Pensando a juventude: A necessidade de uma psicologia humanizada para a retomada do pensamento crítico da categoria.
Por: Luiz Pit • 29/11/2018 • Resenha • 1.114 Palavras (5 Páginas) • 206 Visualizações
Pensando a juventude: A necessidade de uma psicologia humanizada para a retomada do pensamento crítico da categoria.
Adolescência e juventude são dois conceitos que se aproximam e se divergem em vários aspectos. O primeiro é mais trabalhado na psicologia e nas ciências humanas por se tratar de um período de mudanças corporais decorrentes da puberdade que geram a necessidade de um trabalho de ressignificação psíquica para se adaptar a essas transformações biológicas, desta forma o conceito de adolescência é um fenômeno cultural onde são assimiladas as características sociais e psicológicas referentes às condições de entrada à vida adulta.
O conceito de juventude gera maior complexidade de ser entendido, por ser caracterizado por inúmeros atravessamentos, é uma categoria definida por uma construção social, histórica, política, econômica, territorial, portanto, há a necessidade de uma analise histórica e de conjuntura destes âmbitos para se aproximar de uma definição conceitual sobre a juventude.
A história nos mostra em diferentes períodos, diferentes ideais atribuídos a juventude, generalizados a cada geração.
Na pré-modernidade os idosos ocupavam um lugar de destaque e respeito na sociedade, pela valorização que se dava a sabedoria construída ao longo da vida e a importância de passarem seus conhecimentos aos mais jovens. No entanto, com a passagem a chamada pós-modernidade, defendida por alguns autores, caracterizada pela dissolução da temporalidade e a irrelevância dada ao passado e ao futuro, em detrimento do imediatismo e a supervalorização do presente, há uma inversão de valores, onde o novo, o “ser jovem” passa a ser idealizado pela sociedade capitalista como o auge da existência humana, onde o individualismo desvaloriza o sujeito autônomo, racional, que acredita ser detentor de uma liberdade, mas que, no entanto está preso a um sistema e a uma ideologia alienante.
Uma das características da juventude defendida por alguns autores e que são homologas ao conceito de adolescência é o sentimento de não lugar na sociedade e com o seu tempo, o que faz surgir movimentações no sentido de modificar e superar algumas problematizações e tradições vistas por eles como antiquadas ou ultrapassadas, durante o período das grandes guerras houve uma intensificação na propagação desses ideais e do sentimento da necessidade da mudança, que logo a seguir foram combatidas e freadas com a necessidade de se disseminar a cultura do consumo.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, surge à necessidade da afirmação do sistema capitalista de produção, e os jovens passam a ocupar um lugar privilegiado, e são vistos como o símbolo de uma nova era, com políticas e a mídia estimulando-os a ocuparem esse papel principal na sociedade, onde o consumismo é difundido e vendido como status social, marcando a juventude com um espectro narcisista, onde a prioridade é a realização do prazer imediato, enfraquecendo os vínculos sociais.
Esse novo paradigma capitalista gera uma mudança nos processos de subjetivação da juventude e conseqüentemente a psicologia precisa desenvolver novas formas de abordagem, e de pensar o cuidado com esta categoria.
No entanto, a psicologia normativa, que busca um desenvolvimento teórico e praticas que visam enquadrar os jovens nos padrões sociais defendidos como corretos, cuja sua ética caminha junto à moratória capitalista para a manutenção e inserção destes nesta sociedade, não produz um conhecimento progressista e humanizado, já que sua real intenção é encaixar e doutrinar os jovens que fogem a lógica do mercado, generalizando e idealizando um perfil padronizado, combatente ao estereótipo construído em torno das características de transgressor, gerador de problemas, nos mostrando uma contradição onde o jovem ao mesmo tempo é visto como o principal alicerce do investimento de ideais consumistas para a manutenção do capitalismo e por outro lado um potencial inimigo a essa lógica devido à característica de potencial inovador e de gerar mudanças no campo social, desconsiderando a diversidade cultural e as diferentes classes sociais, esta psicologia caminha em direção a um reducionismo no que diz respeito à singularidade no processo de subjetivação.
A psicologia social, e a psicanálise do campo Freud/Lacan embasadas no seu desenvolvimento pelo materialismo histórico dialético, são ferramentas importantes para pensarmos o processo de subjetivação da juventude contemporânea, pois nos propicia pensar esse processo sob uma gama de atravessamentos sociais e materiais inerentes ao modo de produção capitalista, tornando possível pensar os impasses psicossociais desta categoria de uma forma mais atenta e concreta.
Para a práxis psicanalítica algumas formas de adoecimento psíquico na juventude estão diretamente ligadas e são homologas aos modos de produção da vida material, que é chamado de sintoma social dominante, um termo inserido na psicanálise por Charles Melman.
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