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RELATO DE CASO: O ATENDIMENTO AO/A ALUNO/A COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL DO/NO CAMPO NA PANDEMIA

Por:   •  4/1/2021  •  Trabalho acadêmico  •  1.982 Palavras (8 Páginas)  •  259 Visualizações

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RELATO DE CASO: O ATENDIMENTO AO/A ALUNO/A COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL DO/NO CAMPO NA PANDEMIA

Adriana Fátima de Campos, adrii_fcampos@hotmail.com;

Mônica Matos Barbosa, monica_matos15@hotmail.com.

  1. Introdução/considerações iniciais

        O presente relato é pautado na experiência de profissionais da educação especial que atendem Sala de Recurso Multifuncional (SRM) pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná. O objetivo é discutir como está ocorrendo o atendimento a esses estudantes durante a pandemia. A primeira constatação é de que a precarização do acesso dificulta o atendimento de qualidade no processo ensino-aprendizagem. Outro agravante dessa situação decorre do ambiente social em que esses alunos estão inseridos: o campo.

A educação inclusiva e a educação do campo aqui serão analisadas como complementares. Ambas são desvalorizadas pelo sistema, já que este se orienta pela lógica capitalista que concebe a educação como um mercado, no qual as minorias ficam à margem. A educação ocorre num ambiente social e que deve ter a participação e integração de todas as pessoas, portanto, também dos indivíduos do interior e daqueles que possuem alguma deficiência, pois estes são fundamentais para o processo de socialização. Tendo em vista a nova realidade do ensino remoto, os/as alunos/as que não possuem instrumentos tecnológicos para o acesso às aulas on-line, se vêem mais uma vez excluídos. Portanto, diferentes vias de marginalização se interseccionam.  

Como professoras, ficamos com a difícil tarefa de atender nossos/as alunos/as, uma vez que as possibilidades da educação no modelo remoto se reduzem a materiais impressos, conversas por aplicativos de mensagens e/ou busca ativa. Ao se discutir os problemas enfrentados no sistema de ensino, acredita-se que poderá contribuir para possíveis melhorias no acompanhamento dos/das alunos/as que necessitam de um atendimento diferenciado e de qualidade.

  1. Desenvolvimento/Descrição da prática/ Resultados e discussões

A educação brasileira sempre foi marcada, ao longo de seu processo histórico, pelo descaso por parte de quem deve garanti-la, o Estado. O desdém e a omissão deixaram marcas perceptíveis até a atualidade. No contexto da pandemia do Covid-19, exige-se uma nova perspectiva de ensino: o sistema à distância. Para que isso ocorra, é necessário o acesso aos instrumentos norteadores, como computador, celular, internet e o mínimo de conhecimento prático de como acessá-los. Isso se torna praticamente impossível na realidade de muitas escolas do Paraná, principalmente daquelas que são do campo, onde a realidade socioeconômica dos/as alunos/as não permite que os/as mesmos/as adquiram tais ferramentas.

Iniciando nossas discussões teóricas, analisaremos a concepção de educação humanista de Paulo Freire que “realiza-se através de uma constante problematização do homem-mundo. Seu que fazer e problematizador, jamais dissertador ou depositador”. (FREIRE, 2011, p. 15). Partimos do pressuposto que o indivíduo é um sujeito vivo e está em constante relação com demais, e com as instituições.

A educação é um processo de interação e diálogo entre o educador e o educando, juntos criam a consciência de abrir-se do homem para o mundo. “Isso significa: 1) que ninguém educa ninguém; 2) que ninguém tampouco se educa sozinho, 3) que os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. (FREIRE, 2011, p.15).” O educando assume o papel de agente transformador dentro da sociedade.

Sobre essa visão, Saviani aborda que:

(...) É pelo diálogo permanente e crítico, professor e aluno fazem pesquisa, cujo objeto é a cotidianidade. Frutos da reflexão sobre a ação, as ideias então formadas não são aceitas como modelo, mas entendidas como parte de um processo de recriação permanente. E o trabalho educativo desenvolve-se baseado na realidade, na ação cotidiana do povo, de cada um, num processo constante de “ensinar a aprender o que seja pesquisar” (SAVIANI, 2006, p.51 e 52).

        A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade. Portanto, a escola não está à margem da sociedade, ela é parte integrante e como tal, é um ambiente de socialização.

        O espaço educacional é visto como um processo social, em que todos os indivíduos têm direito à educação. Incluir vai além de integrar, é um processo mais complexo, intenso e efetivo. Mais que um compromisso pedagógico e formal, a inclusão valoriza as diferenças e limitações, acreditando que não há saberes mais ou menos importantes, mas sim diferentes. Deve haver valorização da diversidade de saberes, de conhecimentos, de realidades, de pessoas.  Para que essa inclusão seja efetiva, é necessária uma reorganização escolar, medidas que precisam ser tomadas como: adequação na infraestrutura, redução de número de alunos por turma, profissionais especializados, instrumentos tecnológicos, etc.

Inclusão escolar, sem exceção, abriga todas as pessoas, no âmbito de ensino, independentemente de cor, classe social e condições físicas e psicológicas. É “na escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças, esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa’’. (MANTOAN, 2005, p. 24-26).

A UNESCO afirma que:

        [...] fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças deveriam aprender juntas, independente de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter, as escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas necessidades de seus alunos, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos por meio de currículo, apropriações, modificações, organizações, estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com a comunidade [...] dentro das escolas inclusivas as crianças com necessidades educativas especiais deveriam receber qualquer apoio que lhes assegure precisar, para que lhes assegurem uma educação efetiva [...] (UNESCO, 1994, p.61)

        Na realidade, se busca a construção de uma sociedade inclusiva empenhada em olhar para essas minorias, em especial aqui, interseccionada, os portadores de deficiência intelectual oriundos do meu rural.

Ao analisarmos as teorias de Paulo Freire, na sua obra “Educação como prática da liberdade” o autor cita que:

Sentíamos – permitia-se-nossa repetição – que era urgente uma educação que fosse capaz de contribuir para aquela inserção a que tanto temos nos referido. Inserção que, apanhando o povo na emersão que fizera com a “rachadura da sociedade”, fosse capaz de promovê-lo da transitividade ingênua à crítica. Somente assim, evitaríamos a sua massificação. (FREIRE, 2001, p. 140)

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