Obesidade e Psicanálise
Por: alcofra • 17/10/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 2.637 Palavras (11 Páginas) • 152 Visualizações
- INTRODUÇÃO
A obesidade pode ser descrita como a enfermidade mais antiga do ser humano. Na antiguidade, temos relatos de pessoas obesas onde, em alguns lugares, a obesidade chegou a ser sinal de saúde e estética. Olhando pelo lado histórico, podemos observar tempos em que ser obeso era um endeusamento estético, um padrão a ser seguido.
Nos dias atuais a obesidade é postulada como uma doença mundial. A OMS (Organização Mundial de Saúde) considera a obesidade um dos dez principais problemas de saúde publica do mundo, sendo classificada assim como uma epidemia. A obesidade é caracterizada como doença crônica multifatorial, onde o marco é o excesso de peso e o processo leva em consideração fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos e ambientais.
O ato de comer vai além do fisiológico, visto que temos questões psicológicas fortes que norteiam esse ato. Comer, em muitos casos, serve como anestesia para sujeitos que não sabem lidar com suas emoções, serve para nos dar prazer, controlar nossa ansiedade. Para a psicanálise, um corpo que se enche de comida, de forma a exceder o limite da necessidade, desrespeitando a saciedade, parece preencher algo que se faz incompleto.
Partindo desta explanação, este trabalho levanta a seguinte questão: quais aspectos psicológicos podem ser evidenciados no desenvolvimento do sujeito obeso, focalizando-se na psicanálise de Freud?
OBJETIVO
O presente trabalho visa estudar as relações entre os aspectos psicanalíticos e o corpo do obeso, colocando questões como pulsão, fase oral, o sintoma obesidade como forma de substituição e os traços de desenvolvimento do sujeito na infância desencadeados na fase adulta.
JUSTIFICATIVA
A obesidade vem crescendo no mundo, passando a ser considerada como um fenômeno que agrava diversos contextos sociais e econômicos. Com isso, o ilustre trabalho pretende demonstrar através da revisão bibliográfica de autores importantes na psicanálise como entender os aspectos psicológicos que giram em torno da obesidade além de promover a reflexão de que é necessário pensarmos nos sintomas, na história dessa patologia e o que podemos fazer em relação ao tratamento dessa doença.
2. A SATISFAÇÃO PELO CORPO: PULSÃO E O SUJEITO OBESO
Na teoria psicanalítica a pulsão se encontra como um dos fatores centrais no desenvolvimento do sujeito. Neste tópico objetiva-se fazer uma introdução sobre questões da pulsão fazendo possível uma articulação entre a pulsão do sujeito e as questões da obesidade.
O conceito de pulsão é de suma importância na psicanálise, pois é dele que conseguimos observar a relação do corpo e a mente. Em 1915, Freud descreve a pulsão como o limite entre o somático (corpo) e o psiquismo (mente), alegando que a separação desses dois aspectos seria impossível. Nesse caso, temos a pulsão como a relação primordial da mente e corpo, onde os aspectos psíquicos alcançam o corpo do sujeito.
Para a psicanálise, a pulsão é responsável por buscar satisfação, onde, a partir do momento em que busca, tenta alcança-la dirigindo-se a determinados objetos. A pulsão é uma força constante que nunca cessa, ou seja, por mais que o sujeito encontre esse objetivo que irá lhe satisfazer, esse objeto perde o valor e a pulsão gira para outro objeto. O sujeito tem sua satisfação parcial, porém nunca total, sendo assim, o sujeito vive em busca de satisfação.
Em “A Pulsão e suas Vicissitudes” (1915) a pulsão é caracterizada como aquilo que não possui objeto definido, onde a satisfação nunca é plena, mas sim parcial. Nos estudos de Freud temos que a pulsão é uma direção do impulso traduzido em desejo, onde a experiência já foi vivida pelo sujeito e ele vive em busca de reencontrá-la. Na obesidade a necessidade fisiológica de comer não é necessariamente o fator principal da doença, tendo que o ato de comer é uma espécie de desejo que nunca irá ser satisfeito, articulando assim as questões de pulsão de Freud com a obesidade.
Pela perspectiva psicanalítica, temos a pulsão como aquilo que nunca acaba, ou seja, uma constante que promove apenas uma sensação parcial de satisfação. O sujeito obeso, de maneira subjetiva, procura essa sensação parcial na comida, onde o ato de comer promove a sensação parcial de satisfação, porém não total. Com isso, o ato de comer vem como uma busca na satisfação total e o sujeito passa a comer sem parar.
Em 1905, Freud demonstra evidências que os eventos mentais, em grande parte, são regulados pelo chamado princípio do prazer. Dessa maneira podemos mais uma vez articular a obesidade as questões de satisfação pulsional, onde o sujeito não come apenas pela satisfação orgânica, mas sim pelo prazer encontrado no ato de comer.
Levando em consideração que a pulsão começa no psiquismo no primeiro momento de vida, pelo contato com o grande Outro (Mãe) observa-se que, a partir desse momento, a criança passa pelo que Freud chama de processo de libidinização, onde a criança está sendo cuidada, e, futuramente, serão encontrados os traços e o recalque do sujeito. Dessa maneira, temos que o ato de comer pode vir a ter uma relação com a infância libidinal do sujeito, onde o ato de comer vem de forma inconsciente para ele, revivendo algo passado, porém ainda presente no inconsciente.
Freud trata a libidinização em seu artigo “Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1915), onde ele articula o desenvolvimento da criança em relação às zonas erógenas. Com isso, Freud divide as organizações em fase oral, fase anal e, fase fálica. Na obesidade, o objeto de sustentação do sujeito é a comida, colocando em questão uma relação com a fase oral da criança, onde o prazer está ligado na ingestão de alimentos e a excitação dos lábios na criança.
O sujeito obeso retoma esse prazer na ingestão de alimentos mal vivido na infância para a fase adulta, onde passar a comer na tentativa de se sentir melhor, buscando o objetivo perdido que nunca irá encontrar. A compulsão pela comida pode ser observada como uma tentativa de aliviar o sofrimento daquele sujeito que não consegue lidar com nada em sua vida. Podemos dizer então que a obesidade é a forma que o sujeito encontra de satisfazer essa pulsão de maneira suportável, ou seja, de maneira que isso não seja algo difícil de lidar conscientemente.
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