RESENHA DO DOCUMENTÁRIO: “TARJA BRANCA: A REVOLUÇÃO QUE FALTAVA”
Por: Thaiani Daniëls • 9/9/2020 • Resenha • 794 Palavras (4 Páginas) • 1.017 Visualizações
RESENHA DO DOCUMANTÁRIO: “TARJA BRANCA: A REVOLUÇÃO QUE FALTAVA”
Ao assistir o documentário brasileiro “Tarja-branca: A revolução que faltava”, com direção de Cacau Rhoden (2013), permite-se aceitar o convite para acessar nossas memórias infantis e querer retornar ao ser brincante, ou melhor, reavivar ele ao se permitir ter liberdade, ao se permitir brincar. Há, portanto, uma chamada para reacender o lúdico e apreciar o viver presente na brincadeira.
A partir de diversos depoimentos de diferentes adultos – em suas profissões, regionalidade, idade, gênero –, é possível acessar palavras que movem. Na tentativa de explicar o que é o brincar, foram produzidas falas das quais definem o brincar como “uma coisa do homem, é uma coisa do ser humano, é uma expressão. Vem de diferentes formas, nas diferentes etapas da vida, mas ela está presente sempre” ou ao dizer que o brincar é “uma linguagem do espontâneo”.
Faz-se importante comentar que o documentário começa apresentando diversas brincadeiras e lembranças dos que dão os depoimentos, com um sorriso atrelado às memórias. O brincar leva às descobertas da vida, à potência criativa, ao início da linguagem humana na infância; já na idade adulta, resulta principalmente na busca e aprofundamento da unidade de cada um, uma unidade brincante, conectado ao seu eixo. Como dito no filme, é “um ato que rompe o tempo e espaço. Inaugura um outro tempo e espaço, e uma conexão - que é uma conexão de vínculo. Eu e o mundo”.
Em seguida, o documentário reacende a conexão do brasileiro e sua ancestralidade indígena e africana. Dessa forma, coloca-se em destaque a natureza brasileira provinda da liberdade, na experiência com a natureza, a música, a dança, o corpo, a alegria. Em um dos depoimentos, é chamada a atenção de que o “essencial do brincar é a liberdade de tempo, liberdade de espaço e liberdade de criação”. Ademais, o documentário aposta em comentar sobre a cultura popular e a espiritualidade brasileira, como expressões de alegria através do brincar, quando disseram que “isso é a mesma raiz da brincadeira que a criança ‘tá’ fazendo”.
Neste cenário, um aspecto que chama bastante atenção no documentário é a questão do molde dessa espontaneidade a partir da educação. Faz-se notar este assunto com a fala: “a gente nasce com um potencial 100% de liberdade. A princípio, aquele ser humano pode fazer tudo e pode se transformar em tudo, só que ele vai ser moldado”. Desse modo, é importante frisar que a criança tem a habilidade e característica de impressionar-se facilmente. Ela possui essa inquietação da existência, nata da constituição do filosofar.
Cabe comentar, então, que as crianças são pequenos filósofos pela sua curiosidade perante o mundo e não viver com verdades absolutas já consolidadas. Tudo a elas é novo, o mundo é uma imensidão a se explorar. Entretanto, a curiosidade é algo vulnerável que, diante de certos adultos, pode não ser bem recebida e assim estes fazerem a criança ver que sua curiosidade não é bem vinda. Perante moldes, é possível extinguir esse instinto curioso, matando a capacidade criativa e inventiva do humano.
Quando se reprimem as crianças, poda-se a sua liberdade, fazendo-as crer ser um problema seu excesso de energia. Inclusive, excesso já traz essa ideia de ser um problema e não uma qualidade. E então, ao invés de se incentivar esses impulsos questionantes e brincantes de forma saudável, passa a se preocupar no escoamento deles, já fazendo uma abertura para uma possível medicalização da criança com o uso de tarja preta. Portanto, como enunciado no filme, “uma das faixas mais atribuladas é a infância, porque está se matando o ser humano no seu início, na medida em que impedem que ele use a língua deles – que é uma língua universal –, que é o brincar”.
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