As Faces Da Violencia
Monografias: As Faces Da Violencia. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: CARLANUB • 17/9/2014 • 5.523 Palavras (23 Páginas) • 866 Visualizações
As faces da violência.
Nós pedimos com insistência:
Não digam nunca: isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão.
Em que corre o sangue,
Em que se ordena a desordem,
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza,
Não digam nunca: isso é natural!
Bertolt Brecht
AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA: O ENFOQUE PSICOLÓGICO
O ser humano é agressivo.
Essa afirmação pode causar estranheza porque sempre conhecemos alguém que é
muito "bonzinho", "incapaz de fazer mal a uma mosca". Nesse caso, avalia-se a
agressividade exclusivamente por suas manifestações: o comportamento. E a pessoa "incapaz de fazer mal a uma mosca" é considerada como não-agressiva, como não tendo nenhuma hostilidade dentro de si, nenhum impulso destrutivo na sua relação com as coisas e com os outros. Para superarmos a estranheza que a afirmação inicial causa, é necessário compreender que a agressividade é impulso que pode voltar-se para fora (hetero-agressão) ou para dentro do próprio indivíduo (auto-agressão). Mas ela sempre constitui a vida psíquica, enquanto fazendo parte do binômio amor/ódio, pulsão de vida/pulsão de morte
(ver CAPÍTULO 4).
A agressividade sempre está relacionada com as atividades de pensamento,
imaginação ou de ação verbal e não-verbal. Portanto, alguém muito "bonzinho" pode ter fantasias altamente destrutivas, ou sua agressividade pode manifestar-se pela ironia, pela omissão de ajuda, ou seja, a agressividade não se caracteriza exclusivamente pela humilhação, constrangimento ou destruição do outro, isto é, pela ação verbal ou física sobre o mundo.
A educação e os mecanismos sociais da lei e da tradição buscam a subordinação e o
controle dessa agressividade. Assim, desde criança o ser humano aprende a reprimir e a não expressá-la de modo descontrolado, ao mesmo tempo em que o mundo da cultura cria condições para que o indivíduo possa canalizar, levar esses impulsos para produções consideradas positivas, como a produção intelectual, a produção artística, o desempenho esportivo etc.
Nesse enfoque, cuja referência é a Psicanálise, afirma-se que a agressividade é
constitutiva do ser humano e, ao mesmo tempo, afirma-se a importância da cultura, da vida social, como reguladoras dos impulsos destrutivos. Essa função controladora ocorre no processo de socialização, no qual, espera-se que, a partir de vínculos significativos que o indivíduo estabelece com os outros, ele passe a internalizar os controles. Então, deixa de ser necessário o controle externo, pois os controles já estão dentro do indivíduo. Mas, mesmo assim, em todos os grupos sociais existem mecanismos de controle e/ou punição dos comportamentos agressivos não valorizados pelo grupo. A sociedade também tem seus mecanismos, que se concretizam na ordem jurídica: as leis. Esse modo de compreender a
agressividade humana coloca em questão se a sociedade está conseguindo ou não criar condições adequadas para a canalização desses impulsos destrutivos e para a não manifestação da violência. A violência é o uso desejado da agressividade, com fins destrutivos. Esse desejo pode ser: o voluntário(intencional), racional (premeditado e com objeto "adequado" da agressividade) e consciente, ou o involuntário, irracional (a violência destina-se a um objeto substituto, por exemplo, por ódio ao chefe, o indivíduo bate no filho) e inconsciente.
A agressividade está na constituição da violência, mas não é o único fator que a
explica. É necessário compreender como a organização social estimula, legitima e mantém diferentes modalidades de violência. O estímulo pode ocorrer tanto no incentivo à competição escolar e no mercado de trabalho, como no incentivo a que cada um dos cidadãos dê conta de sua própria segurança pessoal. A legitimação pode ocorrer na guerra, no combate ao inimigo religioso, ao inimigo político. A manutenção da violência ocorre quando se conservam milhões de cidadãos em condições subumanas de existência, o que acaba por desencadear ou determinar a prática de delitos associados à sobrevivência (roubar para comer, a prostituição precoce de crianças e jovens). A violência está presente também quando as condições de vida social são pouco propícias ao desenvolvimento e realização pessoal e levam o indivíduo a mecanismos de autodestruição, como o uso de drogas, o alcoolismo, o suicídio. Jurandir F. Costa, em seu livro Violência e Psicanálise, afirma que podemos entender como violência aquela situação em que o indivíduo "foi submetido a uma coerção e a um desprazer absolutamente desnecessários ao crescimento, desenvolvimento e manutenção de seu bem-estar, enquanto ser psíquico" (1). Isso significa que é necessário deixar de considerar como violência exclusivamente a prática de delitos, a criminalidade. Essa é uma associação feita, por exemplo, pelos meios de comunicação de massa (rádio, televisão) e que acabamos por reproduzir. Mas existem outras formas que não reconhecemos como práticas de violência e que estão diluídas no cotidiano, às quais, muitas vezes, já nos acostumamos. A violência no interior da família, na
escola, no trabalho, da polícia, das ruas, do atendimento precário à saúde etc.
A VIOLÊNCIA E SUAS MODALIDADES
Nos tempos modernos, a violência "invadiu todas as áreas da vida de relação do
indivíduo: relação com o mundo das coisas, com o mundo das pessoas, com seu corpo e sua mente". É como se o progresso tecnológico, o desenvolvimento da civilização, ao invés de propiciar o bem-estar dos indivíduos, concorressem para a deterioração das condições da vida social. A violência, também, deve ser entendida como produto e produtora dessa deterioração, como patologia ou doença social que acaba por "contaminar" toda a sociedade - mesmo naqueles grupos ou instituições
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