O Alienista
Por: ca1ca • 7/4/2019 • Resenha • 1.384 Palavras (6 Páginas) • 234 Visualizações
Alienista, de Machado de Assis.
1) Indicação Bibliográfica
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. V. II.
2) Resumo
Escritor Brasileiro, o renomado Joaquim Maria Machado de Assis, nascido em 1839 no Rio de Janeiro, presidente da Academia Brasileira de Letras por mais de dez anos, é autor de inúmeras obras literárias de valor inestimável para a cultura Brasileira.
O presente estudo de caso destacará a obra “O Alienista”, esta, que faz parte da coletânea Papeis Avulsos e fora publicada originalmente entre os anos de 1881 e 1882.
O conto destacado relata através da história de vida do personagem Dr. Simão Bacamarte, a realidade sobre a visão da sociedade Brasileira na época, abordando a respeito do olhar para com “os loucos” e em como se davam as internações asilares dos doentes no século XIX, além de, destacar os vieses de estudo percorridos por Dr. Simão Bacamarte com relação às fronteiras limítrofes entre razão e loucura.
Dr. Simão Bacamarte, médico, casado, filho da nobreza, estudara em Coimbra e Pádua. Aos 34 anos resolve regressar ao Brasil, mais especificamente a Itaguaí, onde se dará o contexto da história e, fora local escolhido por Dr. Simão para ser o berço de seus estudos sobre a ciência.
Dr. Simão recebia indagações sobre a escolha de sua esposa, Dona Evarista, que o conto descreve como sendo mal composta de feição e nada afável, o mesmo respondia de prontidão aos curiosos que, a havia escolhido como esposa considerando suas condições fisiológicas, que lhe asseguravam filhos saudáveis e vigorosos, e, que não ser composta de uma beleza física exuberante lhe ajudaria a não desviar a atenção de seus estudos. Porém, este pensamento não se findou, Dona Evarista não gerou filhos e assim não se deu continuidade a dinastia dos Bacamartes, embora o médico tivera estudado e munido sua esposa de conselhos e rotinas para que alcançassem o objetivo da fertilidade. Após o acontecido, Dr. Simão se debruça fortemente sob os estudos e a prática da medicina, voltando a atenção para o psíquico, firmando-se na fala de que “a saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico.” (p. 2).
Observando com um pouco mais de atenção sobre o caso, Dr. Simão percebeu que as autoridades de Itaguaí não contavam com uma conduta de acolhimento de seus “loucos”, enquanto os ditos “mansos” andavam pelas ruas, os vistos como enraivecidos eram aprisionados em cômodos com dimensões resumidas no interior de suas casas, privados de todas as possibilidades e somente no aguardo do fim de suas vidas. O médico prontamente objetivou a mudança dessa prática, dirigiu-se à Câmara e propôs receber e promover o cuidado dos loucos da cidade e das redondezas em um lar destinado aos mesmos, tendo como recurso a retribuição pelos serviços prestados, que ficaria a cargo da Câmara, caso os familiares do louco não pudessem arcar. A ideia, obviamente, foi recebida com desdenho, duvida e incerteza, após debates árduos com as autoridades, fora autorizado a fundação da casa.
Em referência a cor verde das janelas da casa, novidade na vila, foi dado o nome de Casa Verde, também chamada de Casa de Orates, responsável por acolher os doentes mentais de Itaguaí e de cidades vizinhas. Em poucos meses a casa abrigava mais loucos do que inicialmente comportava, foi preciso expandir o espaço, nunca se havia tido noção da proporção da “loucura” até o momento nas redondezas. No início, os internos realmente apresentavam características de doenças mentais, a prática asilar também contribuía de forma expressiva para o progresso e refinamento dos estudos e técnicas do médico, que visava encontrar uma cura efetiva para os casos. Porém, devido a sua forte influência e anos de estudo especializado, Dr. Simão contava com um forte poder de convencimento sob os sujeitos, desta forma, passou-se a alisar todo e qualquer indivíduo que, aos olhares e julgamentos do médico, se desviam do padrão de conduta imposto como aceitável para o mesmo.
Não haviam mais critérios plausíveis de internação, embora Dr. Simão continua-se a afirmar que “Só eram admitidos os casos patológicos.” (p. 13). Se espalhou pela população o pensamento de que a Casa Verde, na verdade, era o próprio cárcere privado, essa frase ecoou, tomou grandes dimensões e com o povo insatisfeito e temeroso, criou-se uma insatisfação sem tamanho para com a Casa Verde. Com cerca da metade da população vivendo restrita aos espaços da instituição e com o medo assolando a população de Itaguaí, surgiram vários rumores, até mesmo de que o intuito seria de assolar toda a Itaguaí.
Nesta parte do conto, percebemos uma crítica intensificada que diz respeito ao fato de confiar a um sujeito, com convicções científicas, a responsabilidade determinante de estabelecer normas pessoais diferenciando “sanidade mental” de “loucura”.
Porfírio, o barbeiro, tomou a frente de toda a situação em prol da liberdade de Itaguaí, dirigiu-se as autoridades e após muita contestação conseguiu reter a atenção dos mesmos à respeito da indignação do povo e do caos instaurado, assim provocou um pensamento crítico nos vereadores suscitando a indagação de um deles “(...) Se tantos homens em quem supomos são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?” (p. 18). Os vereadores tentaram acalmar a população, prometendo abrandar as decisões da Casa Verde, mas já não eram poucos os cidadãos ao lado de Porfirio, mesmo quem não descia às ruas, partilhava do mesmo sentimento e desejo de pôr fim aos muros que encarceravam a população.
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