Análise do livro "Um jeito de ser" de Carl Rogers
Por: Maile Ferreira • 7/2/2022 • Trabalho acadêmico • 1.675 Palavras (7 Páginas) • 1.541 Visualizações
UMA ANÁLISE DO LIVRO ‘UM JEITO DE SER’ DE CARL ROGERS
O livro Um jeito de ser, de Carl Rogers, é dividido pelo autor em quatro partes, sendo elas: experiências e perspectivas pessoais, aspectos de uma abordagem centrada na pessoa, o processo educacional e seu futuro; e olhando à frente - um cenário centrado na pessoa.
Logo na introdução, Rogers relata que a repercussão de seu livro Tornar-se pessoa ampliou tanto sua vida como seu pensamento, e que, a partir deste livro, está presente em sua obra “a compreensão de que aquilo que vale numa relação entre terapeuta e cliente vale também para um casamento, uma família, uma escola, uma administração, uma relação entre culturas ou países”. Tal compreensão relaciona-se diretamente com a famosa frase de Carl Jung, quando o mesmo aconselha: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Ambas citações evidenciam que a relação paciente-terapeuta é uma relação assim como os demais relacionamentos que temos em nossa vida e a primeira parte da obra Um jeito de ser aborda um dos aspectos mais fundamentais das relações, a comunicação.
Segundo o autor, a comunicação tem a potência de fazer com que os indivíduos sintam-se bem, gratificados, ternos e satisfeitos; porém por outro lado também possui a mesma potência para torná-los insatisfeitos, distantes e não contentes. Rogers reafirma que:
Algumas das minhas experiências de comunicação com outras pessoas fizeram-me sentir maior, enriquecido e aceleraram meu próprio crescimento. Frequentemente, nessas experiências, percebi na outra pessoa reações semelhantes, que ela também se enriquecera, e que seu desenvolvimento e funcionamento haviam sido impulsionados. Houve outras ocasiões em que o crescimento ou desenvolvimento de cada um de nós diminuiu ou parou, ou até sofreu um retrocesso.
Para Rogers, um dos fatores que tornava uma experiência de comunicação um momento enriquecedor é principalmente o ouvir o outro. Quando ouvimos o outro entramos em contato com ele e isso enriquece nossas vidas. O ouvir ao outro aqui utilizado, refere-se a uma escuta profunda, que ouve “as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o significado pessoal, até mesmo o significado que subjaz às intenções conscientes do interlocutor”. Ainda segundo o autor, esta escuta é um processo que traz consequências para ambos os envolvidos. Assim como quem escuta sente-se feliz por ter entrado em contato com outro indivíduo, a pessoa ouvida sente-se aliviada e agradecida, tornando-se assim mais aberta ao processo de mudança, como um prisioneiro em um calabouço que acaba de ser libertado e sente-se novamente um ser humano.
Um aspecto importante da teoria de Rogers é o conceito de congruência, que para o autor é definida como o momento no qual “o que estou vivenciando num determinado momento está presente em minha consciência e quando o que está presente em minha consciência está presente em minha comunicação, então cada um desses três níveis está emparelhado ou é congruente”. Tal congruência é fundamental para que a comunicação atinja o seu máximo, pois esta permite que o ouvinte receba uma mensagem única de todos os sinais de comunicação. Ao final, Rogers resume:
Uma sensibilidade para ouvir, uma profunda satisfação em ser ouvido. Uma capacidade de ser mais autêntico, que provoca, em troca, uma maior autenticidade nos outros. E, consequentemente, uma maior liberdade para dar e receber amor. Estes, em minha experiência, são os elementos que tornam a comunicação interpessoal enriquecedora e acrescentadora.
Na segunda parte do livro, o autor aborda os fundamentos de uma abordagem centrada na pessoa. Segundo Rogers, a hipótese central de sua teoria é de que:
Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para a auto-compreensão e para modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados se houver um clima, passível de definição, de atitudes psicológicas facilitadoras. Há três condições que devem estar presentes para que se crie um clima facilitador de crescimento.
A primeira dessa condição é a própria congruência, quanto mais o terapeuta mostra-se congruente, maior será a probabilidade de que o paciente mude e cresça de modo construtivo. A segunda atitude para um clima que facilite mudanças é a aceitação incondicional, quando o terapeuta apresenta uma atitude aceitadora e positiva do que o paciente é naquele momento. O terceiro aspecto facilitador da relação é a compreensão empática, neste elemento, o terapeuta capta precisamente os sentimentos e significados pessoais do cliente e comunica este entendimento ao mesmo. “Essas tendências, que são a recíproca das atitudes do terapeuta, permitem que a pessoa seja uma propiciadora mais eficiente de seu próprio crescimento. Sente-se mais livre para ser uma pessoa verdadeira e integral” .
Outro conceito abordado por Rogers é acerca da tendência realizadora, um fluxo subjacente, presente em todo organismo vivo, de movimento em direção à realização construtiva das possibilidades que lhe são inerentes. Tal como uma batata que germina em direção à luz mesmo em situações que impossibilitam que esta se torne uma planta. A tendência realizadora é comparada, pelo autor, à própria vida, pois os comportamentos de um organismo estarão voltados para a sua manutenção, seu crescimento e sua reprodução. Essa é a própria natureza do processo a que chamamos vida. Esta tendência está em ação em todas as ocasiões. Na verdade, somente a presença ou ausência desse processo direcional total permite-nos dizer se um dado organismo está vivo ou morto.
Essa tendência à auto-realização relaciona-se com a teoria da hierarquia das necessidades de Maslow. Rogers confirma esta relação quando afirma
O substrato de toda motivação é a tendência do organismo à auto-realização. Esta tendência pode expressar-se através de uma série ampla de comportamentos e como resposta a uma grande variedade de necessidades. Para que haja segurança, é preciso que algumas necessidades básicas sejam no mínimo parcialmente satisfeitas antes que outras necessidades se tornem urgentes. Consequentemente, a tendência do organismo para se realizar pode, num determinado momento, levar à busca de alimento ou de satisfação sexual.
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