo de coerção e analisando conforme a teoria.

  1. DESENVOLVIMENTO ANALÍTICO

        

O pai de Kafka, Hermann, era muito punitivo, não em termos físicos, mas sim em termos psicológicos. A presença dele alterava o comportamento de Kafka a tal ponto que morreu sem entregar a carta ao pai. A carta, encerrou de forma literária, a tensão de um dia-a-dia asfixiante com a família, dominada por uma figura paterna tirânica e injusta, que não concedia misericórdia a ninguém.

        A carta foi escrita entre os dias 10 e 19 de novembro de 1919, por conta da insatisfação com a fria recepção paterna diante do anúncio de seu noivado com Julie Wonhryzek. São mais de cem páginas manuscritas, onde Franz expõe toda a sua mágoa em relação ao pai autoritário, que ele chama, alternadamente, de “tirano”, de “regente”, de “rei” e de “Deus”.

O autor tinha 36 anos quando escreveu a carta, uma vida pessoal acanhada, sem nunca ter se casado ou constituído família. A obra trata de uma autoanálise, onde Kafka mostra como, a seu ver, o jugo do pai acabou com sua autoestima, o condenando a uma personalidade fraca e assustada.

Desde o começo da carta fica claro que o relacionamento entre pai e filho não foi fácil. Trata-se de uma relação genuína de coerção de pai para filho. Coerção é usar da punição e da ameaça de punição para conseguir que os outros ajam como gostaríamos e à prática de recompensar pessoas deixando-as escapar de nossas punições e ameaças (Sidman, 1995). O pai, nas palavras de Kafka, era uma força opressora intensa. Ele exigia que nenhuma opinião que não a sua fosse ouvida e que os filhos seguissem a conduta que ele acreditava ser a correta, causando em Franz uma sensação triste de que o pai não o amava e não o respeitava, pois ele discordava de muito do que o pai dizia ou o mandava fazer.

Como na situação em que Franz, ainda criança, provoca o pai pedindo água a noite – provavelmente uma forma de chamar a atenção - mesmo após as advertências, insiste. Até que Hermann o arrasta para a varanda e o deixa ao relento de pijamas. A partir daí Kafka passou a ser obediente, mas mostrou clara indignação de tal ato sob uma atitude infantil, causando uma tortura quase que constante, um sentimento de inferioridade e um ressentimento forte em relação a figura paterna.

A análise do comportamento explica este evento quando diz que a coerção diminui a frequência da resposta, ou seja, ela atinge seu objetivo imediato. Porém, a longo prazo ela está fadada ao fracasso, já que através da punição podemos realmente controlar as pessoas para que façam o que queremos, mas dessa maneira podemos causar transtornos ao coagido, como isolamento social, neurose, insegurança entre outros sentimentos devastadores como os que Kafka sentiu (Sidman, 1995).

“Eu sempre gostei de você, embora na aparência não tenha sido como costumam ser os outros pais, justamente porque não sei fingir como eles”. Este trecho representa uma frase dita por Hermann ao Kafka, que demonstra um posicionamento do pai em relação a carinho afetivo, onde ele não acredita que este tipo de demonstração pudesse ser verdadeiro e que somente o que ele oferecia fosse de grande valor. Ele se via como o herói da família, do sucesso financeiro que conquistava. Em contrapartida o filho se mostra decepcionado com essa colocação, já que ele queria e precisava do carinho de Hermann, esperava encorajamento, tolerância, ser aceito e amado pelo que era, assim como ele se mostra amar o pai (mesmo com toda a raiva advinda das punições sofrida). Isso gera certos trechos da carta em que demonstra suas necessidades em relação a figura paterna:

Eu teria precisado de um pouco de estímulo, de um pouco de amabilidade, de um pouco de abertura para o meu caminho, mas ao invés disso você o obstruiu, certamente com boa intenção de que eu devia seguir outro. Mas para isso eu não tinha condição.

Como o pai via o amor como manifestação material, acreditamos que isso pode ter gerado uma confusão em Franz, porque se amor é material o que ele poderia oferecer ao pai?

Em determinado momento Franz compara o pai com outros homens da família: “Todos eles eram sem dúvida mais alegres, mais dispostos, mais desenvoltos, mais despreocupados, menos severos que você”. Ele começou a olhar para o pai buscando referências a qual se espelhar, porém não encontrava isso nele, e passou a esperar nos tios, já que os considerava mais interessante e mais agradáveis. Mesmo sendo criados juntos, Hermann conseguiu ser diferente dos outros, era mais forte, mais imponente, superior, um patamar grande demais, o qual Kafka se sentia incapaz de alcançar.

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