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O Ônibus 174 e Psicanálise

Por:   •  26/5/2021  •  Trabalho acadêmico  •  794 Palavras (4 Páginas)  •  117 Visualizações

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ÔNIBUS 174

  1. Faça uma sinopse do documentário. (A sinopse deve necessariamente ser feita com suas próprias palavras e não deve exceder 10 linhas).

Uma tarde na Zona Sul do Rio de Janeiro torna-se o cenário de um ato transmitido ao vivo por todo o Brasil em junho de 2000. Dentro de um ônibus da linha 174 dez mulheres são mantidas reféns por um homem. Depoimentos e imagens colhidas se complementam ao narrar o ocorrido, e apresentam diferentes maneiras como a violência urbana permeia a trajetória de Sandro desde que fugiu para as ruas aos seis anos de idade.

  1. A partir do documentário e do material disponível para a leitura/consulta, indique quais sãos as diferentes facetas do fenômeno da violência urbana e como eles aparecem na narrativa fílmica.

 violência se manifesta em diferentes níveis e formas: estrutural, interpessoal, educativo, pessoal, moral e simbólico. Essas múltiplas violências atuam em espiral: todo processo violento, ao ser efetivado, tende a se autonomizar em relação às suas causas imediatas, isto é, tende a produzir ainda mais violência, atuando de forma cíclica

A violência urbana pode se manifestar de forma estrutural, interpessoal, educativa, pessoal moral ou simbólica, mas suas bases estão enraizadas na desigualdade social intrinsecamente ligada ao conceito de poder e subordinação, presentes no mundo capitalista (OLIVEIRA; MARTINS, 2014). Isso significa que polarizações raciais, étnicas, sexuais, econômicas, entre outras, tanto podem configurar a materialidade de cor, sexo, gênero, e classe social daqueles mais propícios a serem atingidos por ela (AMARAL, 2007), quanto atuam em espiral: “todo processo violento, ao ser efetivado, tende a se autonomizar em relação às suas causas imediatas, isto é, tende a produzir ainda mais violência, atuando de forma cíclica” (MARTINS; JUNIOR, 2018).

É nessa perspectiva que se dá a narrativa fílmica, o desenrolar das cenas permite o olhar para além do ato central. Nos põe face a face com a violência por traz da violência. Por meio dessa subjetivação tem-se que Sandro não é um fenômeno único, desatado, que espontaneamente decide ser o autor de um sequestro que colocaria fim à sua vida. Porém, essa é a simbologia que a ele é atribuída por meio da dessensibilização à negligência e marginalização sofridas por toda sua vida e incutidas na sociedade.

Diferente do que traz o documentário, ao vivo é transmitida sua invisibilidade, e é a esse lugar que Sandro volta após o ato. “À polícia cabe o trabalho sujo que a sociedade não quer ver, mas que em algum lugar obscuro deseja que se realize. Que se anulem os Sandros, que os Sandros desapareçam de nossas vistas” (PADILHA, 2002). Sandro, um homem, como muitos outros, preto, pobre, analfabeto, desempregado, abandonado pelo pai antes de nascer, que ainda criança presenciou o assassinato de sua mãe, tornou-se morador de rua aos seis anos de idade, esteve presente na chacina da Candelária, e cometia furtos para se alimentar, vestir e drogar, na busca de uma fuga da sua realidade.

  1. A partir das discussões que estamos realizando desde nosso último seminário e servindo-se da referência ao documentário Ônibus 174, quais relações podem ser estabelecidas entre o fenômeno da violência no Brasil, o discurso capitalista e a dimensão racial?

Ficou evidente nas cenas documentário como a sociedade encara as situações de violência e o quanto que as pessoas “matáveis” tem sua cor, sua classe social, e essas mortes são vistas como o “mal necessário”. O sequestro, se assim podemos chamar, foi filmado e transmitido ao vivo, na época, por emissoras de televisão, e milhares de pessoas acompanharam de suas casas esperando um desfecho para a situação, como se o que estava acontecendo fosse um espetáculo, uma cena teatral. Alguns ficaram no próprio local acompanhando tudo de perto. Uma das vítimas, em seu depoimento, relatou que falou com o Mancha sobre ele ser a maior vítima ali, e percebeu que todas elas estavam seguras, de certa forma, pois os policiais que ali estavam, trabalhavam para a proteção de cada uma delas, diferente do assaltante, seriam todos contra um, a vida dele era a única ali que não possuía importância. Ao final, quando o autor do crime resolve sair do ônibus e os policiais o pegam, as pessoas invadem a cena querendo a morte dele, esperando e torcendo para que houvesse ali um linchamento do homem. Podemos aqui usar a definição de Homo-sacer - dada por Agamben e citada pelo professor Fábio Bispo - como aquele que só é incluído no laço social por sua exclusão, que já era o caso do Sandro. Tudo isso está diretamente ligado ao capitalismo, principalmente quando pensamos nesse sistema que existe de “produção de subjetividades”, onde não existe uma solidariedade para com o outro, muito pelo contrário, é cada um por si, o egoísmo se encontra presente. Fazendo com que cada vez mais exista uma desigualdade social enorme.

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