Relato de Caso Clinico TCC
Por: Fabio Ramos • 27/6/2017 • Relatório de pesquisa • 1.226 Palavras (5 Páginas) • 2.628 Visualizações
Estudo de caso clínico em TCC
Introdução
Enquanto a TCC é vista como uma terapia objetiva, com metas claras e ferramentas predeterminadas para atingir objetivos, sabemos que a realidade da clínica nem sempre (ou raramente) é tão simples. O caso que escolhemos relatar a seguir, faz parte dos atendimentos difíceis pela não conformidade dos sintomas com o que seria esperado com casos clássicos, assim como um contexto de vida da paciente muito pouco propício a um trabalho eficiente. O nosso trabalho pretende trazer uma reflexão sobre essa temática.
Dados da cliente
A cliente tem 54 anos, é aposentada por invalidez desde 2004 por motivo de depressão. Ela tem um filho de 24 anos e uma filha de 17. Ela se diz separada do marido, mas vive junto com ele.
Ela foi indicada pelo psiquiatra para fazer uma terapia de tipo TCC.
O contexto familiar
A cliente se encontra num contexto familiar difícil em vários aspectos. O relacionamento com o marido parece ambivalente, por um lado ele é muito gentil e prestativo, por outro ele costuma agredi-la verbalmente quando ele está alcoolizado. Eles vivem juntos, mas separados enquanto casal.
O relacionamento com o filho também é muito incomum, ele não fala com ela nem com ninguém da família há 3 anos mas vivem juntos e se comunicam apenas com anotações escritas.
A filha 17 anos também é uma fonte de preocupação. Ela parou de tomar pílula anticoncepcional e começou a fumar maconha. Ela parece ter um forte poder de influência sobre a mãe que tenta fazer tudo para ela.
A cliente se queixa que ninguém se preocupa com ela.
Ela tem problemas financeiros e não quer que a família tenha contato com o terapeuta.
O contexto psiquiátrico
A cliente foi indicada pelo psiquiatra para fazer psicoterapia em TCC, pois apresenta Laudo psiquiátrico, na qual contém Depressão Crônica, Transtorno Bipolar, Transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e agorafobia. A cliente não soube relatar sobre esses diagnósticos, mas afirma que é muito ansiosa. Essa multiplicidade de diagnósticos deixou dúvidas e esclarecer essas questões com o psiquiatra foi muito difícil. Ele retornou as ligações só depois de “3 meses de atendimento”. Ele parece ter pouca firmeza no diagnóstico (ele fala ultimamente de transtorno borderline), ele também comentou que não tem como saber se ela está tomando corretamente a medicação. Dá impressão de pouca implicação no tratamento.
O problema da medicação
A cliente faz uso desde 2004 dos seguintes remédios:
Seroquel (episódios de mania do transtorno bipolar, esquizofrenia)
reação adversa: depressão, comportamento e ideação suicida, risco de hipotensão
Carbonato de Lítio (episódios de mania do transtorno bipolar)
reação adversa: insônia, cansaço, diminuição da velocidade de pensamento
Levozine (síndromes esquizofrênicas, ansiedade, depressão)
reação adversa: potencializa hipotensores, anti-hipertensivos e depressores do SNC
Diazepan (ansiedade, agitação motora)
reação adversa: cansaço, sonolência, confusão mental, depressão
A bula do Diazepan indica que “Pode ocorrer dependência com benzodiazepínicos. O risco é mais evidente em pacientes em uso prolongado” (vale lembrar que a paciente toma essa medicação há 13 anos).
Propranolol (beta bloqueador usado para hipertensão, ou tremores no caso dela)
reação adversa: depressão mental, lassidão, fraqueza
Prometazina (antialérgico, ação sedativa, para engasgos no caso dela).
reação adversa: confusão mental
Como psicólogos não podemos mexer na medicação, mas achamos importante ter uma reflexão em torno dessa temática que vamos encontrar com muita frequência.
Uma rápida leitura da lista de remédios utilizados pela cliente permite ver que são muitos, e que dificilmente não vão ter interações medicamentosas entre eles. Em casos de tanta medicação fica difícil saber ao certo qual é o efeito de cada remédio, e de que maneira essas medicações irá interferir na vida cotidiana e na psicoterapia dessa cliente.
A cliente esta tomando essa medicação desde 2004, Consideramos que seria importante rever essa medicação já que tem pouca eficiência em termo de redução da ansiedade e depressão. Pode ser que o Lítio funcione para os episódios de mania que ela não aparenta ter no momento (vale questionar inclusive se ela já teve episódios de mania, porque o lítio é uma medicação altamente nociva).
A pessoa presente no momento do atendimento terapêutico é uma pessoa modificada pela química medicamentosa e não a pessoa genuína. Hoje é comum vermos a crescente medicalização da vida, mas devido a tantas medicações não sabemos que tipo de modificações causam em sua personalidade.
Para entrar num aspecto um pouco mais técnico do mecanismo de ação da medicação receitada, podemos perceber que quase toda a medicação esta voltada para segurar as manias, ou seja, para deprimir o sistema nervoso central. Será que é surpreendente ela ter uma queixa de depressão nesse caso?
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