Discussão do filme Tarja Branca
Por: Charlison Silveira de Souza • 27/5/2017 • Trabalho acadêmico • 1.494 Palavras (6 Páginas) • 1.872 Visualizações
Discussão do filme Tarja Branca
O presente trabalho tem como referencial o artigo A educação, o brincar e a infância contemporânea de Ana Marta Meira e o Documentário Tarja Branca. A partir desses referenciais tem-se o intuito de destacar o papel do brincar como uma ação política, subjetivante e terapêutica, inclusive refletindo sobre a escolha do título “Tarja Branca” e por fim, apresentar três cenas que ficaram marcantes no documentário e suas devidas justificativas. Destaco o trabalho, principalmente os momentos tangentes à escolha do título e as cenas destacadas estão repletos de minhas impressões e vivencias.
O documentário, por meio do depoimento de pessoas de diversas profissões, desde artistas a pesquisadores, fala sobre o brincar de uma mineira geral, dentre outros pontos, aborda o brincar durante a infância, o que ele significa, seu papel na educação e sua importância em todas as fazes da vida. Já o artigo apresenta reflexões sobre a infância contemporânea, destacando pontos como o brincar, a cultura, a educação e a arte.
O conteúdo do documentário permite refletir sobre o brincar como ação política na medida em que alguns dos discursos nele contidos abordam o brincar como a maneira pela qual a criança aprende achar solução para problemas, colaborar, conviver com os outros e se relacionar com o espaço ao seu redor. Essa experiência de troca também é destacada no artigo o qual a coloca como constituinte do brincar. Também é destacado que as trocas coletivas propiciadas pelo brincar convocam laços sociais e relações com a cidade. Além disso, é elucidado no artigo sobre o caráter de exploração do campo do desconhecimento que é possibilitado pelo brincar, para a autora, segundo as reflexões levantadas é nesse campo que se constituem o eu e as formações do pensamento.
Aliás, pode se compreender a partir de uma reflexão baseada no artigo que o papel do brincar como uma ação politica pode ser estimulado. Pautada em diversos autores Moreira (2012) cita que na Suécia, quase todas as escolas públicas atuam a partir de princípios de educação ativa e cooperação. As crianças recebem educação baseada em princípios igualitários, convivem entre vários grupos sociais, de várias idades na mesma classe e aprendem a constituir laços de solidariedade. São estimulas a aprender conviver com as diferenças, a compartilhar e a participar de seu entorno. Assim, sendo inicializadas em sua educação e “competência social em direção a processos democráticos”.
Todos esses itens citados que permitem que o brincar seja compreendido como uma ação política também possibilitam refletir o quanto ele também é importante na formação da subjetividade. Pois o convívio com a comunidade e tudo que está presente nela, incluindo todas as manifestações de cultura, muitas delas exemplificadas no artigo e no vídeo, fazem parte do desenvolvimento do ser humano.
Para além de ser imprescindível para a constituição da subjetividade, o brincar também está presente na manifestação dessa subjetividade, inclusive, no filme é mencionado que a brincadeira pode ser compreendida como a linguagem da criança, ou seja, pode ser considerada uma importante forma de expressão da subjetividade. A partir do vídeo compreende-se que essa expressão subjetiva também está clara em diversas manifestações artísticas que envolvem o brincar.
Esse papel subjetivante do brincar também está destacado no artigo mencionado o qual afirma o brincar e os laços sociais como fundamentais na educação de crianças e em seu processo de subjetivação. De acordo com o texto, para crianças espaços de transmissão cultural que se realizam, por exemplo pela via do teatro e do circo nos quais a presença do outro é imprescindível e em que as crianças são convocadas experienciar a fantasia são vias que convocam à criação. A relação com esses espaços pode ser vistas como processos subjetivantes, que possibilitam que por meio da brincadeira as crianças reinventem cenas que as marcam, do sua maneira particular, ou seja, com seu próprio enredo, “enlaçando sua fantasmática a uma dimensão na qual constituem a imagem de si e de seu corpo” (p. 175).
Além desses papeis de ação política e subjetiva a brincadeira também pode ser vista a partir de seu papel como ação terapêutica. Essa característica do brincar é elucidada em vários discursos do “Tarja Branca”, dentre eles, que o brincar é capaz de fazer a alma ficar cheia; crianças que tem alegria e prazer crescem otimistas e quem brinca é mais feliz.
No documentário também é comentado sobre o quanto pode ser prejudicial não ter espaço para se brincar, tanto durante a infância, como frequentemente tem ocorrido a partir da sobrecarga de atividades impostas às crianças e da restrição de tempo livre, quanto na vida adulta, na sociedade capitalista, em que muitas pessoas “fazem coisas que não gostam para que o mundo funcione”. Consequentemente as pessoas brincam menos e sofrem mais com problemas como a ansiedade, a frustação, insegurança e o medo.
O artigo também aborda sobre essa redução do brincar na sociedade contemporânea e suas consequências, um dos pontos levantados é que devido ás formações da sociedade capitalista no sistema escolar, e as frequentes posições de controle sobre as crianças assumidas pelos professores, subtraindo os espaços lúdicos. Ainda, o discurso social sobre as crianças, a escola e a cidade tem como sintomas recorrentes o isolamento, a hiperatividade, a depressão e a violência.
Diante do exposto fica evidente a ação terapêutica do brincar. Essa característica é referenciada até mesmo no título do documentário, “Tarja Branca”. No filme é falado que o nome se refere a uma ‘medicina psicolúdica’, além disso, é dito que é a palavra que concerta as pessoas. E possível compreender que o brincar é referenciado no filme como algo capaz de trazer alegria, algo que pode afetar e transformar de maneira positiva a vida daqueles que o exercem, tendo ação lúdica e terapêutica sobre a vida dessas pessoas. Considerando que a tarja dos medicamentos indica o grau de risco, ou seja, perigo que aquela medicação pode oferecer à saúde e que os medicamentos identificados com a tarja preta são os que representam maior risco a saúde e portanto necessitam de maior controle de uso, a medicação de tarja branca pode ser entendida como aquela que oferece risco mínimo, ou inexistente a saúde, podendo ser adquirida e usada sem nenhum controle. Com base no filme acredito que a indicação dessa medicação ‘psicoludica’ seria a maior dose possível e que isso seria capaz de ‘concertar’ a vida, trazendo mais felicidade.
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