RECORTES DO CORPO NA HISTORIA: Uma Reflexão Sobre O Culto Ao Corpo Na Contemporaneidade
Dissertações: RECORTES DO CORPO NA HISTORIA: Uma Reflexão Sobre O Culto Ao Corpo Na Contemporaneidade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: erllun • 23/5/2014 • 2.450 Palavras (10 Páginas) • 571 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
RECORTES DO CORPO NA HISTORIA:
Uma reflexão sobre o culto ao corpo na contemporaneidade
Autoria: Hudson Amaral de Oliveira
Aluno do Curso de Psicologia / Unidade Betim
Resumo: Este artigo busca refletir sobre a relação entre sujeito e corpo na contemporaneidade. A representação do corpo será discutida tendo em vista a dualidade liberdade/controle na sociedade moderna, as transformações teológicas, biológicas e sociais desenvolvidas ao longo da História. Propõe-se a contextualizar o corpo e seus valores em duas épocas diferentes: Idade Média e Idade Moderna e discutir a influencia da mídia para a criação e divulgação dos modelos corporais atuais.
Palavras Chave: Culto ao corpo, Historia do corpo, Controle corporal.
Betim
2007
Introdução
Este artigo busca refletir sobre a relação entre sujeito e corpo na contemporaneidade. A representação do corpo será discutida tendo em vista a dualidade liberdade/controle na sociedade moderna, as transformações teológicas, biológicas e sociais desenvolvidas ao longo da História. Podemos notar claramente o papel influente que a mídia exerce sobre a concepção de corpo saudável da atualidade traçando com seus apelos, os corpos modelos da moda, criando tendências e reproduzindo o que se definiu como padrão para cada momento. “O sistema de comunicação está dominado pelo mercado econômico e o marketing tornou-se uma estratégia comum na vida cotidiana.” (SARDINHA, 2004 p.11)
O corpo como o bem mais valorizado na modernidade passou a ser referencia para todas as ciências, se tornando um objeto com múltiplas visões nas negociações entre o discurso da mídia e o publico.
Na idade média, período onde a forma de vida era bastante despendida dos valores materiais, o corpo era visto como objeto de pecado. O cristianismo era a mediação para o alcance dos céus, pelo sacrifício do corpo que busca a redenção através da anulação dos desejos e prazeres. A alma aqui tomava o lugar do corpo como objeto de maior valor tendo também uma relação com os meios de comunicação da época, no caso a Igreja e a Bíblia, criando modelos de comportamento à serem seguidos pela população.
Pretende-se nesse artigo contextualizar o corpo e seus valores em duas épocas diferentes: Idade Média e Idade Moderna, discutir a influencia da mídia para a criação e divulgação dos modelos corporais atuais e na conclusão, discutir as consequência deste “culto ao corpo” em nossa sociedade e apresentando as formas mais comuns de intervenção no processo de desenvolvimento natural do corpo, assim como as doenças contemporâneas ligadas a estética.
O corpo através da Historia
A experiência do corpo na idade média é marcada, sobretudo, pela experiência do cristianismo. Os cristãos romanos tinham como dado novo a fé que os fazia tentar vivenciar o tempo nos corpos, acreditando que quanto mais fervorosos no culto a um único Deus, menos os desejos os afligiam.
Com o cristianismo, surge uma nova questão: o sofrimento físico, que confere a dor do corpo um novo valor espiritual. O corpo passa a ser o primeiro alvo do sacrifício necessário, pois o abdicar dos prazeres carnais era uma das condições de conversão. Um de seus fundamentos é a igualdade que não observa as diferenças sexuais, por que o que importa é o espírito.
Rodrigues (1999) nos aponta uma característica da Idade Média considerada por ele de difícil entendimento para a mentalidade contemporânea, mas que acreditamos ser de muita importância para este estudo sobre o corpo; trata-se da não separação entre espírito e matéria. De acordo com ele não se imaginava, nos tempos medievais, que os seres humanos possuíssem um espírito separado de um corpo. A corporalidade medieval era valorizada em si, até por que continha o que hoje chamamos de espiritual. Essa lógica de pensamento trazia o corpo ligado diretamente à alma, fazendo com que os homens atribuíssem sentido a aspectos como a dor - desenvolvendo diferentes espécies de “arte de sofrer” - que hoje nos soariam verdadeiramente absurdas. Ainda de acordo com Rodrigues (1999) a tortura é um traço comum dos tempos medievais e é possível justifica-la como uma ação sobre o espírito, por meio daquilo que chamaríamos de corpo: todos os sofrimentos infligidos ao corpo eram sofrimentos estabelecidos sobre a alma e vice-versa. A tortura por esta razão até poderia ser uma garantia de salvação, naquele contexto simbólico. Antecipando nesta vida, o pagamento de uma dívida potencialmente reservada para a outra.
Outro fator importante seria uma analise sobre como era visto o corpo dentro do sistema socioeconômico da época, o feudalismo. Lucero (1995) nos diz que na sociedade feudal, o corpo dos indivíduos já trazia em si, uma codificação estrita que garantia total inserção e integração ao corpo social. E que esta ação era vivida em silencio, anulando o desejo individual, abstendo-se do exercício despótico da individualidade. Neste caso o principio que garante a igualdade entre os elementos do corpo social não está fundado no desenvolvimento da individualidade, no culto do eu, e sim, justamente em sua contenção, em sua perda, em sua anulação. A sociedade medieval caracteriza-se como uma “sociedade de marcação”, isto é, os próprios corpos trazem gravados em si mesmos as marcas que garantem sua inserção e integração na sociedade.
Com a ascensão do capitalismo e uma mudança na lógica do pensamento, a sociedade moderna passa a ver o corpo de uma outra forma. Ou seja, o corpo que até então tinha sido alvo de tabus, sacrilégios, torturas e negação; passa a ter um novo valor, o valor produtivo, marcando uma nova era na relação entre os homens, seus corpos e espíritos.
Os indivíduos que inauguram a modernidade vivenciam no corpo a transição entre a opressão da obediência aos dogmas religiosos e a volta ao prazer, ao homem como centro do Universo. O aparecimento do dualismo cartesiano passa a distinguir corpo e alma, fazendo com que o corpo deixe de ser visto como
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