LIMITES ENTRE O PÚBLICO E PRIVADO NAS RELAÇÕES DE ADOLESCENTES ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS VIRTUAIS
Por: Vanina Dias • 15/10/2018 • Artigo • 5.335 Palavras (22 Páginas) • 323 Visualizações
LIMITES ENTRE O PÚBLICO E PRIVADO NAS RELAÇÕES DE ADOLESCENTES ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS VIRTUAIS
[BOUNDARIES BETWEEN PUBLIC AND PRIVATE RELATIONS OF TEENAGERS THROUGH VIRTUAL SOCIAL NETWORKS]
Vanina Costa Dias
Fundação Pedro Leopoldo e
Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais.
vaninadias@gmail.com
Resumo: Este estudo objetivou analisar como se dão os processos de subjetivação de adolescentes a partir de suas relações nas redes sociais. Adotando a Netnografia, discutiram-se temáticas pertinentes ao uso dessas redes, compreendendo como esse uso influencia no processo de subjetivação dos adolescentes. Pretendeu-se mostrar de que forma o espaço virtual pode ser ao mesmo tempo um espaço público, onde a ação e o discurso de cada um ganham sentido na medida em que compartilham ideias e sentimentos comuns, e um espaço privado que se configura como um lugar do íntimo e da constituição de sua individualidade. A partir dos conceitos de virtual e atual desenvolvidos por Deleuze (1996) e de espaço público e privado discutidos por Arendt (1981), percebeu-se como os adolescentes constroem sua expressão da vida pública e privada compartilhados por eles nas redes sociais e assim constituem sua subjetividade.
Palavras-chave: Público e privado; adolescência; redes sociais.
Abstract: This study aimed to analyze how are the subjective processes of adolescents from their relationships on social networks. Adopting Netnography, discussed relevant themes to the use of these networks, including such use influences the subjective process of adolescents. It was intended to present how the virtual space can be both a public space where the action and discourse of each acquire sense in sharing ideas and common feelings, and a private space that is configured as a place the intimate and the establishment of their individuality. From the concepts off virtual and current developed by Deleuze (1996) and public and private space discussed by Arendt (1981), it perceives how adolescents build their expression of public and private life shared by them on social networks and thus constitute their subjectivity .
Keywords: Public and private; adolescence; social networks.
INTRODUÇÃO
O modo como as tecnologias da informação e comunicação, principalmente a Internet com suas ferramentas de comunicação, têm mudado radicalmente a vida cotidiana da população do mundo já foi contada inúmeras vezes, com diversas versões. Seus efeitos estendem-se a instituições, processos sociais, relações interpessoais, estruturas de poder, trabalho, lazer, educação, e também às próprias pessoas como sujeitos individuais.
A introdução das chamadas novas mídias em nosso dia a dia, possibilitada principalmente pela internet, meio de comunicação fundamental enquanto nova forma de interação humana, tem sido, em determinadas situações, mal entendida e mal interpretada. É fato também que a própria noção de sociabilidade tem se transformado. Como afirma Tapias (2006):
As novas tecnologias da informação e da comunicação configuram um mundo-rede de fronteiras indefinidas que é o nosso. Em meio a ele, procuramos reorientar-nos – nós, seres humanos, de uma civilização ‘real-virtual’ – querendo talvez delinear de novo mapas impossíveis, quando os horizontes antes conhecidos já se esfumaram. (TAPIAS, 2006, p. 7)
Diante dessa realidade virtual que vem fazendo parte das diversas dimensões de nossas vidas, e da demanda por compreender como essa realidade vem fazendo parte da rotina dos adolescentes com os quais convivo diariamente em meu consultório, dei início à minha investigação.
Essa investigação teve como objetivo principal analisar como se dá a constituição dos processos de subjetivação de adolescentes a partir de suas relações nas redes sociais virtuais. Adotando a Netnografia como metodologia, foi formado um grupo secreto no Facebook com adolescentes de 14 a 18 anos, estudantes de uma escola pública e outra particular de uma cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, adolescentes estes especificamente convidados para essa pesquisa. O grupo ficou no ar durante treze semanas entre setembro e dezembro de 2013. Ao longo desse período foram discutidas temáticas pertinentes ao uso das redes sociais, buscando-se compreender como esse uso influencia no cotidiano desses adolescentes, e no processo de subjetivação dos mesmos, tais como: a descoberta das redes sociais, as ferramentas e aplicativos utilizados, o contato com os amigos reais e virtuais, a mediação dos pais, os limites, os riscos e as oportunidades proporcionadas pelo uso das redes. Além dessas temáticas foram acrescentadas discussões pontuais, trazidas pelos próprios adolescentes como a influencia das redes sociais em processos sociais e políticos que se passavam no Brasil naquele momento e situações danosas divulgadas pela mídia ocorridas com adolescentes usuários de redes sociais virtuais.
No percurso da pesquisa, busquei caracterizar o perfil dos adolescentes usuários de redes sociais, analisando as condições concretas de utilização, bem como identificando as modalidades e os tipos de utilização que os adolescentes fazem das redes sociais na atualidade. Neste contexto a pesquisa também buscou investigar como o uso das redes sociais reinventa as formas de estabelecer relações interpessoais fora das redes sociais e identificar, em que medida, o acesso às redes sociais produz novos modos de subjetivação nesses adolescentes.
No recorte da pesquisa aqui relatado minha intenção é mostrar de que forma, esse espaço virtual, cada vez mais frequentado pelos adolescentes, pode ser ao mesmo tempo um espaço público, no qual a ação e o discurso de cada um podem ganhar sentido na medida em que compartilham ideias e sentimentos comuns, e um espaço privado que se configura como um lugar do íntimo e da constituição de sua individualidade. Na pesquisa, a partir dos conceitos de virtual e atual desenvolvidos por Deleuze (1996) e de espaço público e privado discutidos por Arendt (1981), foi possível perceber que meninos e meninas constroem de forma diferenciada sua ação e expressão da vida pública e privada nos espaços compartilhados das redes sociais.
Constituindo a subjetividade numa perspectiva moderna
A concepção de modernidade centralizou a subjetividade na figura de cada pessoa, trazendo com ela toda uma preocupação com a preservação de sua interioridade, com o respeito à sua privacidade e com uma separação entre um universo público e privado. Nesse sentido, o processo de constituição da subjetividade moderna foi longo e continua sofrendo modificações intensas até a atualidade.
Partindo da concepção deleuziana, entendemos que subjetividade é um processo de produção incessante que acontece a partir de nossos encontros com o outro, compreendendo esse outro não só como o outro social, mas também a natureza, os acontecimentos e outras diversas situações que produzem efeito sobre nossos corpos e em nossos modos de viver. Um outro que pode ser humano e não humano.
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