O Abandono de crianças ou a negação do óbvio
Por: lemcr • 20/11/2017 • Dissertação • 4.397 Palavras (18 Páginas) • 410 Visualizações
16 de Agosto de 2017
TRINDADE, J. M. B. O abandono de crianças ou a negação do óbvio. Rev. Bras. Hist. São Paulo, V. 19, nº. 37, p. 35-58, 1999.
O objetivo do texto: apresentar a trajetória das crianças no Brasil: desde o Brasil Colônia até a concepção da criança abandonada como problema social.
No Brasil, por volta de 1850 em SP ocorreu uma política assistencial com ação preventiva e terapêutica, por influência dos médicos higienistas. Práticas de higiene e saúde. Tal iniciativa tinha como objetivo a redução de mortes. Historicamente, a infância era entendida como etapa de ser frágil, incapaz de se prover, do ponto de vista material/moral. A primeira infância era época de aprendizagens no espaço da casa, aldeia, das redondezas com crianças da mesma idade e maiores. Havia nisso uma forma de educação em comum, produto da coletividade.
Observou-se mudanças na afetividade, arrancar uma criança da doença uma criança da doença e da morte prematura, passou a ser a angústia dos pais a partir do século XVII. Um novo pensar dos médicos volta-se para a necessidade de curar. Passa-se a distinguir a criança do adulto, dando-lhe um disciplinamento, mas constrói-se um sentido antagônico entre a criança rica e a pobre.
No Brasil, desde a Colônia até a crise do Império, no final do século XIX, a criança abandonada era tratada pelos termos “expostos” e “enjeitados”. As crianças eram colocadas em locais onde seriam recolhidas (igrejas e conventos) e, mais tarde, as “Rodas dos Expostos” que oficializou e estimulou o abandono, levando a um grande aumento na taxa de abandono. As irmandades com as Santas Casas de Misericórdia foram fundadas com o dever de acolher as crianças, recebendo auxílio financeiro do Estado. A roda tinha a função de receber crianças cujas mães enfrentavam dificuldades para manter seus filhos; livrar os filhos das escravas da escravidão; refúgio seguro contra o escândalo de gravidez indesejável. Até meados do século XIX (1801 a 1900) a criança era considerada irrelevante e desvalidas, a proteção era apenas um dever moral. Com o tempo, a Casa dos Expostos, tornaram-se verdadeiros focos de mortalidade infantil. Tal ocorrência passou a preocupar os médicos higienistas para o combate da mortalidade infantil, principalmente das crianças brancas. São evidentes as diferenças no trato de crianças negras e brancas e entre as de sexo masculino e feminino, ocasionando um número significativo de abandonados femininos. Os meninos representavam trabalho produtivo (lucro) e a mulher peso para a família, ao menos até o casamento e dependia da existência de um dote.
Os asilos, como lugar de abandono temporário, tornaram-se definitivos ou prolongados. A mãe solteira se livrava da criança e ganhava um salário como nutriz. Surgiu uma nova forma de abandono: o de crianças com mães conhecidas, com nome, sobrenome e domicílio das mesmas.
Em 1805 passou a vigorar um novo sistema, permitindo o recolhimento de crianças legítimas nos asilos apenas por motivos de doença das mães ou sua incapacidade para aleitamento. No decorrer do século XIX, outras tentativas foram feitas para esvaziar os asilos: aos 10 anos os meninos aprendiam alguma instrução (artesão); as meninas eram alojadas como serviçais em casa de famílias ou em tecelagem no interior dos asilos, com o casamento recebiam um dote que seria entregue ao marido após as núpcias.
Creches: surgiram durante o século XIX e no Brasil no início do século XX com mudanças radicais na morbidade e mortalidade infantil com o aproveitamento do leite animal, introdução de ensino de religião, trabalhos manuais, leitura e escrita e com médicos interferindo na higiene das instituições, seleção de amas-de-leite e amamentação natural.
Na passagem para o século XX, década de 1960, a educação vai assumindo um lugar determinante. Instaura-se a necessidade das escolas em vários locais com creches e jardins de infância.
23 de agosto de 2017
CAVALCANTE, C. A importância da sociologia da infância e as práticas pedagógicas: a criança e o sujeito histórico e de direitos. Caderno de artigos: infâncias, adolescências, juventudes e famílias - desafios contemporâneos. 1ª ed. Goiânia: Gráfica e Editora América, 2014. Publicação CONANDA.
O artigo trata da infância e da contribuição teórica da sociologia da infância para uma prática pedagógica que visa assegurar o direito da criança à educação.
PERÍODO DA IDADE MÉDIA:
A criança até os sete anos era considerada incapaz de se expressar com racionalidade. Após os sete anos era considerada um adulto em miniatura e inserida na vida social. Apenas os adultos eram capazes de pensar racionalmente e transformar a sociedade. Assim, as crianças eram consideradas incapazes, improdutivas e a infância uma fase a ser superada.
Para o pesquisador francês Philippe Ariès (livro: História Social da Criança e Família) a infância é historicamente construída.
A criança não foi vista como um ser em desenvolvimento, com características e necessidades próprias. Ariès reforça a ideia de não existirem sociedades sem infância, caracterizando-a como uma construção biopsicossocial. O autor recorreu a uma fonte historiográfica (registro escrito, arte), iconografia (conhecimento de imagens, monumentos antigos), religião na Idade Média, documentos que evidenciavam diferentes representações sobre este período da vida por meio da produção artística, literária e cultural da época. Crianças se vestiam como adultos e participavam de todos os acontecimentos culturais, sociais, festas noturnas, brincadeiras adultas e até práticas sexuais. As pessoas não acreditavam na inocência ou que houvesse diferença entre adultos e crianças.
Para Ariès o sentimento de infância surgiu na Modernidade, século XVII, a partir do interesse em formar o adulto necessário para atender o modelo de sociedade de época.
Kuhlmann Jr. (1998) critica as ideias defendidas por Ariès de que o sentimento de infância não existia na Idade Média ou em tempos mais antigos. Argumenta que outros estudos apontam que Ariès considerou somente as fontes de famílias abastadas, deixando de lado as fontes históricas populares, defendendo a ideia de que o sentimento de amor pelas crianças tenha surgido, primeiramente, no interior dessas famílias.
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