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RESENHA - POR QUE A PSICANÁLISE?

Por:   •  8/3/2020  •  Resenha  •  2.047 Palavras (9 Páginas)  •  321 Visualizações

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RESENHA - POR QUE A PSICANÁLISE?

Analisando o texto, porque a psicanálise, a autora faz um relato de uma solução categórica contra a sociedade depressiva que determina o mundo atual, apesar de suas dificuldades convencionais internas e das críticas pelas quais vem sendo submetida ao longo do século. Através de uma análise esclarecedora e de uma linguagem clara, o texto nos convida, a refletir nossa sociedade, nosso tempo, nossos padrões culturais e de comportamento. Sendo assim, o trabalho da autora é uma análise de cunho não especificamente psicanalítico, mas também sociológico, histórico e filosófico.

Percebi que a autora foi certeira na escolha do tema que desenvolve neste livro, num momento em que o imaginário inclina-se sobre a dupla passagem, do século e do milênio. Ela retira a psicanálise da intimidade dos settings, e automaticamente se desvencilha das inflamadas discussões teórico-científicas, e a traz para o contexto. Utilizando questionamentos a respeito da sociedade contemporânea, formadora de “deprimidos” ansiosos de normalização farmacológica, ela direciona essa visão patológica do sujeito para a própria sociedade; ou seja, não é apenas o sujeito quem está deprimido, mas a sociedade em si é depressiva. Sociedade esta determinada pela padronização de comportamentos e de crenças voltadas para a normatização de atitudes diante dos presumidos padrões de normalidade. Lugar este em que os afetos da alma passaram a ser explorados por substâncias químicas, funções cerebrais e respostas biológicas. Nesta fase a verbalização passa a ser substituída por medicamentos: promessas de felicidade concentrada em pílulas do prazer, destinadas a indivíduos padronizados.

Em uma breve conclusão, a autora posiciona-se diante do uso de psicotrópicos. Longe de ser uma crítica radical sobre a utilização de medicamentos, o que é colocado em debate é a forma como eles são utilizados. Em uma colocação genial, a autora descreve as crenças que são depositadas em tais pílulas do prazer. Em um mundo de valores distorcidos e desejos urgentes, passa a ter mais valia a crença numa fórmula química do que nas relações regidas pela linguagem. Utilizando-se de argumentos bem fundamentados numa visão analítica refinada, ela coloca como permanente o uso da psicanálise em tempos futuros; mesmo sobre críticas e de inúmeras tentativas em contrário por uma visão neurocientífica do psiquismo e do desejo da alma humana. Reafirma resultados favoráveis ao uso da psicanálise, decorrente da experiência clínica; passando assim relacioná-la à uma prática de caráter libertador e democrático: “A psicanálise demonstra o avanço da civilização sobre a barbárie. Reafirma o conceito de que o homem é livre por sua fala e de que seu destino não se restringe a seu ser biológico”. Pois, como ela mesma diz, não há pretensão científica que defina a subjetividade humana.
Na primeira parte, ela diferencia indivíduo e sujeito. O indivíduo é a base do comportamento farmacológico, pertencente a um mundo determinado pelo pensamento neurocientífico, aflito para enquadrar-se nos padrões de “normalidade’ e “felicidade”. O ser de agora em diante é autosuficiente e não pode sofrer. Agora o sujeito, como é observado pela psicanálise, é movido pela angústia constante do conflito. Um sujeito inconsciente é permanentemente contingente, ansioso e único. Um ser que não pode se descrever pela quantidade de substâncias produzidas por seu funcionamento cerebral. Objetivando negar a dinâmica da existência, o sujeito comportamental vive afoito por consumir um ideal de felicidade; mas não pode evitar a probabilidade de se deprimir. Sendo assim, quando é diagnosticado como um portador de patologia depressiva, serão prescritos os psicotrópicos, com a garantia de cura da doença. Na visão da autora, estamos vivendo em uma sociedade deprimida, uma vez que o uso de psicotrópicos é um consumo padronizado e normatizado, constatados e afirmados por uma ciência neuronal e farmacológica, que submete o sujeito e suas crises existenciais às respostas exclusivamente neurobiológicas.

Na Segunda parte, ela refere-se ao inconsciente, recapitulando que antes de Freud, desde a Antigüidade, quando já existiam perguntas sobre uma atividade psíquica distinta da consciência, mais a frente com Descartes, por meio da idéia de razão e desrazão, que abordavam noções de inconsciente. Porem nesta parte podemos fazer um link com o filme “Freud Além da alma, onde a autora mostra que foi com Freud que surgiram as concepções de um inconsciente ativo, psíquico e afetivo, organizado em instâncias próprias: o eu, o isso e o supereu. Um inconsciente que retirou o homem de um estado de alienação próximo a de um “animal” e, “estranho a si mesmo”, que necessitava ser moralmente cuidado.  Ao mesmo tempo, este homem deixa de ser o centro do universo, senhor absoluto e passa a sofrer as conseqüências de suas próprias escolhas; fato que o caracteriza como um sujeito livre, dotado de razão, porém uma razão que não é única, que consequentemente “vacila em seu próprio interior”. Ainda, segundo a autora, a psicanálise foi a única ciência que fez uma associação da teoria do psiquismo a uma filosofia de liberdade. O homem tornou-se sujeito de seu destino, responsável por suas escolhas, cheio de incertezas e daí por diante originaram-se seus conflitos internos.

A terceira parte a autora situa a psicanálise numa visão científica, diferenciado-a de uma visão dogmática, com intuito de, finalmente, explicar a sobrevivência da psicanálise no século seguinte e na história. Porém, ela não deixa de mostrar uma visão crítica às tentativas de congelamento explícito no interior da prática e das instituições psicanalíticas. Ela, deixa claro a necessidade de se repensar o tratamento padronizado, isto é, através da “imagem fictícia da poltrona e do divã’, reajustando-se às mudanças e transformações da modernidade, atualmente voltadas para uma “situação analítica” frente a frente, como no modelo de psicoterapia. A autora atualiza seu pensamento frente às questões do mundo moderno e das necessidades de construção de um novo sujeito. Mudaram-se os pacientes e consequentemente os psicanalistas. E não poderia ser diferente, pois os pacientes de hoje em dia caminham para uma autodestruição, apresentam distúrbios de culto excessivo à própria imagem ou estão completamente depressivos, sofrem de solidão e também de perda de identidade, o que levam a crer em curas milagrosas e passam a desacreditar da cura efetiva da psicanálise. Com esta visão, existem novas gerações de psicanalistas, que a autora pontua mais especificamente na França - mas isto ocorre como um fenômeno internacional, que conta com psicanalistas ou psicoterapeutas de várias fontes de orientação teórico-prática – que almejam  uma renovação dos conceitos Freudianos, estando abertos a várias formas de psicoterapia, tendo sempre a psicanálise como um modelo referencial.

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