As instituições da violência - BASAGLIA, Franco
Por: Letícia Luca • 1/11/2017 • Resenha • 925 Palavras (4 Páginas) • 2.504 Visualizações
BASAGLIA, Franco. As instituições da violência
RESUMO:
- O que caracteriza as instituições é a nítida divisão entre os que tem o poder e os que não o têm.
- A violência e a exclusão estão na base de todas as relações que se estabelecem na sociedade
- Instituições da violência: Familiar, Escolar, Carcerária, Manicomial (As primeiras por obrigação, as últimas por culpa e doença).
- A sociedade chamada "do bem-estar", "da abundância", descobriu agora que não deve exercer abertamente sua face de violência para não criar em seu seio contradições demasiado evidentes, que se voltariam contra ela. Por isso encontrou um novo sistema: o de estender a concessão do poder aos técnicos, que o exercerão em seu nome e que continuarão a criar, através de novas formas de violência - a violência técnica -, novos rejeitados.
- A psicologia, psiquiatria e assistência social, dentro dessa análise, seriam os administradores da violência institucional, atenuando atritos, dobrando resistências e resolvendo os conflitos causados pelas instituições, adaptando os indivíduos a aceitar sua condição de objetos de violência.
- Os mecanismos institucionais da sociedade fazem com que os indivíduos aceitem e internalizem uma existência de inferioridade, naturalizando a violência sofrida.
- “A ambiguidade da nossa função como terapeutas não desaparecerá enquanto não nos dermos conta do jogo que nos é exigido. Devemos refutar o ato terapêutico cujo objetivo é atenuar as reações e indignações do excluído em relação ao excludente”.
- A ciência afirmou em parte que o doente mental seria resultado de uma alteração biológica mais ou menos indefinida, diante da qual não havia nada a se fazer senão aceitar docilmente sua diferença em relação a norma. Dessa forma, as instituições psiquiátricas passam a ter função restritamente tutelar, limitadas a definir, catalogar e gerir a doença.
Um exame atento revela que a doença, enquanto condição comum, assume significados CONCRETAMENTE distintos segundo o nível social do doente. E também as consequências da doença variam segundo o tipo de abordagem adotado em relação a elas. (Relação do psiquiatra, e através dele a sociedade, estabelece com o paciente)
- TIPOS DE RELAÇÃO PSIQUIATRA – PACIENTE
Aristocrática - O médico tem o poder técnico e o paciente tem o poder econômico.
Mutualista – Quando o paciente tem consciência dos seus direitos e da sua posição social.
Institucional – Realidade dos manicômios, onde o doente não tem poder e a reciprocidade não existe.
-A doença em si não é o problema, mas sim o tipo de relação que se estabelece com o doente, sendo ela mais equilibrada quando há algum poder contratual ou totalmente opressora quando institucionalizada.
-Um equizofrênico rico em uma clínica particular terá um diagnóstico e um tratamento totalmente diferenciado de um esquizofrênico pobre cuja única opção é a internação forçada em um hospital público psiquiátrico. "O poder des-historificante, destruidor, institucionalizante em todos os níveis da organização manicomial, aplica-se unicamente àqueles que não tem outra alternativa que não o hospital psiquiátrico".
-O internado é o objeto de uma violência institucional que atua em todos os níveis, já que qualquer ação contestadora sua será definida dentro dos limites da doença.
O texto traz referências históricas na Europa de tentativas de desinstitucionalização na implementação de comunidades terapêuticas e alerta para a crítica de que mesmo depois que o paciente é despido das estruturas institucionais, percebe-se que ele é ainda objeto de uma violência que a sociedade exerceu sobre ele, e que continua a exercer, na medida em que, antes de ser um doente mental, ele é um homem sem poder social, econômico ou contratual.
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