FATORES PSICOSSOCIAIS RELACIONADOS À EPILEPSIA
Por: tassiagio • 18/11/2019 • Trabalho acadêmico • 1.621 Palavras (7 Páginas) • 202 Visualizações
Fatores psicossociais relacionados à epilepsia
Rio de Janeiro
2019
FATORES PSICOSSOCIAIS RELACIONADOS À EPILEPSIA
Rio de Janeiro
2019
Sumário
1. Objetivo 4
2. Método 4
3. Introdução 4
4. Desenvolvimento 5
5. Conclusões 6
Referências 7
Objetivo
A epilepsia é um transtorno mental de extrema relevância para a saúde pública. Atinge cerca de 50 milhões de pessoas em 108 países, sendo a doença neurológica mais comum na população em geral (ILAE). Esse trabalho tem como objetivo destacar a relevância de alguns dos principais fatores psicossociais associados à epilepsia.
Método
Esse trabalho teve como delineamento uma Pesquisa Bibliográfica de 15 artigos, identificados com as palavras-chave “epilepsia”, “qualidade de vida”, “epistemologia” e “estigma”.
Introdução
Crise epiléptica é uma ocorrência transitória de desequilíbrio na condução dos sinais elétricos no cérebro. Para o diagnóstico de epilepsia ser dado, é necessário que a pessoa apresente a repetição dos ataques epilépticos num intervalo maior que 24 horas e que não seja por uma origem provocada, ou seja, que não tenha sido ocasionado por febre, uso de drogas, ou distúrbios metabólicos. O diagnóstico é clinico e conta com auxílio de exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem, além do testemunho de alguém que tenha presenciado o evento. A causa da epilepsia nem sempre é identificada, mas pode ser atribuída à traumas cranianos, abuso de drogas e tumores (ILAE, 2014; FISHER et al. 2017).
A história da epilepsia é cercada por mitos e atribuições sobrenaturais. Seu próprio termo tem origem grega que significa “ser tomado”, denotando a crença de possessão por espíritos malignos. Segundo a revisão epistemológica de Gomes, o trajeto de pessoas epilépticas inclui a segregação desses pacientes na Roma antiga, perseguição na Idade Média como consequência da rotulação de bruxaria e, até 1970, a proibição do casamento em alguns países do mundo (GOMES, 2006).
O relato mais antigo de epilepsia é de Babilônia, escrito há 1000 a.C. Desde então, muitas tentativas cruéis almejando a cura da epilepsia podem ser citadas, tal como a trepanação craniana (KINNIER, 1990). Hipócrates foi pioneiro em postular que a epilepsia não tinha origem divina e chamar atenção para sua causa cerebral. No entanto, seus esforços não foram suficientes para derrubar a visão sobrenatural da época.
Hoje, embora o mito da epilepsia como uma maldição tenha sido abandonado, ainda há um estigma social para muitos pacientes epilépticos. O avanço tecnológico e crescimento de pesquisas conceituando a epilepsia não foi suficiente para parar esse estigma social. Foi identificado que é necessária uma integração biopsicossocial, ou seja, uma campanha de conscientização global da epilepsia (ILAE/IBE/WHO).
Desenvolvimento
Fernandes et al. (2006) relaciona a epilepsia e o estigma na qualidade de vida, defendendo que os fatores sociais na epilepsia são piores que a doença em si. Fatores como o preconceito e o medo de perder o controle levam a problemas psicossociais, como o isolamento social (FERNANDES et al, 2006).
Na infância inicia o estigma, uma vez que a família apresenta comportamentos inadequados, como tratar a criança como invalida e já esperar um déficit cognitivo. Essa expectativa que uma criança com epilepsia vai apresentar comprometimento intelectual parece colaborar essa ideia (THOMPSON et al., 1991; THOMPSON et al., 1994; LEWIS et al., 1991; FERNANDES et al., 2001).
Na adolescência, há um desejo de autonomia que é conflitante com suas proibições (dirigir, ingestão de álcool, etc.) e o medo de ter crises em público, tendo uma consequente exclusão social. Esse processo abala a autoestima e confiança dos jovens e, por sua vez, limitam seu crescimento pessoal e profissional (HERRANZ, 1999).
Taylor et al. (2011) fez uma revisão sistemática com 53 artigos preditores da qualidade de vida (QDV) na epilepsia. Não foi encontrada significante associação entre a QDV e aspectos demográficos - gênero, idade, matrimônio. Fatores como frequência da convulsão e tratamento da epilepsia apresentaram correlação preditiva na QDV, embora inconsistente entre os estudos. O maior consenso, no entanto, foi que a presença de uma condição psiquiátrica definida como “comorbidade” estava associada com uma pobre QDV em comparação com quem não apresentava. Especialmente, depressão e ansiedade parecem ser consistentes para negativa associação entre QDV (TAYLOR et al. 2011).
Em um estudo ocorrido na Europa, foi relatado por portadores de epilepsia a dificuldade de conseguirem emprego e de permanecerem nele. Eles viram que a baixa oportunidade de emprego e os menores salários de pessoas epilépticas estão relacionadas com as crises epilépticas no ambiente de trabalho. Foi visto também que indivíduos cuja família apresentava comportamento superprotetor, desenvolviam uma menor capacidade de viver de forma mais independente e autônoma, o que resulta em uma menor qualidade de vida de pessoas epilépticas em relação àqueles com um estilo de vida oposto (CABRAL et al., 2004).
Em relação a terem filhos, entre as pessoas com epilepsia, há um receio quanto aos riscos presentes na gestação. Dentre esses riscos estão envolvidos a amamentação e a má formação. Há, ainda, a medicação utilizada para controlar as crises, que possibilita uma maior chance de problemas gestacionais, sendo que o número frequente de crises epilépticas também. Em um estudo feito na Tanzânia, foi observado que o medo dos filhos nascerem com a doença e o medo do contágio, são questões que tornam mais difícil aos portadores de epilepsia encontrarem um parceiro para casar. Além disso, há casos de divórcio que acontecem por motivo de um dos dois do casal serem portadores de epilepsia e muitas vezes estes se casam sem contar ao parceiro sobre sua condição de saúde (RODRIGUES et al, 2005).
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