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O CABELO CRESPO COMO FORMA DE VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA

Por:   •  3/11/2017  •  Ensaio  •  1.576 Palavras (7 Páginas)  •  344 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Disciplina MIP III

Docente Dolores Cristina Galindo

Discente Thamiris Verônica Passarinho Pessoa

O CABELO CRESPO COMO FORMA DE VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA

        A mulher negra no dia a dia contemporâneo é vivenciadora dos mais diversos e diferentes tipos de racismo, machismo, opressão e exploração que são naturalizados na sociedade. Entretanto essas esses processos ocorrem de uma forma mais velada e escondida por trás de discursos progressistas e libertários que só intensificam quando somados ao cabelo afro. Quando se trata de Mulher, Negra e Crespa/Afro as opressões são ainda maiores, pois não remete somente à negritude ou ao fato de ser mulher, mas a questões muito peculiares no mundo da moda, no universo feminino em particular. Constituíram-se então inúmeras formas de domar a abafar o cabelo, tais como alisamentos, chapinhas, escovinhas e relaxamento desvalorizando assim o cabelo encaracolado, afro e a identidade da mulher negra. Através do cabelo podemos transmitir mensagens, emoções e opiniões. Foi a partir disso que fotografei duas mulheres jovens, negras e estudantes da UFMT buscando dar ênfase a problematização da relação da mulher negra de cabelo crespo, a constituição da identidade e os processos sociais estabelecidos ao redor dela. A princípio este tema me chamou muito atenção e ao mesmo tempo indignação pelo seguinte motivo: eu ter sido o foco de situações muito constrangedoras e machistas no dia a dia de minha passagem por diversos e diferentes lugares, e essas situações todas em torno de um eixo central: “meu cabelo muito alto, volumoso, desproporcional”. 

As fotos foram feitas como um modo de retratar, denunciar e problematizar os processos que mulheres negras crespas vivenciam nos bastidores da “vida social” ou até mesmo explicitamente em discursos propagados por grandes “detentores de conhecimento” em veículos de comunicação, no âmbito acadêmico, no mundo organizacional, entre outros. Esse foi o fator desencadeador para fotografar e proporcionar por meio das fotos a produção de presença.

A auto referência das pessoas é o corpo, a relação delas se dá por meio deste. Considerando essa fatídica afirmação pode-se relacionar então que a construção da identidade e a forma como elas se veem representadas nas relações parte da noção de corpo que elas possuem, em outras palavras, se a mulher negra não acha seu corpo bonito, charmoso, sensual, mas mais feio que o de mulheres brancas, e o cabelo como constituinte do corpo também está enfatizado aí, essa construção influencia na autoestima e auto realização e também no desenvolvimento e estabelecimento subjetivo da identidade.

Considerando que a produção de presença são coisas que nos afetam, tocam o nosso corpo e a produção de sentido aquilo que se produz sobre um fato, a interpretação e mais: que a produção de presença e a produção de sentido não acontecem sozinhas, mas em conjunto, a minha experiência com a negritude da mulher crespa, afro por meio das fotos veio como um grande potencial para essas produções e significações.

Quando se refere ao cabelo crespo é importantíssimo enfatizar os processos acontecidos nos bastidores ou até mesmo explicitamente tais como a grande ênfase dada pelas pessoas em tratamentos de alisamento com produtos extremamente prejudiciais à saúde do cabelo, às chapinhas e escovinhas, aos inúmeros produtos para diminuir o volume do cabelo. Ou seja, incansáveis alternativas para domar o cabelo que está, segundo discursos racistas, sexista e da supremacia branca, incomodando, poluindo a beleza da mulher negra. Considerando este fato vale salientar que pouquíssimos salões de beleza investem em tratamentos para cabelos naturais, sendo a maioria deles especializados em modificar os cabelos naturais.

As crianças desde o nascimento vão se inserindo em um contexto onde seu cabelo é tido como “ruim”, “de Bombril”, “crespo”, “de nego” e feio e ao desenrolar do desenvolvimento essas questões vão sendo colocadas em cheque tais como a concepção de que mulheres negras com cabelo liso são mais bonitas, mais atraentes, introjetando a concepção de que é claramente preciso que mulheres negras mudem sua aparência para imitar a aparência dos brancos ficando, portanto mais bonitas e apresentáveis. Temendo e dependendo assim da aprovação e a consideração de outras pessoas para o estabelecimento de sua valoração e representação social perante a sociedade. Essa mudança para algumas parece ser o ponta pé inicial para a inserção no mundo contemporâneo, mas ela vem com um sofrimento muito intenso e desconsiderador da identidade, da cultura e da corporeidade da mulher negra.

Na procura de emprego estas significações também aparecem como fatores geradores de mudanças no cabelo e na construção da identidade. Ao se arrumar para uma entrevista de emprego muitas mulheres primeiramente pensam se elas serão aceitas ou não com o cabelo natural, recebendo muitos e muitos conselhos para que não se use o cabelo Black, nem tranças como o dread, parra mudar o estilo de cabelo para serem bem aceitas. Algumas empresas, independente da habilidade profissional que o candidato negro tenha ele é recusado, por conta de sua aparência, em outras palavras, o seu cabelo. Não é preciso que permanentemente renuncie-se à maestria de ser uma pessoa que se auto define para ter sucesso no emprego, essas relações estabelecidas a cerca deste fator explicitado acima passa a impedir que excepcionais profissionais adentrem no mercado de trabalho e mostrem seu potencial.

Considerando o ser humano como “livre” em sua vida o cabelo também deve fazer parte da concepção subjetiva de cada mulher negra de que são livres para usar os cabelos sem refletir antes de tudo sobre as possíveis implicações negativas, deixando-o movimentar na direção que desejar sem se importar com comentários maldosos e negativos.

Uma grande parte das mulheres negras utiliza-se de um subterfúgio de sobrevivência acreditando ser mais fácil e prático ter êxito e viver na sociedade com o cabelo alisado e domado, que os problemas são reduzidos, o tempo gasto é menor. Entretanto é expressamente podante e abafador da expressividade de cada ser humano. Independentemente da forma como a mulher negra utiliza seu cabelo é notório que o nível de sofrimento mediante a opressão e exploração racista e sexistas afeta sumariamente a medida que nos sentimos eficiente no amor próprio e na afirmação de uma presença autônoma aceitável e agradável para si mesmas.

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