Períodos históricos de distribuição e ensino de psicologia
Resenha: Períodos históricos de distribuição e ensino de psicologia. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: escalvado • 19/3/2014 • Resenha • 2.229 Palavras (9 Páginas) • 321 Visualizações
O texto apresenta uma história da psicologia relacionando-a aos períodos históricos vividos pelo país mostrando como ocorreu a difusão e o ensino da psicologia. Parte-se do Brasil colônia e do ensino desenvolvido nos seminários e nos colégios, explora-se as teses de medicina do século XIX e discorre-se sobre as primeiras obras voltadas para o ensino de psicologia nos anos 1950 a 1970 em um momento de já institucionalização.
O interesse pela história da psicologia emergiu da área de formação de psicólogos e da preocupação com a centralização em modelos europeus e estadunidenses onde impera o valor intimista do indivíduo. E conhecendo um pouco mais sobre os seres humanos estudados pelos saberes da psicologia é possível a desnaturalização de nossas ideias e práticas.
Através das abordagens feitas pelos autores que se dedicaram à temática da história da psicologia que foram possíveis as escolhas a seguir. Carteau alertou sobre a importância de informar o lugar de onde a narrativa é construída. Já em outra visão há a ideia de que o fato histórico é construído a partir de diversas abordagens como as condições diversas (culturais, econômicas, etc) que permitiram um acontecimento e não o outro (Jacó Vilela, 2009). Há a importância de se estudar a história da ciência em países periféricos, pois aparecem em cena, questões políticas, de dependência, de autonomia, ou de relação de intercâmbio em relação ao centro.
Enquanto a cultura europeia difundia-se ao passo que a Europa colonizava novos mundos, vários autores alertaram que a recepção de conceitos externos não é necessariamente uma reprodução daquilo que foi construído em outro lugar. Trata-se de ‘’ ideias fora do lugar’’ (Schwartz, 1977), ou seja, foram apropriadas e se transformaram em outras ideias em sua nova ambiência.
O texto faz opção por uma história local, pois, como Carteau (1988) destaca, reconhece a particularidade a partir de que posição – social ou geográfica – o pesquisador se pronuncia. Faremos um voo de pássaro por uma floresta, sem nos atentarmos a diferentes detalhes que o olhar atento a uma árvore nos propiciaria.
O PERÍODO COLONIAL E O ENSINO RELIGIOSO
A partir de entrada das primeiras naus portuguesas em 1500, foi que o Brasil ingressou no universo europeu. Apesar das disputas com a França, Espanha e Holanda, Portugal manteve seu domínio por três séculos investindo apenas na exploração de recursos minerais, cerceando quaisquer atividades culturais que não fossem os colégios religiosos realizados pelo jesuítas. Os jesuítas se dedicavam à catequese dos índios pois viam que eles tinham entendimento, memória e vontade e criaram colégios para os curumins, à fim de empregar um ensino que hoje denominamos de ideias psicológicas. O foco principal era tanto o entendimento sobre o homem, quanto o objeto da catequese, criando-se, pois, uma psicologia infantil. Para Alexandre de Gusmão, autor do livro ‘’A arte de bem educar os filhos na idade puerícia’’, a arte de educar baseia-se na boa criação, e tanto os pais quanto os professores são tributários desse processo.
O OITOCENTOS BRASILEIRO – O BANDO DE IDEIAS NOVAS
Dentre tantas revoluções, o século XIX inicia-se com a família real obrigada a refugiar-se em sua colônia devido à invasão do país pelas tropas de Napoleão. Após isso, o retorno da corte possibilitou a existência de imprensa, comércio com outras nações e criação de instituições de nível superior, ou seja, surgiu a emergência para uma nova possibilidade de país. No entanto, ainda foram necessários muitos outros acontecimentos para que houvesse uma mudança no modo de vida dos brasileiros; movimentos políticos como a independência, a abolição da escravatura, a proclamação da república etc. O império investiu conhecimento demográfico e cartográfico para construir uma memória nacional. Retratou através, por exemplo, de pinturas, os grandes feitos nacionais (como o quadro A primeira Missa no Brasil, de Vitor Meireles, de 1861). A partir daí o Estado Imperial foi se consolidando sendo gerenciado e controlado diretamente pelo aparelho estatal. Assim, surgiu a chama classe média intelectualizada orientando seus discursos com palavras de ordem. Apesar de representar um segmento ínfimo da população, esse grupo propicia o aparecimento de um projeto igualitário ao mesmo tempo que se mantém o modelo hierárquico de sociedade. Com novas maneiras para interpretação da vida brasileira tendo como ponto comum a ciência, houve uma vasta literatura de divulgação do homem e da sociedade que não serviram apenas para estudo biológico, mas também psicológico; além de explicar o uso do conceito de ciência para dar prestígio e verdade a o que afirmavam, propunham programas embora sem recursos para cumpri-los. Pode-se então entender que o cientificismo oitocentista converte a ciência a uma nova metafísica tendo o Brasil, nesse processo de hegemonização, um grande suporte com a chegada do positivismo.
Com as produções sobre a alma atribuídas ao clero, a nova ciência foi atribuída aos médicos com algum conhecimento obtido na Europa e imbuídos de ideias novas como evolução, materialismo, ciência e, por que não? Psicologia, ocupando o lugar dos literatos iniciando o entusiasmo pela ciência, evolução e mudança. Chegando em Salvador, Dom João VI cria a Escola de Cirurgia da Bahia e, no Rio de Janeiro, a Escola Anatômica Médica e Cirúrgica que, em 1932 transformam-se em Faculdades de Medicina tendo como condição para a obtenção do diploma de Doutor, a defesa de teses; e daí, o discurso católico também vai sendo substituído pelo discurso científico. Em 1941, no Rio de Janeiro, Antonio Pereira D’Araújo apresentou uma tese sobre frenologia (criada por Gall, séc. XVIII) que estabelecia um ponto específico no cérebro para cada faculdade humana e que, por sua proeminência, revelava-se na forma exterior do crânio. A partir disso, juntamente com o evolucionismo (Charles Darwin), é que foi possível o estudo dos seres humanos como dos outros seres vivos, sem partir da ideia de unidade entre corpo e alma e através da fisiologia do cérebro onde se localizam as propriedades e funções da alma. O conhecimento passou a não ser apenas um produto da autorreflexão e entrou-se num segundo tempo. A alma no discurso colonial passou a ser objetivada pelo discurso da ciência, conhecendo-se apenas os produtos de um funcionamento interno que só pôde ser conhecido pelo outro, através de mensurações. Nas Faculdades de Medicina, o ensino passou a ser feito através de livros importados e, nas teses, o conhecimento psicológico desenvolvido na Europa e Estados Unidos é
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