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PALAVRAS E IMAGENS: UMA ANALISE A LUZ DA PSICOSSOMATICA

Por:   •  3/4/2020  •  Artigo  •  3.504 Palavras (15 Páginas)  •  222 Visualizações

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PALAVRAS E IMAGENS: UMA ANÁLISE A LUZ DA PSICOSSOMÁTICA

OLIVEIRA, Elisson Felipe de

  1. DUAL OU UNO?

Na antiguidade, os processos mentais e os corporais eram tidos como indissociáveis. Isso ocorreu antes das distinções que deram origem às divisões comumente chamadas de “ciências da natureza” e “ciências humanas”, sendo a última depositária da psicologia. (GUARESCHI,2012)

Dentro desse processo de “categorização”, a psicologia nascia assumindo a máxima de um discurso fundamentado no dualismo cartesiano, herdado das raízes filosóficas, que cindia a psicologia em duas: uma fisiológica, de cunho materialista/ cientificista, embasada em experimentos e comportamentos que não iam além da pele; e outra introspectiva, que ia para dentro e considerava aspectos do self, consciente e inconsciente. (GUARESCHI,2012)

Entretanto, apesar dessa cisão, é fato que os fenômenos corpóreos do indivíduo sempre despertaram interesse nas pesquisas psicológicas, considerando o enraizamento de qualquer processo psíquico na materialidade corporal.

Vemos isso muito fortemente no legado do expoente da psicanálise, FREUD (1856 – 1939), que se debruçou sobre o resgate do conceito de integralidade do indivíduo, com corpo e mente atuando na mesma esfera e para isso, não mediu esforços em compreender os sintomas corpóreos, que para a medicina não tinham explicação orgânica e, portanto, eram marginalizados, como ocorreu na histeria. (ÁVILA, 2012)

Neste sentido, aquilo que denominamos hoje como psicossomática surgiu por meio da extensão médica da psiquiatria e do exercício da psicologia na prática integrada, na qual vemos a teoria psicanalítica sendo aplicada aos processos orgânicos, principalmente o adoecer e suas significações. Evidencia-se, assim, como os conteúdos psíquicos atuam sobre as funções corporais, causando manifestações no organismo, agravando doenças e traduzindo os conflitos em sintomas somatizados os quais, na realidade, são a manifestação de uma questão subjetiva que não consegue ser elaborada como processo mental, ou seja, representação, e então se traduz corporalmente,  apresentando-se como expressão do corpo. (ÁVILA, 2012)

Nessa mesma direção, com o avanço da ciência como um todo, também as terminologias, conceitos e compreensões, especialmente dentro da medicina e psicologia, passaram por atualizações e constantes reorganizações, com destaque especial para as etiologias e nosografias das patologias que todos os dias cercam a humanidade.

Dentre as patologias que passaram por essas atualizações, encontramos a tão proeminente Histeria, já mencionada acima, que sempre ocupou lugar de destaque na medicina, sobretudo quando se investigam comportamentos disfuncionais, desordens convulsivas “funcionais” e doenças psicossomáticas. (ÁVILA, 2010)

Nesse sentido, a presente revisão tem por objetivo retratar o fenômeno psicossomático revelado no filme “Palavras e imagens”, do diretor Fred Schepisi, que conta com o protagonismo do ator Clive Owen, no papel do professor de literatura, Jack Marcus, um escritor adicto que passa por problemas com sua criatividade, relacionamentos e trabalho; e da atriz Juliette Binoche, que vive Dina Delsanto, uma pintora que sofre com artrite reumatoide e por este motivo, tem seus movimentos limitados e acaba se tornando professora na mesma escola de Jack, onde a trama se desenrola.

Em suma, a proposta do longa se desenrola por meio de um “duelo” entre o casal, onde os problemas e angústias vem à tona e se manifestam no cotidiano de ambos, conteúdos que serão aqui discutidos, fazendo paralelo com a teoria psicossomática.

 

  1. DAS IMAGENS ÀS PALAVRAS: UMA BREVE TRANSCRIÇÃO

As cenas iniciais do filme nos mostram Dina Delsanto, se arrumando para o primeiro dia no trabalho, como professora. Sua irmã, Sabine, lhe ajuda a se vestir, abotoando sua camisa, transparecendo ao espectador as dificuldades motoras que a assolam. Dina aparenta ser uma mulher sisuda e se incomoda muito com suas restrições, que de certa forma, roubam sua independência, atributo que lhe parece ser muito estimado.

Ao mesmo tempo, encontramos Jack, que acaba de acordar, e aparentemente está atrasado. Sua casa exibe desleixo e suas feições, insatisfação. Tudo isso se soma a garrafa térmica que é preenchida com vodka, e guardada com zelo no carro, para consumo posterior, indicando o uso abusivo cotidiano da substância.

As cenas mostram Dina entrando na escola pelas escadas, com o uso de muletas, e apesar da intervenção de Emily, uma das alunas, indicando a rampa, ela permanece impassível, seguindo seu caminho com dificuldade, se mantendo orgulhosa, não deixando sua fragilidade ser um foco.

Jack chega atrasado para sua aula e os alunos se manifestam. Frente a isso, ele provoca a leitura de um texto, e depois tece um discurso áspero contra a sala que permanece em silêncio. Na sequência, reproduz um trecho do autor Updike, descrevendo uma imagem, através das palavras, e reforça o quanto as palavras são poderosas. Nesse instante, Tammy, uma das alunas cobra Jack sobre os trabalhos que ele não havia corrigido. Jack aparenta se incomodar e se torna novamente áspero pela cobrança que lhe é feita, e tece duras criticas à tecnologia e ao estilo de consumo da juventude atual, frente à uma sala apática por seus métodos, que aparentemente, não contagiam mais os alunos.

Logo em seguida, o diretor Will o chama, e questiona seu atraso. Nesse momento conhecemos um pouco dos aspectos arrogantes de Jack, que se camuflam nas irônicas palavras que escolhe, uma defensiva frente ao medo que possui das possíveis punições.

A seguir, vemos cenas da sala dos professores, eles se sentem incomodados com os comportamentos inoportunos e importunos de Jack, que tenta a todo tempo inflar seu ego. Nesse momento, também descobrimos que o apelido de Dina é sincelo, descrição de pedaços de gelo suspensos das árvores, que indicam certa frieza na personalidade da pintora.

É o primeiro encontro do casal, e logo Jack propõe um jogo de palavras, ao qual Dina aceita, ainda que demonstre certa insatisfação. O flerte se inicia.

Na primeira aula de Dina, a vemos sendo bastante ríspida com os alunos, enfatizando que não se interessava pelas histórias pessoais deles, porém sim, nas belas artes que podem produzir através do aprendizado. Aqui ela enfatiza o problema com as “palavras”: - “Não confiem nas palavras. As palavras são mentiras. São armadilhas.” – Delsanto.

Vemos a seguir, Jack indo almoçar em seu carro, e lá, consumindo a vodka que havia separado mais cedo. Jack está sendo pressionado pela escola a ser mais responsável e voltar a produzir materiais de qualidade, para assim garantir seu trabalho.

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