O Fichamento Fator Humano
Por: rafapiloto • 11/7/2021 • Resenha • 3.415 Palavras (14 Páginas) • 103 Visualizações
“Fator Humano” é a expressão usada por engenheiros, engenheiros de segurança de sistemas, projetistas, engenheiros de higiene e segurança do trabalho e especialistas em segurança das pessoas e instalações para designar o comportamento de homens e mulheres no trabalho. Em geral, à noção de fator humano está associada a ideia de erro, falha, falta cometida pelos operadores (DEJOURS, 2005; p. 7).
Dejours parte da análise crítica de um conceito amplamente utilizado – fator humano –, apontando como o reducionismo e o cientificismo com que esse conceito tem sido apresentado fizeram esquecer aspectos da natureza ética e política. Dejours acredita que a complexidade humana não pode ser resumida como ”fator humano” (DEJOURS, 2005; p. 9).
É importante que haja correspondência entre a construção integrada do conhecimento referente à complexidade humana/trabalho e a efetivação de pesquisase práticas coerentes ao mesmo conhecimento (DEJOURS, 2005; p. 10).
Três componentes devem estar associados na situação de trabalho: qualidade, segurança e promoção da saúde. Essa integração abre espaço para que o homem se sinta valorizado (DEJOURS, 2005; p. 10).
Dejours afirma que há uma incompletude do conhecimento científico existente sobre a complexidade humana em situações de trabalho (DEJOURS, 2005; p. 10).
INTRODUÇÃO
Dejours inicia comparando as Ciências Aplicadas – que se consagram pela ação, visando à transformação ou melhoria de uma situação – às Ciências Fundamentais – destinadas à produção de conhecimentos, sem a preocupação de sua utilidade ou utilização, existindo uma relação de justificação da ação a partir dos conhecimentos estabelecidos pelas ciências fundamentais (DEJOURS, 2005; p. 15).
A questão colocada é então a da análise, descrição e compreensão das condutas concretamente adotadas por homens e mulheres em situação real, considerando-os o ponto de partida para o encaminhamento de pesquisa (DEJOURS, 2005; p. 15).
As duas formulações da questão primordial do fator humano são:
Quais são as origens e quais são os meios de controle das falhas humanas na situação de trabalho?(fator humano como falha)(DEJOURS, 2005; p. 16).
Como mobilizar, desenvolver e gerenciar os recursos humanos? (fator humano como recurso)(DEJOURS, 2005; p.16).
Contrapondo as duas questões sobre três aspectos:
Objetivo da ação:No primeiro (falha), a preocupação principal é a segurança. No segundo (recurso), a preocupação principal recai na qualidade. (DEJOURS, 2005; p. 16).
Previsibilidade das condutas humanas:No primeiro encaminhamento (falha), supõe-se que as características da situação de trabalho são previsíveis. No segundo encaminhamento (recurso), abre-se espaço para o incidente, ao imprevisível, àquilo que ainda não se conhece (DEJOURS, 2005; p. 16-17).
Orientação normativa:O primeiro encaminhamento (falha) é ordenado por referências a prescrição, disciplina e normas funcionais. O segundo encaminhamento (recurso) é ordenado por referência à cultura, valores do bem e mal, justo e injusto, desejável e indesejável (DEJOURS, 2005; p. 17).
Sobre os encaminhamentos de investigação da pesquisa do fator humano, observa-se o encaminhamento em termos de falha humana – usado pelas ciências da engenharia e renovado pelas ciências cognitivas – e encaminhamento em termos de recursos humanos – usado pela psicologia social e pela escola de “relações humanas”, estimulado hoje pelo que se chama de ciências da administração e da gestão (DEJOURS, 2005; p. 19).
Percebe-se nas duas orientações o questionamento constante de três termos: homem, tecnologia e trabalho. Por exemplo, para o sociólogo que investiga recursos humanos, é muito difícil aventurar-se pelo que desconhece sobre o conceito de trabalho, já que ele não é especialista. Ao contrário, para o ergonomista que se interessa pela falha humana, é difícil empenhar-se no terreno do homem, porque ele não é um especialista em psicologia e em sociologia (DEJOURS, 2005; p. 20).
Após o percurso da pesquisa sobre o fator humano nas ciências humanas, pretende-se examinar a seguinte questão sobre a noção de fator humano: Quais as dimensões da conduta humana, elucidadas pelas ciências do homem no trabalho, que deveriam ser reconduzidas em toda teoria do fator humano, independentemente de sua orientação e de sua metodologia? (DEJOURS, 2005; p. 20).
Existem três pressupostos teóricos implícitos nas duas orientações de pesquisa sobre o fator humano:
Modelo de homem: No primeiro encaminhamento (falha), apresenta-se como um modelo modular, que passa por uma fragmentação dos processos. No segundo encaminhamento (recursos), o modelo do homem é holístico, interativo. O modelo dominante de homem é o ator no sentido de ator social (DEJOURS, 2005; p. 21-22).
Conceito de tecnologia: No primeiro encaminhamento (falha), não há diferença entre técnica e tecnologia, é o conjunto dos conhecimentos sobre a técnica. No segundo encaminhamento (recursos), remete às habilidades, ao manejo dos instrumentos e das ferramentas, o uso do corpo no trabalho (DEJOURS, 2005; p. 22-23).
Conceito de trabalho: No primeiro encaminhamento (falha), a atividade correta é supostamente já conhecida. Com efeitos, certas situações de trabalho conservam um carácter incerto (Wisner, 1994). Entre os dados da situação e a ação, há então um lugar necessariamente ocupado pela interpretação e pela deliberação. No segundo encaminhamento (recursos), discutem-se essencialmente a iniciativa, o engajamento e a motivação. Observa-se, então, a conduta e não o comportamento (DEJOURS, 2005; p. 24-25).
PARTE 1 – ANÁLISE CRÍTICA DOS PRESSUPOSTOS DA PESQUISA SOBRE FATOR HUMANO: PROBLEMAS TEÓRICOS
CAPÍTULO 1 – O CONCEITO DE TECNOLOGIA
Sobre a concepção comum da técnica e noção de falha humana:Na abordagem do fator humano que parte da concepção comum de técnica, considera-se a relação entre o homem (ego) e o ambiente ou o posto de trabalho (real) (DEJOURS, 2005; p. 29).
Está na natureza do homem procurar saber mais sobre ele mesmo e sobre o mundo onde vive. Sendo racional, o homem tenta associar suas novas descobertas às que já conhecia, desenvolvendo um corpo de conhecimentos. O estudo dos fatores humanos no sistema homem-máquina-ambiente produz um corpo de conhecimentos
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