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Psicologia Luto

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Por:   •  21/3/2015  •  3.108 Palavras (13 Páginas)  •  328 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da Civilização, a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao mesmo tempo, aterroriza a Humanidade. A morte e os supostos eventos que a sucedem são, historicamente, fonte de inspiração para doutrinas filosóficas e religiosas, bem como uma inesgotável fonte de temores, angústias e ansiedades para os seres humanos.

O interesse pelo tema da morte teve início com a leitura de algumas reportagens do LELU (Laboratório de Estudos e Intervenção sobre o Luto). O contato com estas reportagens, e a análise da morte como fenômeno psíquico, foram o ponto de partida deste trabalho. As matérias vieram de encontro aos anseios naturais sobre a morte e mostraram que, apesar da dimensão etérea que a morte toma em nível psíquico, existem profissionais e entidades empenhadas em estudá-la de forma científica, usando uma metodologia essencialmente psicológica.

Em função do contato inicial com o material do LELU e do interesse por ele despertado, a busca de outras pesquisas já realizados no mesmo campo foi um impulso natural, e acabou formando a base teórica que sustenta este trabalho.

A morte como fenômeno físico já foi exaustivamente estudada e continua sendo objeto de pesquisas, porém permanece um mistério impenetrável quando nos aventuramos no terreno do psiquismo.

Falar sobre morte, ao mesmo tempo que ajuda a elaborar a idéia da finitude humana, provoca um certo desconforto, pois damos de cara com essa mesma finitude, o inevitável, a certeza de que um dia a vida chega ao fim.

A certeza humana da morte aciona uma série de mecanismos psicológicos. E são esses mecanismos que instigam a nossa curiosidade científica. Em outras palavras, o foco de interesse seria como o homem lida com a morte; seus medos, suas angústias, suas defesas, suas atitudes diante da morte.

O objetivo da presente pesquisa é o aprofundamento teórico da questão da morte, enfocando a maneira pela qual o homem lida com este fenômeno humano inevitável, percebendo os mecanismos psicológicos que entram em ação quando o homem se encontra diante da morte.

A concepção que se tem sobre a morte e a atitude do homem diante dela, tende a se alterar de acordo com o contexto histórico e cultural. Sem dúvida o advento do capitalismo e seus tempos de crise, fez surgir uma nova visão sobre a morte, que segundo Torres, (1983), tem a ver com o surgimento do capital como força principal de produção. Neste sentido, o vivo pode tudo e o morto não pode nada, já que teve sua vida produtiva interrompida.

Diante desta crise, na qual os homens encontram-se completamente abandonados e despreparados, vemos este aprofundamento teórico como uma forma de dimensionar a morte, contribuindo para sua melhor compreensão e elaboração, instrumentalizando sobretudo, os profissionais da área de saúde, que trabalham lado a lado com este tema.

Este trabalho encontra-se estruturado em três partes principais. A primeira busca analisar o impacto da morte na sociedade através do tempo, mostrando como diferentes povos em diferentes épocas, lidavam com essa questão. A segunda parte fala sobre os sentimentos ambíguos gerados em nós, seres humanos, quando somos obrigados a encarar a nossa própria morte, bem como a morte do outro. A terceira e última parte fala do luto, em seus diversos contextos.

DADOS HISTÓRICOS

Possuímos uma herança cultural sobre a morte que define nossa visão de morte nos dias atuais. Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983), as interpretações atuais sobre a morte constituem parte da herança que as gerações anteriores, as antigas culturas nos legaram.

Faremos então, um pequeno passeio pela história para que possamos entender como foi construída a idéia da morte encontrada nos dias de hoje.

Arqueólogos e antropólogos, através de seus estudos, descobriram que o homem de Neanderthal já se preocupava com seus mortos:

"Não somente o homem de Neanderthal enterra seus mortos, mas às vezes os reúne (gruta das crianças, perto de Menton)." Morin (1997)

Ainda segundo Morin (1997) na pré-história, os mortos dos povos musterenses eram cobertos por pedras, principalmente sobre o rosto e a cabeça, tanto para proteger o cadáver dos animais, quanto para evitar que retornassem ao mundo dos vivos. Mais tarde, eram depositados alimentos e as armas do morto sobre a sepultura de pedras e o esqueleto era pintado com uma substância vermelha.

"O não abandono dos mortos implica a sobrevivência deles. Não existe relato de praticamente nenhum grupo arcaico que abandone seus mortos ou que os abandone sem ritos." Morin (1997)

Ainda hoje, nos planaltos de Madagáscar, durante toda a vida, os kiboris constróem uma casa de alvenaria, lugar onde seu corpo permanecerá após a morte.

Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983), os egípcios da antigüidade, em sua sociedade bastante desenvolvida do ponto de vista intelectual e tecnológico, consideravam a morte como uma ocorrência dentro da esfera de ação. Eles possuíam um sistema que tinha como objetivo, ensinar cada indivíduo a pensar, sentir e agir em relação à morte.

Os autores seguem dizendo que os malaios, por viverem em um sistema comunitário intenso, apreciavam a morte de um componente, como uma perda do próprio grupo. Desta feita, um trabalho de lamentação coletiva diante da morte era necessário aos sobreviventes. Ademais, a morte era tida não como um evento súbito, mas sim como um processo a ser vivido por toda a comunidade.

Segundo Ariès (1977), na Vulgata, o livro da Sabedoria, após a morte, o justo irá para o Paraíso. As versões nórdicas do livro da Sabedoria rejeitaram a idéia de Paraíso descritas no livro original pois, segundo os tradutores, os nórdicos não esperam as mesmas delícias que os orientais, após a morte. Isso porque os orientais descrevem que o Paraíso tem "a frescura da sombra", enquanto os nórdicos preferem "o calor do sol". Estas curiosidades nos mostram como o ser humano deseja, ao menos após a morte, obter o conforto que não conseguiu em vida.

Já o budismo, através da sua mitologia, busca afirmar a inevitabilidade da morte. A doutrina budista nos conta a "Parábola do Grão de Mostarda": uma mulher com o filho morto nos braços, procura Buda e suplica que o faça reviver. Buda pede à mulher que consiga alguns grãos de mostarda para fazê-lo reviver. No entanto, a mulher deveria conseguir estes grãos em

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