O USO DA ENTREVISTA PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
Por: Rômulo Cláudio • 25/8/2018 • Artigo • 2.796 Palavras (12 Páginas) • 368 Visualizações
O USO DA ENTREVISTA PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA PSICOLOGIA DO TRÂNSITO[1]
Alessandro dos Santos Viana[2]
Ana Beatriz Costa Lima de Lacerda2
Eliel Alves Moreira2
Elisângela Rosa de Oliveira2
Guilherme Fernandes Bezerra2
Maria Tereza França de Almeida2
Rômulo Cláudio Aguiar Sousa Júnior2
Verônica Neves Xavier2
RESUMO: O desenvolvimento das indústrias automobilísticas e a crescente comercialização de automóveis trouxeram consigo o aumento do número de acidentes de trânsito. Com isso, surgiu a necessidade de estudar e compreender tais acidentes, motivo que deu início ao desenvolvimento da Psicologia do Trânsito. Atualmente, essa área da Psicologia tem como objetivo investigar o comportamento humano no contexto do trânsito. O psicólogo do trânsito possui vários papéis, sendo um deles merecedor de maior atenção: a avaliação psicológica para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. Dentro desse âmbito da avaliação destacamos o papel de um de seus constituintes obrigatórios: a entrevista psicológica, que apesar de posta como secundária aos testes, objetiva uma compreensão maior das capacidades cognitivas e emocionais daquele indivíduo que deseja habilitar-se para permanecer ou inserir-se no trânsito. Entende-se, entretanto, que apesar de suas falhas no roteiro e na objetividade é um recurso imprescindível de avaliação por dar voz ao sujeito avaliado.
PALAVRAS-CHAVE: Psicologia do trânsito, avaliação psicológica, entrevista psicológica.
- INTRODUÇÃO
A Psicologia do Trânsito tem algumas de suas raízes fincadas após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando houve uma necessidade de mecanismos que sustentassem a economia mundial, e nesse contexto foi dirigida uma atenção especial à indústria automobilística, aumentando assim a fabricação e comercialização de automóveis (RUEDA, 2011).
No entanto, com o aumento no número de veículos, surgiu a necessidade de se analisar também o aumento da ocorrência de acidentes, surgindo então a chamada Psicologia do Trânsito que, àquela época foi pensada no sentido de coletar dados para promover uma redução do número de acidentes. Entretanto, ao pensar em trânsito, sabemos que não se refere somente aos condutores de automóveis, mas sim a um contexto mais amplo, que implica vários outros quesitos como ciclistas, pedestres, vias etc. (Ibidem, 2011).
No Brasil, uma das primeiras iniciativas da área deu-se em 1951, época em que o DETRAN do Rio de Janeiro efetivou a contratação de psicólogos para estudar o comportamento de motoristas. A área torna-se então uma das possíveis atuações do psicólogo. Nela, o profissional avalia as múltiplas questões do trânsito, trabalhando em produção de pesquisas, aperfeiçoamento de testes, reorientação de motoristas que já se envolveram em acidentes, etc. Há também uma atividade específica na qual os psicólogos do trânsito mais trabalham atualmente, que é a avaliação psicológica na obtenção ou renovação da Carteira Nacional de Habilitação. (Ibidem, 2011).
Entretanto, vemos que no processo de avaliação psicológica no contexto do trânsito há uma supervalorização dos testes psicológicos, que são tidos como o aspecto mais importante e eficaz na coleta de dados a respeito do perfil do condutor. Dessa forma, faz-se necessário levantar a bandeira da entrevista psicológica neste contexto, que vem sendo posta de lado e estereotipada como apenas mais um dado complementar e secundário aos testes, quando, na verdade, pode ser de muito mais valia na obtenção de informações, por permitir um diálogo mais próximo entre o psicólogo e o candidato.
A avaliação psicológica na Psicologia do Trânsito configura-se como um procedimento de coleta de dados e interpretação da interação do indivíduo com seu meio, que resulta na confirmação ou negação da capacidade de o indivíduo conduzir um veículo (ANDRADE, 2011). Esse artigo é, portanto, uma tentativa de expor o procedimento e elencar a importância no que se refere à entrevista, que é parte do cenário da avaliação psicológica.
Buscaremos destacar os aspectos do condutor que são o alvo de evidência dessa entrevista; as técnicas por ela utilizadas; o foco que a direciona; o andamento detalhado; e os demais caminhos que ela percorre para chegar às informações necessárias a respeito da vida, história e componentes do já condutor ou futuro condutor. Também tentaremos enfatizar a entrevista como parte indissociável do processo de avaliação, sem denegrir os testes, mas afirmando a junção de ambos para que se possa ter em mãos resultados mais concretos, dinâmicos e holísticos.
- A ENTREVISTA PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
2.1 A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
A avaliação psicológica no trânsito é um quesito obrigatório pelo Código de Trânsito Brasileiro e do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN). Esta teve sua regulamentação pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), sendo fiscalizada mais de perto pelos Conselhos Regionais de Psicologia, uma vez que é uma prática exclusiva dos psicólogos. Essa avaliação psicológica constitui-se como um método de coleta, estudo e interpretação de dados e informações provenientes de fenômenos psicológicos, com métodos, técnicas e instrumentos fundamentados pela Psicologia. Deve, para tanto, verificar os agravantes históricos e sociais que afetam o psiquismo (ANDRADE, 2011).
A avaliação psicológica para esse contexto é importante porque dirigir é uma ação complexa, que envolve diversos componentes que não apenas o condutor, além de competências, habilidades e um certo nível de maturidade (cognitiva e emocional) para agir de forma eficaz aos estímulos do tráfego.
Sendo assim, a CNH não pode ser considerada como um direito de todos, mas sim como uma permissão, um privilégio que o Estado concede àquelas pessoas que se mostram capazes e aptas para obtê-la. Portanto, a avaliação psicológica tem por finalidade contribuir para promover a segurança dos motoristas. Assim, é obrigatória para candidatos à obtenção da primeira CNH como para condutores habilitados. (SISTO et. al, 2001, citados por SILVEIRA, 2013, p. 41).
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