Resenha Crítica Caso Miss Lucy R.
Por: Kelly Miranda • 26/7/2019 • Trabalho acadêmico • 1.463 Palavras (6 Páginas) • 2.868 Visualizações
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
CASO MISS LUCY R.
RESENHA CRÍTICA
Feira de Santana – Bahia
2018
CASO MISS LUCY R.
RESENHA CRÍTICA
Trabalho apresentado para a disciplina Teorias e Sistemas I, ministrada pelo professor Joao Gabriel Lima como exigência para obtenção de nota.
Resenha crítica do texto: Caso 3: Miss Lucy R., 30 anos (FREUD). Cap. 2. Casos Clínicos.
No livro Estudos Sobre a Histeria, produzido por Sigmund Freud e Josef Breuer, o caso Miss Lucy R., tratado por Freud, aparece como o terceiro dos cinco casos retratados. Publicado em 1895, o livro se trata dos primeiros passos da psicanálise, a obra pioneira, onde Freud, em conjunto com Breuer, relata sua empreitada em decifrar e estudar os sintomas histéricos.
Em 1892, o caso de Miss Lucy R. foi encaminhado a Freud por um amigo, também médico, que tratava dessa paciente já a um tempo por conta de uma rinite supurativa recorrente, porém que depois de um tempo começou a relatar sintomas que ele já não sabia como tratar. A paciente havia perdido completamente seu olfato, exceto por um cheiro de torta queimada que lhe afligia, além de cansaço, perda de apetite e falta de vigor. Sendo assim, e chegando o caso a Freud, este primeiramente classificou as sensações subjetivas do olfato como alucinações recorrentes, logo, sintomas histéricos permanentes. O objetivo de Freud era encontrar um episódio na vida de Lucy em que esses odores que lhe acometiam não tivessem sido subjetivos, e sim objetivos, pois tal episódio estaria ligado diretamente ao trauma.
Resolveu então, tomar como partido o cheiro de torta queimada que a afligia, pois lhe parecia que este seria o sintoma chave do caso. O tratamento se estendeu por mais tempo que o esperado por conta da disponibilidade da paciente, pois esta trabalhava e só podia visitar Freud durante seu horário de consultas. Lucy trabalhava em uma casa onde cuidava de duas crianças cuja mãe havia morrido a alguns anos por conta de uma doença, o pai era um diretor de fábrica nos arredores de Viena.
Freud percebeu que a paciente não entrava em estado de sonambulismo quando ele tentava hipnotizá-la, logo resolveu não utilizar a hipnose em si nas análises. Passou a utilizar um método em que pedia para que ela se deitasse, fechasse os olhos, e se concentrasse, atingindo assim um estado alterado de consciência em que seria possível acessar lembranças e identificar ligações que aparentemente não estão presentes no estado de consciência normal – este método mais tarde se tornaria o que Freud chamaria de associação livre –. Nesse procedimento, Freud assumia que a paciente sabia a causa do que lhe acometia e só precisava trazer esta causa à consciência, forçá-la a comunicá-lo. Tal procedimento já havia sido utilizado por ele em outras análises, obtendo êxito em todas as tentativas.
Segundo o relato, em suas sessões, Freud colocava a cabeça do paciente entre suas mãos e dizia: “Você pensará nisso sob a pressão da minha mão. No momento em que eu relaxar a pressão, verá algo à sua frente, ou algo aparecerá em sua cabeça. Agarre-o. Será o que estamos procurando. – E então, o que foi que viu, ou o que lhe ocorreu?” (Miss Lucy R., 30 anos; pág. 107). Assim, sob este comando, o paciente lembrava-se do ocorrido e da causa de seus sintomas, e quando isso não acontecia de imediato ou quando a pessoa em questão afirmava não ver ou lembrar de nada, Freud lhe dizia que isso não era possível, obrigando o paciente a trazer a memória à tona. Porém, no caso em questão, o ato de ligar fatos à memorias e comunica-los pareceu não ser suficiente, pois seus sintomas não desapareciam, apenas enfraqueciam – Lucy passou a sentir o cheiro de torta queimada apenas quando ficava agitada – à medida que ligava-se o sintoma à diferentes acontecimentos que o desencadearam.
Em determinada sessão, foi questionado à paciente se ela lembrava da primeira vez em que sentiu o cheiro, ao que esta respondeu prontamente que sim, partindo daí uma longa conversa em que Lucy discorreu detalhadamente a respeito dos motivos que poderiam ligar a cena em questão ao trauma olfativo que a partir desta foi desencadeado. Ao final, parecia claro que os afetos reprimidos e contraditórios presentes no ocorrido se fizeram causais aos sintomas de Lucy, dos quais se destacava o odor de torta queimada. Porém Freud não se deu por satisfeito, pois acreditava que havia algo na causa do trauma que fora recalcado, ou seja, esquecido intencionalmente pela paciente, não lhe convencia o fato de que tais acontecimentos tenham levado a paciente a histeria, e não a outra patologia. Sendo assim, após analisar o contexto, as cenas, e todo o relato de Miss Lucy, atentando aos mínimos detalhes, Freud sugeriu que Lucy estava, na verdade, apaixonada por seu patrão, o pai das crianças, ao que ela admitiu que sim, esta poderia ser a verdade, porém não havia comunicado tal fato antes pois não queria aceitá-lo e não o admitia nem para si própria, estava disposta a esquecê-lo por considerar não haver perspectivas ou esperanças para tal sentimento.
Após a esclarecedora descoberta e da análise que se seguiu a esta, era esperado que os sintomas desaparecessem e Lucy parasse de sentir o insistente cheiro de torta queimada, porém não foi o que aconteceu. A paciente continuou deprimida e alegando falta de vigor, o cheiro da torta desapareceu apenas parcialmente – passou a sentí-lo especialmente em momentos de agitação –, fazendo com que Freud continuasse suas sessões associando o trauma a outras memórias, o cheiro de torta queimada diminuía a cada nova conversa, porém outro odor característico passou a atormentá-la, o de fumaça de charuto. Sendo assim, Freud, insatisfeito com os resultados, prosseguiu com o tratamento.
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