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Métodos e Técnicas de Pesquisa em Psicologia

Por:   •  12/11/2022  •  Artigo  •  1.736 Palavras (7 Páginas)  •  229 Visualizações

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SUDOESTE PAULISTA

CAROLINE FURTADO CRUZ

MEU DESENVOLVIMENTO

ITAPETININGA

2021

CAROLINE FURTADO CRUZ

MEU DESENVOLVIMENTO

Trabalho apresentado como requisito parcial para complementação de carga horária na disciplina Psicologia do Desenvolvimento I: psicologia infantil, na Graduação em Psicologia do Centro Universitário Sudoeste Paulista - UniFSP.

Docente: Prof. Me. Flávio Henrique Firmino

ITAPETININGA

2021

        Fecho os olhos na intenção de ser transportada através do espaço-tempo e reviver o passado que me trouxe até aqui. À medida que os cerro com mais força, a escuridão vai se dissipando, transformando-se em vermelhidão. Formas geométricas surgem junto de pontos de luz e cores brilhantes que, de repente, desaparecem.

Sinto como se existisse um abismo entre a minha concepção e a minha pré-adolescência. Não que eu me recorde do momento em que fui concebida – e devo confessar que sou muitíssimo grata por isso. Mas como isso é possível: não ter acesso às memórias que antecederam a minha puberdade?

Após inúmeras tentativas frustradas de romper as barreiras que me impedem de visualizar a minha própria história, recorro às ferramentas responsáveis pela minha construção como ser no mundo: meus pais. Diante de seus relatos, que não são totalmente precisos ou ricos em detalhes, ambos reforçam o fato de eu ter sido, desde sempre, uma criança tranquila, extremamente tímida e introspectiva. A partir disso, começo a ter alguns insights que me levam a vislumbrar partículas de episódios específicos.

Me lembro do meu irmão mais novo, Guilherme, chorando sempre que éramos deixados na escola. Não sei se, em algum momento, me foi dito que eu deveria protege-lo ou se isso me é inato. O fato é que sempre que o via assustado, lá estava eu, seguindo o meu instinto protetor e cumprindo o papel de irmã poucos meses mais velha.

Os garotos, raramente mais baixos que ele, se divertiam enquanto zombavam de sua altura e o agrediam. Meu sangue naturalmente fervia quando isso acontecia ao alcance dos meus olhos ou quando ele corria até a minha sala de aula, relatando o ocorrido, amedrontado. Defendê-lo era instintivo e, muito embora jamais tenha devolvido algum tipo de agressão, eu o fazia através de olhares punitivos contra aqueles que o tinham ferido, ao passo que o afastava do “perigo”, abrigando-o em meus braços.

Certa vez, num dia em que fazia muito frio, estávamos, meus colegas e eu, sentados em círculo, aguardando a professora retornar à sala para iniciarmos as atividades. Eu contava com cerca de seis ou sete anos de idade e usava um gorro, que me foi estupidamente tirado da cabeça e atirado, de um lado para o outro, entre os garotos.

Revivendo mentalmente o episódio, sinto um leve desconforto no estômago, talvez o mesmo que eu tenha sentido na época. Me vejo exatamente assim: em pé, estática no meio daquele círculo e extremamente envergonhada. Nenhuma sílaba era capaz de sair da minha boca e eu conseguia fazer nada além de olhar para os meus próprios pés.

Um barulho na porta sinalizou o retorno da professora e, imediatamente, todos se sentaram, exceto aquele que estava em posse do gorro e eu. Parado à minha frente, ali vi a oportunidade de pegar de volta aquilo que era meu. Ao fazê-lo, o garoto me devolveu um soco no braço direito, sentou em seu lugar e todos permaneceram em silêncio ao serem questionados se havia acontecido algo na ausência da educadora, inclusive eu.

Por que eu não conseguia me mover ou me defender, da mesma forma que fazia quando se tratava do meu irmão? Por que meus olhos eram incapazes de encarar aquelas crianças? Por que eu silenciava as queixas, as dores e até mesmo o meu próprio choro?

Isso tudo se estendia até o âmbito familiar: eu não conseguia relatar aos meus pais as coisas que me aconteciam e que me doíam, sequer sabia como dizer quando alguma briga entre os meus irmãos e eu ocorria. Era mais confortável, aparentemente, e até preferível suportar e lidar com tudo sozinha a ter que envolver as pessoas em problemas.

Às vezes, penso que herdei essa característica, a qual costumo chamar de força interna, da minha avó materna. Era nítido quão forte ela era e, mesmo que inconscientemente, eu via nela o espelho do ser humano que gostaria de me tornar: uma mulher forte, independente, justa, guerreira e, acima de tudo, essencialmente humana. Apesar de todo o sofrimento acumulado ao longo dos anos e da maldade que a rodeava, ela sempre permaneceu serena diante dos acontecimentos. Não haviam queixas, julgamentos, vitimismo ou batalhas irrisórias. Ela simplesmente aceitava as coisas e as pessoas como elas eram e cuidava do entorno para que todos estivessem bem.

Talvez isso explique o fato de eu ter aprendido a colocar as necessidades alheias acima das minhas, de tentar desvendar e entender os motivos que se escondem por detrás das atitudes de cada um, antes de imediatamente julgá-las, e de estar sempre disponível e atenta para acalentar aqueles que buscam algum tipo de abrigo em braços amigos.

Embora as lembranças da minha infância me surjam como lampejos, é inerente a sensação de eu nunca ter conseguido me encaixar, de fato, nos grupos a que pertencia. No geral, as garotas me achavam um tanto quanto estranha por não gostar de brincar com bonecas tampouco de ficar fazendo comentários sobre os meninos; eles, em contrapartida, me julgavam como “chata e gorda demais” quando eu demonstrava aversão às formas que eles encontravam para chamar a nossa atenção.

Não é de se surpreender que, diante desse cenário, fosse suficientemente difícil eu conseguir me sentir confortável o bastante para estabelecer algum tipo de vínculo afetivo com os demais. Porém, quando acontecia, surgiam amizades que geralmente me acompanhavam durante anos – até que fôssemos separados pelo fluxo natural da vida.

Isso me remete ao ano de 2005, quando fui transferida da escola municipal em que passei os cinco anos anteriores, para uma estadual. Eu tinha dez anos de idade, não conhecia ninguém naquele lugar e não entendia o que estava acontecendo quando o sinal tocava e outro professor adentrava a sala – eu estava acostumada a ter uma única professora lecionando as diversas matérias. O mais assustador, no entanto, era o fato de o meu irmão não estar lá comigo.

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