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O Uso da Caixa de Brinquedos na Clínica Psicanalítica de Crianças

Por:   •  31/3/2020  •  Resenha  •  1.474 Palavras (6 Páginas)  •  236 Visualizações

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O uso da caixa de brinquedos na clínica psicanalítica de crianças

O uso da caixa de brinquedos é instrumento valioso para a compreensão, interpretação, elaboração no trabalho analítico desenvolvido com crianças, pois no inconsciente habitam sem discriminação o que é sentido como bom e como mau, e muitos analistas utilizam a caixa de brinquedos de forma diferente daquela preconizada por Arminda Aberastury. Para essa autora, a caixa representa o mundo interno da criança, o mundo não verbal, contendo as representações inconscientes e as relações com seus objetos.

Anna Freud e Melanie Klein introduziram a importância do jogo e do brincar no setting analítico, mas Arminda Aberastury ampliou a técnica demonstrando a importância de cada paciente ter sua própria caixa individual, por esta vir a simbolizar o mundo interno, as relações primitivas, as relações com os objetos e ainda propiciar que vejamos a relação entre analista e paciente, pois no brincar ela repete situações da vida cotidiana as quais ela é submetida.

A análise de crianças iniciou com a psicanalista Hermine Von Hug-Hellmuth em 1920. Ela e Anna Freud achavam que as crianças não tinham condições de desenvolver aspectos transferenciais com o analista mas, posteriormente Anna Freud e Melanie Klein perceberam que a técnica era a diferença entre psicanalisar crianças e adultos.

Assim, Melanie Klein através das brincadeiras, fez com que a criança conseguisse expressar suas questões conscientes e inconscientes, pois o brincar para a criança funcionava de maneira similar à associação livre do adulto, concluindo que a análise da criança deveria ser no consultório e com uma sala de brinquedos adequada, pois só assim a transferência poderia ocorrer. Percebeu que a criança expressava suas fantasias, desejos e experiências simbolicamente no brinquedo e acentuou a importância da caixa de brinquedos, que incluía pequenas figuras animais e humanas, pequenos veículos, recipientes, lápis, cola, massa de modelar, fita adesiva, cordão, tesoura, objetos pequenos e inespecíficos.

Através da brincadeira a criança traz fatos da sua realidade externa. Dessa forma, sem usar a linguagem verbal, é percebida como troca afetiva, assim que se dá o trabalho analítico. Para a autora, os brinquedos funcionam como ferramentas facilitadoras que permitem à criança expressar seus principais conflitos através do mecanismo de projeção descrito por Freud.

Além disso, a brincadeira auxilia no processo de comunicação da criança, que funciona de maneira tanto verbal quanto comportamental, através de gestos e atitudes, pode expressar o que deseja sem sofrer proibições. É importantíssimo que o analista utilize a linguagem conforme sua cultura, a idade e o jeito do paciente e somando ao seu modo de se e de interpretar, será criado o jeito da dupla trabalhar. O analista deve ter cuidado com as interpretações para que não interrompa a forma de brincar da criança e nem iniba a sua criatividade. Essa técnica permite um certo grau de deslocamento e externalização do eu, dos representantes objetais e a interação entre eles. Podemos dizer que o roteiro é da criança e o analista é participante da cena.

Aberastury observou a importância de marcar a primeira entrevista com os pais da criança, para conhecermos, fazermos a anamnese e sabermos também atividades a criança gosta de fazer e de brincar. Na primeira entrevista com a criança, nem sempre a caixa individual estará disponível, pois não sabemos se a criança virá sozinha ou acompanhada de alguém. Observamos como interage no setting terapêutico e os materiais que é composto pela casinha, material gráfico disponível e brinquedos de uso comum. Estes são materiais de uso coletivo.

Quando estiver somente com a criança, apresento-lhe a sua caixa individual e coloco que estes brinquedos serão para ela brincar enquanto ele estiver em atendimento comigo, naquele local. Esta é uma combinação que faço quando estiver sozinha com a criança, em respeito ao fato de tratar-se do mundo interno dela. Deve-se sempre dizer que a caixa será de uso único e exclusivamente dela, que sempre que ela vier no horário dela a caixa estará ali, que ninguém mexerá na caixa enquanto ela estiver ausente, que aquele material fica ali na sala não podendo levar para casa, que tudo que produzir ficará ali guardado na caixa, e principalmente que eles não estão junto ali para brincar e sim para trabalhar juntos. Também deve se falar que as coisas que eles falarem ali ficarão entre ele e o analista. A criança precisa confiar no analista para formar uma boa aliança terapêutica e ela precisa de um setting terapêutico constante, que lhe propicie holding.

Caso em algum momento seja necessário conversar com os pais sobre algo que a criança disse, ou se ela tem a integridade física, psíquica, em risco, faz-se necessário avisar a criança que conversará com os pais. Obviamente que tudo isso é dito gradualmente e através de brinquedos muitas vezes. Quando a criança solicitar levar algum material da caixa individual para casa, entendo que antes de se precipitar o analista deve investigar o motivo que a impele querer levar tal material para casa, pois simplesmente deixar levá-lo significa desqualificar todo trabalho produzido. Além do quê, o significado que o brinquedo da caixa individual tem no setting analítico, é diferente do significado que terá no ambiente em que vive. Se considerarmos exceção devemos esclarecer porque permitimos. Às vezes elas trazem um brinquedo de casa, como se quisessem mostrar algum momento familiar algumas deixam por algum tempo na caixa

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