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Medicamentalização Infantil

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Por:   •  30/8/2014  •  5.835 Palavras (24 Páginas)  •  500 Visualizações

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HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL INFANTIL: A CRIANÇA BRASILEIRA DA

COLÔNIA À REPÚBLICA VELHA

Paulo Rennes Marçal Ribeiro*

RESUMO. Este texto descreve a trajetória da Saúde Mental e dos cuidados à infância no Brasil da Colônia à República Velha.

No período colonial não havia cuidados especiais à criança. O que temos para compreender a criança colonial são relatos

descritos em documentos, tratados e cartas da época, e em descrições de viajantes que aqui aportaram para conhecer o Novo

Mundo. Depois do século XVIII a urbanização das cidades requer a intervenção médica nas questões de higiene e saúde, e

gradativamente muda a concepção de criança, primeiro na Europa, depois no Brasil, chegando o século XIX com médicos

preocupados com a questão da mortalidade infantil e com os cuidados que se deveria ter com a criança, negligenciada até

então. É no século XIX que se inicia a institucionalização dos saberes médicos e psicológicos aplicados à infância e é quando

podemos obter mais registros sobre que cuidados eram reservados à criança.

Palavras-chave: saúde mental, infância, história da infância.

HISTORY OF CHILDHOOD MENTAL HEALTH: BRAZILIAN

CHILD FROM COLONY TO OLD REPUBLIC

ABSTRACT. This paper proposes a reflection on Child Mental Health in Brazil and describes the process of constitution and

development of medical, psychological and psychiatric care to children from Colony to Old Republic. In the colonial period

there are reports and documents written by voyagers. In the 18th century a new concept of childhood was developed and in the

19th century the main concern about infancy was mortality and family care.

Key words:Mental health, childhood, history of childhood.

* Doutor em Saúde Mental. Professor do Programa de Pós- Graduação em Educação Escolar da Universidade Estadual Paulista-

UNESP, em Araraquara.

Este artigo, em sua forma original, corresponde ao

resultado de uma pesquisa bibliográfica e documental

em fontes primárias e secundárias, desenvolvida como

parte das atividades do Estágio de Pós-Doutorado

realizado pelo autor no Instituto de Psiquiatria da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, objetivando

apresentar a constituição dos saberes psicológicos e

psiquiátricos acerca da infância no Brasil a partir de

obras dos séculos XIX e XX encontradas na Biblioteca

Nacional do Rio de Janeiro e na Biblioteca do Hospital

do Juquery.

A Saúde Mental Infantil no Brasil, enquanto

campo de intervenção, cuidados e estudos sobre a

criança, não teve nada estruturado ou sistematizado até

o século XIX, quando surgiram as primeiras teses em

psicologia e em psiquiatria, e quando foi criado o

primeiro hospital psiquiátrico brasileiro – o Hospício

D. Pedro II, em 1852 – seguido de vários outros ao

longo do território nacional.

Sobre a Colônia, Gilberto Freyre (1978), no

clássico Casa Grande & Senzala, cita estudos e

autores que se referem à criança do período colonial e

do Império, mas são textos sobre as doenças mais

comuns, a mortalidade infantil acentuada, as crendices,

os costumes, o comportamento.

Em um sistema patriarcal, onde a autoridade sem

limites do senhor de engenho ditava as normas e regras

a serem seguidas - é claro, sob os ditames da tradição e

da Igreja - o castigo físico era prática corrente na

educação das crianças: a palmatória e a vara de

marmelo eram companheiras zelosas do bom

comportamento; e quanto mais cruel era a família com

a criança, mais cruel era a criança com os animais e

com os escravos companheiros dos seus folguedos.

Por outro lado, os sofrimentos impostos às

crianças levavam-nas a desenvolver problemas

emocionais. Freyre (1978) assinala que “muito menino

de formação patriarcal sofria de gagueira; muito aluno

30 Ribeiro

Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 29-38, jan./abr. 2006

de colégio de padre, também”. Escreve que tanto a

educação da casa-grande quanto a do colégio religioso

se empenhavam em “quebrar a individualidade da

criança, visando adultos passivos e subservientes” (p.

367).

Havia também as doenças que costumavam afligir

e dizimar as crianças, como o sarampo, a varíola,

verminoses, dermatoses, tinha e sarna, além da

infecção chamada “mal-de-sete-dias”, resultante da

inflamação do umbigo do recém-nascido (Santos Filho,

1991).E

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