Caso clinico: Neurose obsessiva numa menina de seis anos (Melanie Klein)
Artigo: Caso clinico: Neurose obsessiva numa menina de seis anos (Melanie Klein). Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: vicenza • 12/10/2013 • Artigo • 1.666 Palavras (7 Páginas) • 3.302 Visualizações
Caso clinico: Neurose obsessiva numa menina de seis anos (Melanie Klein)
Erna era uma menina de seis anos que apresentava diversos sintomas considerados graves. Sofria de insônia, que em parte era ocasionada por uma angustia (tinha medo de ladrões e assaltantes) e em parte por uma série de atividades obsessivas. Deitava-se de bruços e batia violentamente a cabeça no travesseiro, fazia um movimento balanceado durante o qual permanecia sentada ou deitada de costas, chupava obsessivamente o polegar e se masturbava em excesso. Todas essas praticas obsessivas que lhe ocorriam à noite, repetiam-se também durante o dia. Isso ocorria particularmente com a masturbação, que praticava inclusive na presença de estranhos e ininterruptamente no jardim de infância que freqüentava. Erna sofria de depressões profundas, apesar de ser excessivamente afetuosa com a mãe, às vezes assumia uma atitude hostil. Dominava completamente a mãe, importunando- a com seu amor e seu ódio. Erna pode ser descrita como uma criança ineducável. Apesar de aparentar um rostinho tristonho, a garotinha apresentava um caráter adulto, cheia de ideias mórbidas e obsessivas, além de uma inusitada precocidade sexual. Na analise, o primeiro sintoma a se evidenciar foi sua grave inibição para aprender. Após a analise, Erna começou a freqüentar a escola e sua inaptidão para os estudos, tornou-se logo evidente, além de não conseguir se adaptar aos colegas e ao meio. A jovenzinha sentia-se doente e logo no inicio do tratamento pediu a Melanie Klein que a ajudasse.
Dentre vários brinquedos presentes na mesa, Erna escolheu um carrinho para brincar e o empurrava em minha direção. Disse que tinha vindo me buscar, mas colocou uma boneca no carro e depois um boneco. Ambos beijavam-se e abraçavam-se amorosamente enquanto o carrinho corria para cima e para baixo. A seguir, um boneco que dirigia um outro carrinho colidiu com eles, esmagou-os, matou-os, assou-os e os engoliu. Em outro momento, a luta teve um final diferente e o boneco agressor foi derrubado, entretanto, a mulher o ajudou e consolou-o após ter divorciado de seu primeiro marido. Em seus jogos, Erna atribuía a esse terceiro personagem diversos papéis, era, por exemplo, um ladrão que invadia uma casa ocupada por um casal, onde estes morrem queimados sobrevivendo apenas o ladrão, ou esse terceiro personagem era um irmão que vinha visitar a mulher, mas arrancava-lhe o nariz com uma mordida. Este terceiro personagem era a própria Erna. Toda uma série de jogos similares traduziam seu desejar de suplantar o pai junto à mãe, embora em muitos outros jogos se manifestasse seu desejo edípico de despojar a mãe e conquistar o pai. Em outra ocasião, um professor e uma professora davam aulas de boas maneiras aos alunos, representados por bonecos. As crianças mostravam-se obedientes, mas subitamente, atacaram os professores, os pisotearam, os mataram e os assaram.
Novamente, Erna mostra indícios de agressividade e violência em seus relatos. Melanie Klein destaca a rivalidade que Erna tinha para com sua mãe, algo que podia ser explicitado através de jogos durante a análise. A garotinha deixava claro sua vontade de arrancar o nariz de Klein com uma dentada, algo que já havia mencionado desde a primeira sessão, tinha feito inclusive várias tentativas. Assim, ela revelava sua identificação com o “terceiro personagem”. Outro ponto importante era o recorte de papel durante a análise, momento em que Erna mostrava seus impulsos sádicos e canibais e ao mesmo tempo representava a destruição dos órgãos genitais de seus pais ou do corpo inteiro de sua mãe. Ao mesmo tempo, ela exprimia suas tendências reativas, pois ao recortar um objeto, como um bonitinho guardanapo, por exemplo, ela recriava o que fora destruído. Nos jogos com água, a garotinha pode mostrar suas fantasias oral-sadicas, uretral-sádicas e anal-sádicas. Assim, por exemplo, ela brincava de lavadeira e usava pedaços de papel para representar as fraldas sujas de um bebe. Erna mascava os pedaços de papel que representavam excrementos, fraldas sujas e bebes, manifestando assim, seus impulsos coprofilicos e canibais.
Em certo momento durante uma sessão, a garota declarou que havia uma criancinha saindo dela e representou a cena do parto de maneira bastante realista, contorcendo-se e gemendo. Esse bebe imaginário deveria partilhar do quarto de seus pais e assistir suas relações sexuais. Se interrompesse essa relação, a mãe (representada por Erna) queixava-se ao pai, que batia na criança. O bebe era constantemente judiado e maltratado. Enquanto os pais alimentavam-se com manjares deliciosos feitos de creme, o bebe adoecia por ser alimentado com um mingau muito ruim. As fantasias de Erna, de que sua mãe incorporava o pênis e o esperma do pai durante o coito, e que no decorrer do mesmo o pai incorporava os seios e o leite de sua mãe, constituíam a base de seu ódio e de sua inveja contra os genitores.
Em sua imaginação, Erna que era filha única, preocupava-se com a chegada de irmãos e irmãs. Durante muito tempo Erna sofreu ataques de fúria e de angústia, no principio e no final de suas sessões. Segundo Melanie Klein, isso ocasionava-se em parte pelo fato da garota se encontrar com outros pequenos pacientes que também estavam ali para tratamento, imediatamente antes ou depois dela. Portanto, essas crianças representavam o irmão ou irmã que Erna não tinha, mas que poderia vir a ter, imaginá-los no corpo de sua mãe, ocupando um espaço supostamente seu, fazia com que ela sentisse temor e ciúmes, sentimentos de culpa derivados dos impulsos de agressão inconscientes. Os irmãos imaginários de Erna não passam no fim das contas de substitutos do pai e da mãe, talvez a isso se devesse parte desse sentimento de ódio.
Segundo Klein, a garotinha lhe ofereceu um fabuloso material sobre seus impulsos sádicos contra a genitora, mas nenhuma critica ou queixa foi verbalizada contra a mãe real. Apesar disso, Erna imitava a mãe de maneira exagerada e invejosa, por isso, Klein destacou sua dificuldade em estabelecer uma conexão entre fantasia e realidade. Por algumas vezes, Erna protegia-se da realidade, tentando esconder-se num mundo de sonhos, isso acontecia, por exemplo, quando ela imaginava carruagens e cocheiros a seu serviço, tendo as bonecas como
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