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EMBARAÇOS NO DISCURSO DA MEDIEVALIZAÇÃO INFANTIL: Contribuições da psicanálise

Por:   •  15/11/2019  •  Artigo  •  7.952 Palavras (32 Páginas)  •  152 Visualizações

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EMBARAÇOS NO DISCURSO DA MEDICALIZAÇÃO INFANTIL:

contribuições da psicanálise

Camila da Costa Pereira*

Pedro Lúcio Duarte de Paula**

RESUMO

Este estudo propõe analisar o discurso sobre medicalização infantil a partir da interface entre a psicanálise e a cultura, considerando o sintoma como forma de expressão singular do sujeito. A medicalização ocorre quando a medicina se apropria do discurso moral e transforma as questões sociais em biológicas. Portanto a finalidade da pesquisa não é negar a eficácia dos recursos medicamentosos, mas questionar a generalização dos diagnósticos e do discurso cientificista que estabelece um padrão universal de comportamento para todas as crianças. Buscou-se como objetivos específicos, analisar os impasses da medicalização infantil a partir de uma perspectiva ideológica, fazendo uma diferenciação entre o discurso da psicanálise e da medicina e ainda, compreender qual a contribuição da psicanálise dentro das instituições escolares. A pesquisa se desenvolveu de maneira qualitativa, por meio de uma pesquisa bibliográfica descritiva. Foi utilizada a análise de conteúdo a partir do aparato psicanalítico que teve como resultados categorias emergidas à luz do referencial, e como ilustração das mesmas, utilizou-se relatos de fragmentos de casos clínicos relacionados às demandas escolares. Contudo, se o fracasso escolar surge diante de um efeito da relação aluno e professor a partir de uma lógica que implica as relações de poder, o estado, a família, o discurso capitalista e a ciência, a psicanálise aposta que uma saída para esses desencontros e embaraços discursivos, é a possibilidade da criança produzir um saber próprio sobre aquilo que a afeta fora das nomeações designadas pelo discurso cientificista

Palavras-chave: Medicalização Infantil. Psicanálise. Sujeito. Social.

ABSTRACT

This study proposes to analyze the discourses on infant medicalization from the interface between psychoanalysis and culture, considering the symptom as a form of singular expression of the subject. Medicalization occurs when medicine appropriates moral discourse and transforms social issues into biological ones. This research is not intended to deny the efficacy of medication resources, but to question the generalization of diagnoses and the scientific discourse that establishes a unique model of behavior for all children. The specific goals of this study were to analyze the impasses of infant medicalization from an ideological perspective, making a distinction between the discourse of psychoanalysis and medicine, and also to understand the contribution of psychoanalysis within school institutions. The research was developed in a qualitative way, through a descriptive bibliographical research. The analysis of content was made from the psychoanalytic apparatus which resulted in categories emerged in the light of the referential and, as an illustration of them, using reports of fragments of clinical cases related to school demands. However, if school failure arises in the face of an effect of the pupil and teacher relationship from a logic that implies relations of power, state, family, capitalist discourse and science, psychoanalysis bets that an outlet for these mismatches and discursive embarrassment, is the possibility of the child to produce a self-knowledge about what affects it outside the nominations designated by the scientific discourse.

Keywords: Child Medication. Psychoanalysis. Subject. Social.

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  1. APRESENTAÇÃO

A “medicalização” infantil tem aumentado excessivamente, com uma incidência maior no período escolar. A classificação diagnóstica tem sido percebida por muitos profissionais da saúde e da educação como a única forma de lidar com as demandas e conflitos da criança desde muito cedo. Percebe-se que a generalização dos diagnósticos infantis, principalmente em relação ao transtorno de atenção e hiperatividade (TDAH), tem sido definida por muitos profissionais como uma categoria nosológica da medicina sem levar em consideração os aspectos culturais e simbólicos do contemporâneo, o que infere em diversas consequências, bem como, o preconceito no cotidiano escolar, rótulos e vício medicamentoso (MOYSÉS, 2013).

Para Moysés (2013), a medicalização ocorre quando a medicina se apropria do discurso moral e transforma as questões sociais e culturais em biológicas. A sexualidade, a alimentação, os hábitos e os relacionamentos da esfera social passam a ser avaliados a partir de uma ótica patologizante. O objetivo da medicalização é atuar como intervenção política no “corpo social”, diferentemente do ato de medicar que consiste na administração de remédios que visam a cura ou alívio de um determinado sintoma. Nesse sentido, a pesquisa não tem como finalidade negar a eficácia dos recursos medicamentosos, já que em alguns casos, seu uso é imprescindível. O que se questiona afinal é a generalização dos diagnósticos e do discurso cientificista que estabelece um modelo de comportamento padrão para todas as crianças.

A discussão dessa temática se apresenta bastante relevante para a psicologia, pois visa contribuir para a comunidade científica e para a equipe de saúde e educação por meio do exercício crítico que propicia pensar em maneiras de perceber a criança e compreender o indivíduo em seu contexto atual sob a ótica da medicalização infantil mediante as peculiaridades do corpo e a inadequação das normas que fundamentam o lugar do sujeito no imaginário coletivo. Baseando-se nesse estudo, este projeto se desenvolveu de maneira qualitativa, por meio de uma pesquisa bibliográfica descritiva que teve como questão norteadora: Quais as contribuições da interface entre a psicanálise e a cultura para analisar os aspectos que incidem na medicalização infantil?

O objetivo geral do trabalho é analisar a medicalização e sua repercussão para a criança considerando o sintoma como forma de expressão singular do sujeito. Para atingir o objetivo geral apresentado foram propostos os seguintes tópicos: analisar os impasses da medicalização infantil a partir de uma perspectiva ideológica, descrever os aspectos referentes à medicalização infantil através de uma diferenciação do discurso da psicanálise e da medicina e por fim, compreender qual a contribuição da psicanálise dentro das instituições escolares.

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