Psicologia Hospitalar
Por: Luis Roulette • 14/6/2015 • Resenha • 897 Palavras (4 Páginas) • 357 Visualizações
GUATTARI, Félix. Práticas analíticas e práticas sociais. In: ___ Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. p. 181-203.
Resenhado por Ane Cristina Thurow
O capítulo “Práticas analíticas e práticas sociais” apresenta a experiência de Félix Guattari na constituição de um dispositivo de “Psicoterapia Institucional” na Clínica de La Borde (França), em 1955. Este dispositivo foi criado para atuar em um estabelecimento privado no tratamento de psicóticos. Guattari expõe que essa experiência permitiu que ele conhecesse a psicose e percebesse que o trabalho institucional poderia ajudar essas pessoas.
Para o autor, os psicóticos assumiam uma atitude bestial, visto que precisavam de guardiões para cuidá-los. No entanto, esse convite de Jean Oury, permitiu que Guattari percebesse que o estilo de vida comunitária vivenciado na clínica La Borde, com métodos de grupos, ateliês, psicoterapias, transformava os doentes em pessoas mais amigáveis e que estavam dispostas a participar de uma vida coletiva.
Assim, a instalação desse novo método fazia com que todos os membros da equipe de trabalho participassem e criassem técnicas próprias de monitorar e modificar o ambiente para que houvesse uma distribuição e recreação no trabalho. É evidente que nem toda equipe ficou satisfeita, mas a colaboração dos técnicos nas atividades coletivas propiciou que o pensamento em prol da instituição e criação de um novo espaço de animação e exposição de habilidades tornou-se propício.
Com esse trabalho terapêutico, buscava-se a conscientização das potencialidades de cada um com suas responsabilidades individuais e coletivas de maneira ética e tecnocrática. Todo esse trabalho favoreceu a familiarização do mundo da loucura, de forma que o aprendizado e a forma de viver e ver a loucura foi sendo modificado, sendo possível que os doentes psicóticos percebessem suas capacidades. Assim, esse trabalho coletivo produzia um novo tipo de subjetividade.
Na Clínica La Borde, havia mais de quarenta atividades recreativas diferentes para os pensionistas e membros da equipe. Com as atividades dando resultados, a vontade de mudar a vida da população apareceu, visto que a subjetividade existente era produzida e serializada. Assim, surge a “análise institucional” de maneira que vinte grupos foram formados com uma prática que se estendia aos segmentos sociais mais amplos, isto porque não era uma psicanálise clássica. Esses grupos, por volta da década de sessenta, filiaram-se à FGERI (Federação dos Grupos de Estudo e de Pesquisa Institucional) que, depois, passou a se chamar CERI (Centro de Estudo e de Pesquisa Institucional).
Nesta época, surge o movimento antipsiquiátrico que abalou a opinião da sociedade que tinha sua concepção de doentes mentais. Algumas experiências comunitárias foram criadas, e isso permitiu que Laing e Cooper percebessem, de maneira reducionista, que a doença mental, especialmente a psicose, poderia ser resultante de conflitos intrafamiliares. Neste sentido, popularizou-se o conceito de “duplo vínculo” visto como gerador dos problemas de comportamento, os mais graves através da recepção, pelo paciente designado, de uma mensagem contraditória emanada da família. A visão de que a família tinha culpa pela psicose é um tanto simplista e traz efeitos negativos, visto que se sabe que não é apenas isso.
A corrente italiana “Psiquiatria Democrática”, liderada por Franco Basaglia, tinha como objetivo fechar os hospitais psiquiátricos, estando concentrada na atividade no campo social global. Aparentemente, o atendimento em hospitais gerais parecia ser uma solução, assim, isso foi discutido, projetado e teve sua instauração pela Lei 180. Deste modo, percebe-se que os renovadores italianos da psiquiatria tocavam no problema real, fazendo uma sensibilização e mobilização no contexto social podendo haver condições favoráveis e com transformações reais como no exemplo em Trieste.
...