O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DA INFÂNCIA E, AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A CRIANÇA NA IDADE MÉDIA E MODERNA
Por: rosileys • 26/6/2022 • Artigo • 3.227 Palavras (13 Páginas) • 118 Visualizações
IX JORNADA CIENTÍFICA DA FAZU
25 a 29 de outubro de 2010
O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DA INFÂNCIA E, AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A CRIANÇA NA IDADE MÉDIA E MODERNA.
TOSTA, Cíntia Gomide
Resumo: Interface de um trabalho mais amplo, este estudo foi realizado a partir de uma pesquisa analítica das obras de Philippe Ariés e Elizabeth Badinter pesquisadores franceses, que investigam o processo histórico da construção social do conceito de infância no ocidente, tendo como referencia a historiografia, aqui focada no período que abrange os séculos XVII ao XX. Por meio da leitura e da compreensão das representações sociais presentes no final da Idade Média e início da Idade Moderna a respeito da infância e da criança, este trabalho propõe-se a promover algumas considerações e reflexões a respeito da criança, compreendida como um sujeito sócio-histórico, e do conceito de infância, concebido como uma fase importante da vida humana. Neste sentido, visto ainda serem poucas às pesquisas que tratam da criança e da infância como um problema de investigação científica e acadêmica, este estudo irá percorrer as “diferentes fases da maternidade” apresentadas por Badinter, os ideais de liberdade e respeito à infância defendidos por Rousseau e o estudo iconográfico de Ariés, revelando um infante que inicialmente não era sequer reconhecido como portador de uma identidade, para uma representação de criança insubstituível, alvo de afeto e cuidados por parte da família e da sociedade.
Palavras-chave: Construção social, conceito de criança, historiografia, Infância,
Abstract:
Interface of a ampler work, this study was carried through from an analytical research of the workmanship of Philippe Aries and Elizabeth Badinter both French researchers, who investigate the historical process of the social construction of the concept of infancy, in western world, having as reference the historiography, here focused in the period that encloses centuries XVII to XX. By means of the reading and of the understanding of the social representations gifts in the end of the Medieval Age and beginning of the Modern Age regarding infancy and of the child, this work considers to promote it some considerations and reflections regarding the child, understood as a citizen partner-description, and of the concept of infancy, conceived as an important phase of the life human being. In this direction, seen still to be few to the research that deals with to the child and infancy as a problem of scientific and academic inquiry, this study will go to cover the “different phases of the maternity” presented by Badinter, the ideals of freedom and respect to infancy defended by Rousseau and the iconographic study of Aries, disclosing an infant who initially was not at least recognized as carrying of an identity, for representation of an irreplaceable, white child of affection and cares on the part of the family and the society.
Key Words: social construction, concept of infancy, historiography, infancy.
O processo histórico da construção da infância e, as representações sociais sobre a criança na Idade Média e Moderna.
A preocupação com a criança, compreendida como sujeito histórico e de direitos e com a infância, entendida como um período característico da vida humana é recente. Segundo Corsaro (2003), ainda são raras, principalmente no Brasil, as pesquisas que consideram a criança como sujeito e, “ouvem” sua fala e representações a respeito do mundo. Entretanto, mesmo os adultos que não atuam em profissões ligadas á infância, ou a criança, convivem com elas e contribuem, alguns, de forma relevante para a sua formação biopsicosocial tornando-se assim (co) responsáveis pelo processo de sua aprendizagem e desenvolvimento, bem como para a definição de seu local social. Neste sentido, esse estudo, em uma perspectiva sócio-histórica, priorizando os séculos XVII ao XX e, as pesquisas do historiador francês Phillippe Ariés e da pesquisadora, também francesa Elizabeth Badinder se propõe a apresentar algumas reflexões e considerações a respeito da construção social do conceito de infância no ocidente, contribuindo para uma melhor compreensão a respeito desta temática e dos diversos lugares sociais que a criança ocupa na sociedade contemporânea, inclusive no campo da educação escolar.
O processo sistemático utilizado para a construção e reelaboração do conhecimento neste trabalho foi á pesquisa bibliográfica, priorizando a historiografia. A pesquisa bibliográfica caracteriza-se pela leitura analítica e criteriosa de textos encontradas em livros, artigos, periódicos, manuscritos. Este tipo de pesquisa implica em uma leitura rigorosa e reflexiva dos conteúdos estudados, analisando e articulando as postulações apresentadas em busca de construir um texto original e coeso sobre a temática, sem a pretensão de esgotá-la.
O conceito de infância, indissociado da história da família e da sociedade vem sendo constituído histórica e culturalmente. Corazza (2002), em um dos capítulos de seu livro “Infância & Educação - Era uma vez... quer que conte outra vez?”, percorre a história social da criança por meio de uma análise comparativa cuidadosa dos estudos e teorias de vários autores que basearam seus trabalhos principalmente em referências e fontes historiográficas e iconográficas.
A autora defende que o interesse apenas recente, na Idade Moderna, por parte dos historiadores em investigar a história infantil se dá essencialmente porque no “passado”, no século XVI até meados do século XVIII, não existia uma separação entre crianças e adultos; todos, adultos e crianças viviam tão misturados, tão homogeneizados que não se parava para pensar sobre a infância, e as crianças neste período bem ou mal se encontravam inseridas no contexto social a que pertenciam. Na Idade Média “não existia este objeto discursivo a que hoje chamamos ‘infância’, nem essa figura social e cultural chamada ‘criança’”. (CORAZZA, 2002, p. 81).
Badinter (1985), em seu livro “Um amor conquistado: o mito do amor materno”, que investiga por meio de extensa pesquisa histórica questões inatistas acerca do amor materno, apresenta o termo infância como um conceito dinâmico, social, destituído de caráter universal e genérico, portanto, construído historicamente nas várias sociedades por meio de articulações de diversos interesses e valores de ordem moral, econômica, política, social e religiosa.
Em seus estudos, a autora ao percorrer as “diferentes faces da maternidade” (BADINTER, 1985, p. 23), apresentando desde a mãe indiferente, principalmente da França e Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, que em sua grande maioria, independentemente da classe social e camada econômica a que pertencia, entregava seu bebê recém-nascido a amas-de-leite mercenárias, fato que provocou um número alarmante de morte de lactentes, à mãe “coruja” dos séculos XIX e XX, que “aceita sacrificar-se para que seu filho viva, e viva melhor, junto dela” (BADINTER, 1985, p. 208), mostra que há um longo percurso a ser trilhado permeado pela construção histórico - social do conceito de infância e da valorização da criança.
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